Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, sou gazela devorada pelo apetite voraz da fera, sou a fêmea com os lábios borratados de sangue, caçando por mim.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, sou o pássaro que morreu de fome numa gaiola, a mão que se esqueceu do gesto.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, sou um mundo bárbaro, um sorriso por andaimes, uma escalada de morte, a guerra.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, explodem aviões por minha culpa, Deus é apenas uma ideia guardada num frasco. Caem torres gêmeas por afinidade.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, as criancinhas violadas são expostas em montras, os pedófilos crucificados em praças.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, as certezas são perversas mentiras, o amor uma espécie de prostituição.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, uma assembleia é uma reunião de bandidos, uma República uma burguesia descarada.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, sou abutre recolhendo as letras que sobraram da carcaça, uma labuta de morte pelo derradeiro pedaço.
Quando não me apetece escrever a ponta de um corno, descubro um vibrador na alma, um coito interrompido no mundo, e definho masturbando-me.