Como será se um dia eu for embora
e trocar eu e tu por uma caneta,
Quebrar promessas em cima da hora
em prol de uma maior paixoneta,
Como será se te puser numa gaveta
e só te usar quando me apetecer,
E cada gesto meu ser uma gorjeta
forreta que já não estou a querer,
Como será se um dia te vir sofrer
fechada no mais infame presidio,
E quando eu estiver a enriquecer
a nossa relação acabar em suicídio,
O dinheiro a causa do genocídio
mas devolvê-lo não te torna perfeita,
E poemas sejam o 'Isto só vídeo'
para deixar toda gente satisfeita,
Serei o homem que ninguém respeita
e o motivo de cada gargalhada,
E verei um insucesso que se deita
ao lado de uma mulher realizada,
Que me mantém uma porta fechada
até ao dia que a vida envelhece,
Quando podia ser estrela dourada
como o meu camarada Heduardo Kiess,
E que cada autógrafo me enaltece
deixando-me nas luzes da ribalta,
E ao longe mal ouvirei a tua prece
mesmo se a disseres em voz alta,
Serei o melhor que a poesia exalta
num primor que te deixa em tremor,
E quando sentires a minha falta
estarei a brindar ao meu valor,
Pinto o coração de uma cor incolor
para só tu veres a sua transparência,
E nesse dia a única prova de amor
que te darei será a minha ausência.