Cansei,
de torcer
o tornozelo
na calçada
esburacada
Cansei,
de torcer,
o novelo
da roupa
desfiada.
Cansei,
de torcer
o pano de chão
pra sujeira sair
Cansei,
de torcer
na fila do pão
pra padaria abrir
Cansei,
de torcer
na fila do banco
e ninguém furar
Cansei,
de torcer
na estação cheia
pra porta do trem fechar
Cansei,
de torcer
na entrada do coletivo
pra roleta não travar
Cansei,
de torcer
pro assento do idoso
o jovem sarado não ocupar
Cansei,
de torcer
pro futebol de pelada
movido a corrupção
Cansei,
de torcer
de ver estádios faraônicos
operários escravos sem ingresso
Cansei,
de torcer
de ver Estados falidos
governantes e empreiteiros rindo.
Cansei,
de torcer
por melhoria na educação
vendo professores sem valoração
Cansei,
de torcer,
por mudanças na saúde
vendo verbas tragadas pela saúva.
Cansei,
de torcer,
por tantas coisas,
que já não acredito no voto.
Cansei,
de torcer,
para que meu cansaço
não me impeça de sair deste bagaço.
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 26-5-14.
Imagem: Av. Pres. Vargas e Igreja da Candelária, grande passeata no RJ em 20/6/13.