Agora que deixei os tigres lá longe
Com todos os mantos de neve daquele lugar
Poderei pedir então ao medo que se afaste
E que cuide de avisar quando de mim se lembrar
Já posso pontapear as pedras brilhantes ao sol
Revirá-las e expor suas partes húmidas
Onde bichos capazes fazem sua própria vida
Nas mil sombras escondidas desta clareira
Hei-de ditar ao burlão das horas mais felizes
Gritar-lhe mil vezes um grande aborrecimento
Para que ele não se esqueça que me bati
Também por um sonho igual aos dele
Secas, chuvas fortes, torrentes ou rios gelados
Movimento, quietude, imagem e palavra
Ideias bem contrárias mas todas em verbo
De sonoras raízes que me apegam à vida
Fui eu seu velho louco quem sorriu e chorou
Fui eu que em criança rasgou as calças nos joelhos
Quando jogava à bola e voltava a medo para casa
Ao outro dia ajudava a prima com o colar das flores
Por isso agora escreve tudo isto para mim
Obedece aos meus adultos e respeitáveis modos
“Minha vida é cinzenta, eu sou cinzento”
Escreve isso porque ainda não ouvi o medo…