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Retorno à copa de antes.
Antes que é como ontem
apesar de mais longe.
Dias tacanhos.
Hora de escrever poesia,
mas, vivê-la, sempre.
Poesia é dia, todos.
Hoje, ontem,
até os que não vivi
nem vou.
Nem vou falar das flores.
Não me digam que não falei.
Nem vou falar de dores
apesar de serem elas
matéria mole
de poemas.
O poema físico,
rígido, formal,
topográfico, e,
às vezes,
muitas vezes,
estúpido.
Ou ridículo,
como as cartas de amor.
O homem que passeia
com o cão
ama o cachorro.
Ostentam panças
e coleira
quando passam por mim.
Fantasiei-me árvore.
(cheira-me o cachorro).
Árvore que escreve
letras com folhas
e madeira-casca
dura,
grossa,
grafite.
Fito-os.
O cachorro
desconfia do disfarce;
É que
eu cheiro a mato
mas não árvore.
Capim santo.
A memória do cão
é da última árvore
que marcou com urina
e pensou
(Não!)
O cão não pensa nada
e existe.
Eu quem penso
que o cão pensa algo
enquanto mija.
Faço do cão homem
tanto quanto eu
ou o dono
que o tem em coleira.
O cão mal sabe
sobre ser de alguém
ou ter dono.
O cão só sabe a sina de cão
e de cheirar árvores falsas
e ter memórias de urina.
Antropomorfizo
o cão
ao falar do cão
porque amo o cão
e só quero amor
ou penso o amor
com a forma humana.
Se eu amo a árvore,
como poderá ela amar-me
em retorno,
se eu não pô-la homem,
humana?
Eu visto uma pele outra
na árvore.
eu a disfarço gente
e só assim
a amo.
No dia que disfarcei-me
árvore
foi pensando nisso.
Quis saber se,
eu,
enquanto árvore,
mesmo falsa,
sabendo-me gente...
quis saber se seria capaz
de amar-me,
gente-falsa-árvore
e os inversos.
Amar-me
até me acabar
de amor por mim.
Até que eu acabe
ou talvez me esqueça
no disfarce árvore
e talvez morra.
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