“ Então minha alma, de remorso entrada,
“Dize” — replico — à sombra, a quem falava,
Que o filho inda entre os vivos tem morada.
Se presto lhe não disse o que exorava,
Da dúvida, que, há pouco, heis-me explicado
Pela influência dominado eu stava”. —
A Divina Comédia - Inferno - canto x
Anjo da morte, manifesto inequívoco na hora do perigo;
pertinaz nas ultimas dores como dádiva da despedida.
Venha e me abrace, brinde-me com esses ósculos frios,
dá que vislumbre a perspectiva dessa face inescrutável.
Se terrível aspecto, às almas faz tremer, tétrico-feroz,
não me alarma o beijo, nem a visão dos olhos que pérvios;
enigmáticas fenestras acenando as sendas d’um decesso,
permitem àqueles recônditos do exício no átimo alcançar.
Anjo da morte, aparição que a todos o corpo faz tremer,
venha a mim, atendo-o trazendo exortação do apocalipse.
Não me fará estremecer nunca a realidade da revelação,
plácido é que o recebo, como a uma visitação tão cobiçada.
Conforto-me, sempre arrazoei os mistérios, sem alvitres,
nessa chegada saberá mitigar-me n’alma paixões irosas.