" - O que um dia fui quando vivo, continuo a ser, agora, morto! Júpiter pode perder as esperanças de vingança. Nem o raio com o qual ele me atingiu no meu último dia, nem estas brasas que ele agora lança sobre mim farão com que eu lhe dê o prazer de se ver vingado! "
A Divina Comédia - Inferno - canto xiv
as sombras caíram céleres sobre a cidade dos pecantes,
seguiram-se fúlgidas as labaredas sob ruidosos trovões.
Tudo que ali era vivente foi na língua de chamas lambido,
cessou de vez o que por vida normal era então entendido.
Sob as tantas pétreas lápides tomadas como trincheiras,
passou ali inexorável o tempo, implacável senhor da razão,
ressuscitando à guisa de almas embriões jazidos latentes,
poucos ainda que restavam alguns no fundo dos sepulcros.
Volveu o pesadelo, inabalável sonho negro de priscas eras,
flutuante enredado na neblina pairando sobre a necrópole,
aos passos temeram, enchendo espaços c’a voz já inerme.
Aqui, onde tudo um dia começou, neste alfa-amaldiçoado,
entendeu-se já o quanto morrer pode ser apenas difícil,
quando ora viver torna-se de resto e vez todo impossível.
[felizes os que apenas morreram
antes da nova vida ]