Uma Carta Atrasada Por Trinta Anos
Anseio que recebas esta carta, onde quer que estejas, sei que, demorei muito pra tomar a decisão de transpor a estas linhas meus sentimentos de amor por ti.
O objetivo desta não é pedir perdão, talvez eu nem mesmo saiba ao certo o objetivo real.
Só sei que senti necessidade de expressar o meu amor por ti. Um amor muito grande,
Na nossa separação, não tive chance da despedida, não tive a chance de te acalentar em meus braços, nem mesmo tive a chance de chorar toda a dor, de verter todas as lagrimas.
Naquele momento, eu te entreguei nas mãos de Deus, e me conformei, achando que era feita toda à vontade D’Ele. Então, te fostes sem despedida, e nem sei onde ficastes no seio da terra.
O tempo foi passando, a vida foi me transformando, e eu fui sendo remodelada, também acredito que o tempo, também, passou pra ti, e se eu fui crescendo, fui amadurecendo, talvez pra ti tenha acontecido algo parecido, numa outra nuance, numa outra dimensão.
Naquele dia que eu me senti doente, eu me preocupei mais contigo do que comigo.
Eu fui ao médico, pois acreditava que estava fazendo à coisa certa, eu estava febril, e eu sempre fui muito sensível, à esse estado chamado de febril.
Fostes comigo, porque, ainda naquele momento estavas completamente em mim.
Sendo tecido célula à célula em minhas entranhas, em meu coração, Já havias dado os teus primeiros movimentos em meu corpo e em minha vida.
Eu te amei, amei e desejei muito, ainda eras apenas um embrião ou feto? Nesse momento não sei dizer. Entretanto, eras pra mim, um sonho realizado de uma mulher...Ser mãe! Outra vez!
Já te imaginava correndo pela casa com teu irmãozinho, o Thalles, ainda não tínha escolhido o teu nome.
Só sabia, que, já existias em nossas vidas.
Fatídica hora que o médico receitou aquele procedimento, aplicar aquela injeção, pensando que seria bom pra nós.
Quando entrou em minha corrente sanguínea aquela medicação, e sofri aquele choque, senti que vibravas dentro de mim, senti, náuseas, suei aos cântaros, minha bexiga não segurou a urina, desmaiei, e pra minha maior dor, dias depois, soube que já não estavas mais ali comigo.
Foi uma difícil realidade de aceitar, porém, não querias te apartar de mim, e permanecestes retido em meu útero, teve que ser feita uma curetagem, e desde esse dia nos separamos. Não sei pra onde fostes, mas, quero que saibas, que, fisicamente nos separamos, mas, espiritualmente jamais. Pois jamais te esqueci.
Nesses últimos dias, tenho suspirado muito por ti, tenho chorado o que nunca chorei, tenho te amado mais do que jamais te amei.
Muito tempo passou, e senti a necessidade de te chamar pelo nome, então, te chamei de João, se eras um menininho, e Joana ou Joaninha se fosses uma menininha mas, o importante mesmo é que existiu um grande amor confirmado ainda hoje pela saudade que sinto em minha vida, pela tua ausência na minha vida física, porque sei que estás presente em minha vida espiritual pra sempre.
Mamãe, eu, sim! tua mamãe, saudosa mamãe, de um anjinho de Luz, que fez a minha vida iluminada, mesmo tenho ficado tão pouco tempo ao meu lado.
Deixou-te aqui, todos os beijos jamais dados, todos os abraços, todos os carinhos, e toda a minha ternura de mãe.
Só te peço que me aguardes, ao lado do Senhor Jesus, até que, me seja dado, a permissão de estar de novo ao teu lado.
Assinado, a mamãe de João, ou Joana ou ainda Joaninha.
Fadinha de Luz
Maria de Fatima Melo (Fadinha de Luz)