SEGUNDA PARTE> FINAL!)
—Senhor Clemente, nunca em minha vida de sexagenário ouvi tantos insultos como os que o senhor me tem feito e, pior! Nos meus domínios!
—A maioria esmagadora das pessoas não gosta de ouvir a franqueza da verdade e a confunde com insultos, tudo o que lhe disse se refere às sentenças verídicas que a minha vida assimilou nos portais da existência.
Sou um pobre, contudo, a verdade não discrimina às castas sociais e dá a sua dádiva a todos, alguns nem dão pela mesma, outros, a ouvem e fazem “ouvidos de mercadores” e... Os mais sábios ouvem, praticam e a distribui gratuitamente!
Mesmo não sendo um sábio completo, me coloco no meio dos últimos, esperando que, um dia, seja acatado, compreendido e, principalmente, aceito como um “aluno professor dos seus meandros puros e sem mascaramento”.
—Há ainda esperança para mim?
—Claro! O senhor já deu, sem perceber, um grande passo, não para cima ou para baixo, mas... Para dentro de si mesmo!
Em pouco tempo aprenderá a viver harmoniosamente em duplicidade (matéria e espírito) numa cumplicidade voluntária para o seu bem e o dos outros que o cercam, ao final, verá que não estará sitiado e, sim, compartilhando com os demais e usufruindo a felicidade pura“.
—Se estou entendendo às “suas falas”, os meus primeiros passos foram ouvi-lo, conversar com você e permitir o relaxamento do tratamento a que tenho direito.
—Novo engano! O seu primeiro passo foi mandar chamar um Idoso para com ele conversar!
—Idosos nós temos em demasia em meus domínios e nem por isso me sentia melhor na “minha nostalgia rica”.
—A quantidade não é sinônima de qualidade, nem a fartura o é da felicidade.
Em tudo na vida tem que haver a cumplicidade voluntária (ou não), o que, na verdade, importa nos dando crédito, é chegarmos ao cerne das coisas que se nos apresentam, levando ou, chegando, com o nosso discernimento sem nos deixarmos envolver com o “lado negro das coisas” nem nos deslumbrarmos com as ‘luzes” ainda não desfeitas das “manchas e das sombras defectíveis”, resumindo:
Devemos deixar escorrer em nossa couraça impermeável de maturidade, às más ações e os maus procedimentos que firam o nosso código de ética, todavia, em contrapartida, inserindo em nós os elementos ou ensinamentos que nos façam “crescer” em prol da coletividade ordeira e cumpridora dos ditames da nossa moral ilibada, dessa forma, é como se “estivéssemos sem estar” ou “comparecermos sem compactuarmos com o mal” apenas o observando, analisando, assimilando e o projetando no deslize da nossa armadura em direção oposta à nossa caminhada pela vida“.
—Se eu o tivesse conhecido antes, o teria nomeado meu conselheiro ou encarregado de todos os meus negócios.
—O antes não existe! Ele foi amortalhado pelo presente e apenas reside num escaninho do tempo para servir de exemplo a ser seguido, ou não, e para consultas no momento atual ou para o futuro, além disso, não seria bom para o senhor ter um auxiliar ou conselheiro direto e próximo que não possa deliberar ou escolher os seus caminhos progressivos .
—Por qual razão?
—Pela minha “duplicidade” ainda em progressão à procura da união matéria/espírito.
Se fosse auxiliá-lo ou o aconselhar mais profundamente, teria que fazê-lo apenas com a matéria apoiada pelo espírito, a matéria o senhor entenderia, no entanto, agregado à ela estaria a influência do meu outro “Eu”: o espírito! e, este, o senhor não entenderia por não ter o seu, pelo menos, assemelhado ao meu, com isso, ao em vez de orientá-lo, acabaria por prejudicá-lo, justamente pelo fato da minha délivrance de sugestões não encontrar receptividade espiritual harmônica, isso dito, só poderia ser um orientador ou ministro quando o nosso espírito estiver próximo um do outro ou, ao menos, no mesmo patamar ou degrau de evolução e, para isso, ainda teremos que comer pelo menos meia saca de sais juntos “
—Pelo que entendi a respeito do que você está me dizendo, um homem “mau” não poderia ter um auxiliar considerado “bom”.
—Quase isso! No entanto, poderá ele ter um conselheiro ou orientador de moral ilibada, conhecimento sábio, maturo e gratuito, com isso, e, por isso, aos poucos, tal auxiliar iria lapidando a matéria bruta dele jogando fora às arestas e, dessa forma, inserindo no espírito do aprendiz um burilamento crescente até que o “homem mau” seja menos mau e mais justo, em razão do espírito não aceitar jaças sem discriminá-las, apenas deixando-as ”escorrer sem contaminá-lo.”
—O “Mau” pode tornar-se “Bom”?
—Sim e... Vice-versa! Tudo dependerá exclusivamente da aceitação ou da escolha, observe os exemplos a seguir:
- Santo Agostinho tornou-se bom por aceitar os ensinamentos bíblicos.
- Judas foi para o lado mau por ambição, ao se arrepender, optou, erroneamente, pelo suicídio ao em vez de pedir perdão.
- O rei David esteve no caminho do mal, porém, pediu perdão ao se arrepender, e o recebeu em abundância.
- Magdalena perambulou pela orgia e prostituição e foi perdoada tão logo se arrependera.
E, inúmeros outros exemplos que são do conhecimento popular.
Certa feita, Jesus disse que o único pecado que não seria perdoado era o cometido contra o Espírito Santo, numa afirmação clara e indiscutível da “divisão” ente Ele, o Pai e o Espírito Santo, todavia, dando naquela época do ensinamento, a precedência do seu espírito enquanto homem.”
—Se o tivesse conhecido antes de chegar a este belvedere de comando, na certa, amigo Clemente, eu seria imbatível!
— Ou... Nem teria chegado até aqui comandando e pisoteando os seus ajudantes e as outras pessoas!
Lembre-se de que quem o trouxe até este mirante foi apenas a sua matéria com alguns “respingos” do seu aturdido e atribulado espírito, que apenas o acompanhou por estar, como ainda está numa “solitária de clausura”.
Quando começou a subida, se a tivesse interrompido para dar ouvidos aos apelos do seu interior espiritual, certamente, seria um real vencedor e não estaria agora no desespero do “abandono tendo quase tudo”, todavia... Faltando o principal que é:
A distribuição da sobra aos mais carentes e da solidariedade com a sua família e com quem o ajudou a galgar os degraus até aqui.
—Então eu sou um caso perdido?
—Ainda não!
É bom lembrar-se de que ao Homem foi dado o livre-arbítrio e o tempo necessário para o arrependimento e a correção de atitudes erradas em direção do rumo que escolher: o Mal ou o Bem!
É só escolher e agir, mesmo que, para isso, tenha que se desnudar completamente dos bens materiais e até de alguns espirituais,
—O que não vejo não posso despir! Como irei desnudar o meu espírito?
—Você está em dúvida em razão de pensar que a visão do espírito venha da sua órbita ocular, quando, na verdade, isso seria impossível!
Ao espírito só se “vê” com o coração e com o cérebro, o primeiro, de forma dócil e complacente e, o segundo, com análises fidedignas e comparativas dos valores amealhados pelas “estradas da existência terrena”.
— Se eu não consultei nem dei pela presença do meu espírito na “subida até aqui”, haveria uma forma de ser corrigida àquela minha escalada afoita atropeladora e destruidora de obstáculos, com o fim de amenizar os desatinos que cometi?
—Só de assim ter se expressado, o senhor já está arrecadando “moedas de troca” e subsídios para tal mister, que, diga-se de passagem, é mais difícil de ser executado por ter que se livrar desta “roupagem” de poder, egoísmo e de orgulho e retornar ao sopé do que conquistara no atropelo.
Entretanto, a meu ver, o próximo passo a ser dado é aceitar o meu convite e passar alguns dias comigo no Vau, ou mais precisamente, na Ilha do Pagão, no meio do Jequitinhonha.
A minha casinha está sempre aberta a todos, principalmente, aos necessitados indecisos e, para o senhor que, no momento, é um “poderoso/ frágil,... amigo!”.
—Depois de cear comigo, você será levado para a sua casa por alguns dos meus ajudantes.
Amanhã mesmo, ao romper da aurora, lá estarei de “mala e cuia” como gostam de dizer os seus conterrâneos.
*
Naquele mesmo dia, após a ceia com Cosme, Clemente, a convite dele, dormiu no belvedere em um amplo quarto postado por detrás das cortinas, com Cosme dormindo em uma cama ao seu lado.
Todas as vezes que Clemente acordara atraído pelos ruídos de aves noturnas além da grande janela do mirante, reparou que o “Dono da Montanha” tinha um sono perturbado, resmungando algumas palavras desconexas e se revirando no colchão, algumas das palavras por ele ditas e compreendidas foram:
“... O seu único ponto fraco são os raios, ou, seriam os raios o seu escudo protetor e ponto forte?
... Ele é duplo unificado pelos raios, ou, os raios são quem o divide?
Clemente não teve nenhuma dúvida de que Cosme estava sonhando com ele, porém, não tinha como sanar as dúvidas das palavras ouvidas de Cosme, em razão dele próprio nunca ter entendido o seu relacionamento inconsciente com os relâmpagos, com isso, optou por praticar ioga e... Dormiu calmamente o resto daquela noite.
Na manhã seguinte, despediu-se de Cosme recusando uma escolta lhe oferecida e vários presentes, simplesmente, dizendo que gostaria de deslocar-se ate ao Vau por seus próprios meios e, também, alegando querer desfrutar das paisagens sozinho e sem os braços atulhados de presentes, dizendo ao Dono da Montanha que no sopé pegaria facilmente uma “carona” até à sua casa, onde ficaria aguardando ansiosamente a sua visita.
Após receber um inusitado e caloroso abraço de Cosme sob às vistas expectante de alguns dos seus auxiliares, se colocou “em campo” a arrastar às suas sandálias, contudo, com um deslocamento ereto e sem nenhum “titubeio físico” tão comum nas pessoas de idade avançada.
*
Chegando ao Vau, Clemente continuou com os mesmos hábitos, notando, satisfeito, que a sua casinha de quatro cômodos, sala, dois quartos e cozinha, estavam um “brinco”, toda arrumada e com tudo nos seus devidos lugares.
Recebeu inúmeras visitas com a maioria querendo saber dele o resultado da viagem forçada até ao Pico do Itambé, no entanto, sem ofender a ninguém, Clemente “falou sem dizer!” deixando-os sem saber quase nada da sua viagem até ao mirante de Cosme.
Acostumados com os modos e virtudes de Clemente, ninguém insistiu nas interrogações e saíram satisfeitos com o retorno do Idoso que, para eles, era o evento mais importante.
TRÊS DIAS DEPOIS...
Seu Clemente! Eu sei que o senhor está esperando uma visita de um seu amigo importante, por isso, fui até à sua casa na Ilha do Pagão para trocar a roupa de cama. Todavia, lá, eu encontrei uma senhora “estrangeira” que varria a sua cozinha e me disse ter achado a porta aberta, além de informar-me ser uma sua amiga, com isso e em razão disso, vim até aqui onde o senhor está pescando para avisá-lo.
— Fico muito agradecido minha amiga! Contudo, não estou esperando nenhuma visita feminina vindo de fora, assim, eu vou pescar dois piaus que estão à minha espera atraídos pela isca de coco ardido.
— Uai! Os peixes o esperam?
—Exatamente! Desde que saibamos do que eles gostam e tenhamos o cuidado de não os espantarem.
— O senhor não está preocupado ou curioso com a visita que o está esperando?
— Nem um pouco! Primeiro, por ter dito ser uma amiga e, segundo, por estar varrendo a minha cozinha, acontece, que os amigos não se preocupam com a demora do outro e, quem queira nos fazer mal, não iria varrer a nossa casa às vistas de outrem.
—Como sempre, o senhor deve ter razão... Até logo! E saiu justamente no momento que Clemente fisgava um peixe de regular tamanho.
*
Alguns minutos depois, com uma enfieira cheia de peixes, Clemente entrou em sua casa sem bater na porta que estava entreaberta.
No centro da sala estava uma senhora sexagenária com um lenço na cabeça, uma saia e blusa de tricoline gastas e um par de óculos grossos e de aumento, demonstrando ou querendo mostrar que sofria das vistas, calçava um par de tamancos de madeira com tiras de couro entrelaçadas sobre os pés.
Bom, dia! Cumprimentou Clemente, com a senhora balançando a cabeça como resposta.
Naquele meu pequeno guarda-roupa tem umas roupas minhas que servirão em você, apanhe uma calça, uma camisa e um par de sandálias e deixe de se “travestir” de mulher, meu caro amigo Cosme Alves!
—Como descobriu! Se nem os meus auxiliares mais próximos, depois que sai, às escondidas, do belvedere, o fizeram, limitando-se, alguns, a me tratar de “senhora”?
Os olhos são os espelhos da alma, quiçá do espírito, bem como da matéria orgânica, esses óculos me fizeram reconhecê-lo de imediato ao aumentar o tamanho dos seus olhos, além disso, não precisando dos óculos, você está praticamente me “vendo sem ver” e nem a enfieira de peixes que trago nas mãos você identificou, além disso, a amiga que me avisou da sua presença aqui, não se referiu aos óculos (que você retirara para varrer a cozinha) bem como, o fato dessas roupas femininas já terem caído em desuso há tempos, assim, para identificá-lo, foi um passo, ajudado pelo fato de só estar à espera, há mais de dois dias, do “Dono da Montanha”.
Depois de trocar as roupas, Cosme ocupou uma parte larga de um fogão à lenha enquanto Clemente coava um café para eles, sentando entre dois paus cujas pontas ardiam debaixo da trempe.
Cosme narrou para Clemente como fizera a viagem até ali, dizendo-lhe:
—Um dia depois da sua saída do mirante, resolvi descer a montanha escoltada por mais de seis homens da minha inteira confiança e armados. Tão logo iniciei a descida tendo às mãos beijadas e os meus passos sendo interrompidos a todo instante. Notei, estarrecido, que uma multidão vinha ao meu encontro e, no meio dela, notei alguns jovens com “olhares de ambição”, ocasião em que passei a imaginar que, no meio deles, poderia se encontrar o que você disse estar começando a escalada para o “meu” mirante.
Com violência, empurrei os meus auxiliares em direção da turba e recuei praticamente correndo para o belvedere protegido.
Várias vezes tentei descer e... Novamente recuei!
Ontem à tarde, me recordando dos seus conselhos, lembrei-me de que você me disse algo como “comparecer sem estar”.
De imediato, me camuflei com um vestido, blusa e tamancos que pertenceram a minha falecida mãe e que eu guardara como uma fugaz recordação coloquei os óculos dela e, aproveitando um ligeiro descuido da minha guarda pessoal, sai do mirante e me misturei com a multidão sendo chamado de velha, senhora, madame etc., dessa forma, fui descendo e observando ao derredor de mim e, na verdade, não gostei nada do que via, muito embora, isso só tenha ocorrido depois da entrevista que tivemos.
Antes, só tinha vistas para as grandezas e o luxo, com as suas aulas assimiladas sem deixar transparecer, muito dos seus ensinamentos calaram fundo em mim.
Eu o estive ameaçando de castigos e punições severas, todavia, o fazia apenas para observar a sua resposta pronta, franca e cheia de ensinamentos que nunca tive, nem na faculdade.
Sou um homem formado e literato, entretanto, desde a minha formatura, só tenho usado o “direito da força” a meu favor e, jamais, a “força do direito” em benefício dos outros, com isso, até há três dias passados, sepultara todo o meu saber didático, o qual foi libertado por você, um homem praticamente iletrado e pobre, contudo, possuidor de um saber digno de fazer inveja a maioria dos sábios que conheço e conheci em minha vida até então.
Obrigado! Continue por favor!
—Com prazer inusitado e nunca sentido antes desde a minha juventude.
A cada degrau que descia do meu domínio, via absurdos inconseqüentes e que nunca dera por eles, tais como:
Abusos execrantes dos meus ajudantes mais “graduados”, numa pressão de cima para baixo sem dar o direito de defesa aos seus subordinados e, por via de conseqüência, também meus.
Confrarias, conchavos, desídias e insurreições, ainda desarmadas, dos subalternos nossos.
Assassinatos (ou notícias verbais deles), furtos, roubos, latrocínios e estupros por todos os lados que a minha vista material alcançava.
Cobranças de propinas acumulativas e seqüentes de “tudo”, inclusive da água e do ar mais puro.
Sexo livre, drogas, armas, munições, pornografia física e mental por todos os meandros, encostas ou vertentes da “minha” montanha.
O dirigente deles, no caso eu, sendo chamado pela minoria de “Sem nome”, do qual me penitencio por ter escondido de todos o meu nome verdadeiro optando pelo pomposo de “Dono da Montanha”.
A miséria campeando, ou melhor, escorrendo pelas encostas e, como sempre ocorre, sedimentando-se sobre os miseráveis do sopé árido ao redor da montanha.
E muito mais absurdos que não vou relatar para não o incomodar, porque você também deve ter observado ao subir e descer da montanha.
Tudo isso em menos de cinco horas das nossas vidas que, juntas, têm mais de um milhão, seiscentos e sessenta mil e quatrocentas horas.
Com tal constatação, meu amigo Clemente! Comecei a entender melhor os seus ensinamentos de um só dia, e, também, cheguei à conclusão de que o meu sofrimento de “nostalgia de rico” era uma gota d’água no oceano das intemperanças que ocasionei com a minha subida ao poder da forma em que a pratiquei por vários anos.
—Meu amigo Cosme, se me permite assim tratá-lo doravante...
— Permito e com prazer!
—Não seja muito rigoroso consigo mesmo, use a “força” da sua iniciante regeneração como o fez Santo Agostinho, pois, se aprofundar a caminho da decepção do “pensar e recriminar-se sem nada produzir de útil para si e para os outros” poderá cair nas mesmas malhas que prenderam e eliminaram Judas, referido na bíblia sagrada.
O que lhe disse no mirante foi apenas uma “faísca” desprendida da minha matéria e iluminada pela minha maturidade somada ao meu espírito.
Só, que, a matéria eu a controlo ou simplesmente ignoro as tentações e os seus reclames constantes, mesmo ela sendo assediada pelos maus exemplos que, com simplicidade e respeito... ”Faço ouvidos de mercador!”
Nada mais fiz a você do que lhe apresentar uma demonstração das quiméricas ilusões do “Mal”. Ilusões essas que venci há muitos anos, ou, precisamente, quando fugi do “néon” das luzes dos grandes centros para onde muitos vão com a desculpa de arranjar um bom emprego, o qual, apenas serve, na maioria das vezes, para acobertar os desejos volúveis da matéria em detrimento do espírito.
O homem só será perfeito, ou quase, quando aprender a unir a matéria ao espírito sem o uso irregular da autodeterminação e estar sempre de plantão para ajudar aos outros, ainda leigos dessa quase beatificação voluntária e sem aparato.
Não podendo efetuar tal mudança, devemos procurar, incessantemente, estar perto dos “menos maus” e longe dos “mais maus”, todavia, sem discriminá-los, ao contrário, tentando extraditá-los com fins pacíficos e não punitivos para o lado da luz da razão e da distribuição dadivosa.
Nós temos ao nosso redor tudo do que precisamos.
É só olhar com os olhos do coração e da mente próxima da perfeição, que a solução aparecerá radiante mesmo recebendo “sombras” dos devassos e dos aproveitadores truculentos, “renitentes em nos acompanhar nessa viagem espiritual”.
Antes do nosso encontro, o senhor era um poderoso a cobrir a todos com a sua sombra, vendo tudo do alto sem participar das alegrias e dos sofrimentos, contudo, fazendo mais sofrer do que dando felicidade a outrem. Foi necessária uma “faísca atrevida” partindo de um Idoso, para que o senhor abrisse os “olhos do seu coração” que ainda não estava de todo epidermido e, assim, começou a vislumbrar a “luz”, não da janela do seu belvedere, porém, do fundo da sua mente já coligada ao lado bom do seu coração.
— O senhor está sendo muito generoso comigo, muito além do que mereço e o agradeço pela gentileza.
—Não é generosidade Cosme, é premiação merecida!
Sei muito bem das dificuldades pelas quais você está passando nestes últimos dias, não é nada fácil deixar de ser “crista” para tornar-se “papo” com o predicado especial de assim se transformar voluntariamente e sem nenhuma coação, a não ser da poderosa arma invisível que é a “palavra!”.
— Bem... Vamos mudar um pouco de assunto, estou com uma imensa vontade de conhecer o seu “pesqueiro”, meu amigo Clemente.
—Meu caro Cosme, acredito que você expressou oralmente o que, na verdade, não deseja, ou seja : que mudemos de assunto !
Se isso ocorrer nesta fase do nosso relacionamento, tudo o que conseguimos principalmente você, ruirá por terra e, assim ocorrendo, nenhum liame nos restará, voltando você a ser o “Senhor ou Dono da Montanha” e eu, um pobre Idoso caipira.
—Meu Deus! O senhor lê e interpreta os meus pensamentos!
—Nada disso! Apenas usei o meu poder de observação e avaliação.
No entanto, vou atender a sua segunda solicitação, porém, desde já, devo lhe dizer que o meu “pesqueiro” é igual a inúmeros outros e nada mais é do que a “casca das frutas” das quais lhe falei no belvedere.
— Não entendi!
—Você esta “comendo pelas beiradas” como dizem os mineiros, só, que, se ficar na periferia para sempre, não ficará conhecendo e participando das vantagens do conteúdo.
No presente caso, o “pesqueiro” nada mais é do que o local em que colocamos os nossos fundilhos e nos acomodamos com o material apropriado para a pretendida pescaria:
É, simplesmente, a... Casca!
O que vale são as circunstâncias seqüentes visando a coleta dos peixes e, principalmente, como fazê-la adequadamente, além de nos instruirmos com as vantagens advindas da pescaria e que já lhe contei à respeito no mirante, delas, a principal, ao meu ver, é a paciência da espera e a união da matéria/espírito com a natureza.
—Gostei da sua explanação, no entanto, sem querer altercar com o amigo, observei uma controvérsia em sua informação.
—E qual é ela?
—Ao dizer que os mineiros “comem pelas beiradas” e que é errado só ficar na periferia sem poder usufruir as vantagens do conteúdo, você está se desdizendo em razão de me ter dito não ter ido para os grandes centros populacionais, com isso, ganhando a sapiência e a maturidade plena na periferia do Vau onde apenas se alfabetizou. Dessa forma, disse, com todas as letras, que levara vantagem em não sair da “casca” ou dos arrabaldes e, agora, me diz que ficando nos arredores estarei perdendo o “cerne” ou o conteúdo, como me explica essa discrepância?
—Facilmente! Não pressinto existir nenhuma aberração ou controvérsia em minha informação mais recente, nem ela entra em colisão com o que lhe disse antes, a confusão que o está acometendo é em razão de você ainda não ter aprendido às minúcias da “duplicidade”.
Quando lhe disse das vantagens magníficas que recebi e que me deram lastro para prosseguir pela vida a fora de forma condizente e ilibada, por não ter-me deixado fascinar com as “luzes” dos grandes centros. Referi-me ao meu lado espiritual duelando com a matéria, esta, querendo o luxo e o esplendor e, o meu espírito, o conhecimento total (ou quase) e repleto do entendimento pacífico comigo mesmo e com os meus semelhantes.
A matéria não poderá nunca vencer ou dominar o espírito, a origem e os desejos de ambos são incompatíveis entre eles.
A matéria, por um tempo fugaz, poderá e deverá reter o espírito, entretanto, ele sempre se liberta por não ser putrefável. Todavia, apesar de “preso pelo mais fraco”, o espírito dos “iluminados” sempre encontra uma maneira de influenciar a matéria para o Bem ou para o Mal. Intrometendo-se em suas decisões ou passando a conviver ao lado dela sem assimilar totalmente os seus engodos e “juízos falhos”, como é o meu caso, ou seja, utilizando a duplicidade controlada por mim, enquanto matéria, porém, não me deixando levar pelo lado negro ou das sombras das tentações das “margens” das venalidades corriqueiras da matéria.
Pelo menos, acho que tenho conseguido essas vitórias ou conter o Mal, que, está, esteve e sempre estará em todos os homens personificados pela matéria.
— Credo! Nem na faculdade encontrei quem me desse uma aula filosófica ou espiritual tão esmerada e completa como a que recebi de você Clemente.
—Muito antes dos estudos, dito superiores (ou não), da ciência, matemática, cibernética, teologia etc. o “Criador de todas as coisas” separou às águas e nos deu uma natureza esplendorosa. Verdadeiro laboratório natural de tudo o que o homem viesse a precisar para “passar” os seus dias ao lado dela em harmonia, inclusive, deu ao homem uma arcada dentária com forma e adequação apropriada para se alimentar apenas dos frutos e das folhas.
Os homens, esses eternos insatisfeitos! Tão logo ocuparam este planeta e milhares de outros ainda não descobertos por nós, se intitulou como “dono de tudo”. Porém, destruindo quase tudo e passando a se alimentar de carne e a consumir a fauna, flora, animais e às águas, inclusive as salgadas. Com isso, deram uma pincelada negra na sua tela límpida e brilhante de vida, só não destruindo tudo (ainda) por ter dentro de si o espírito (bom ou mau) que sempre influenciará as atitudes animalescas do seu carcereiro, o mesmo ocorrendo com os que tenham boa índole, por isso, ainda existe no universo certo equilíbrio.
O “Criador de todos” não quis discriminar, permitindo que todos nós tenhamos entre nós os Maus espíritos para dar razão e valor aos Bons e na tentativa de que o próprio homem encontre um “funil” por onde poderá passar a matéria e o espírito em direção de uma saída para o paraíso ou... Para o abismo!
— Se é assim! E eu acredito que o seja, desisto de tentar conhecer o seu pesqueiro por entender que ele seja apenas a “moldura que contorna o quadro”, este, aqui representado por você com às suas palavras e ensinamentos dignos da produção e criação de um “Leonardo da Vinci” ou de um mestre lapidário retirando às arestas e as jaças das gemas.
—Agradecendo os seus elogios, devo ainda dizer a você que a oratória é a arma mais complexa, pacífica e, também, belicosa, do universo, ela é, ao mesmo tempo, conciliadora de todos os eventos humanos, no entanto, Ela também atua em “duplicidade” e serve igualmente ao “Bem” e ao “Mal” com a especificação de não ter matéria, alma ou espírito.
Sendo tão poderosa, a oratória é apenas um sopro propelido com som audível ao ouvido que por ele possa interessar-se, entretanto, o que o ouve deverá saber interpretar a oratória que lhe chega pelo sopro, usando, para tal, à sua duplicidade espírito/matéria. Para, só então, acatá-la e aceitar às suas emanações, ou, renegá-la e deixá-la escorrer na sua “capa de indiferença e de desdém”.
O Homem que ainda não se encontra no “beiral do abismo”, mesmo sendo uma pessoa que tenha errado bastante, contudo, ainda tendo uma “faísca” de bondade em seu coração e um espírito não totalmente submisso ou acorrentado aos prazeres da carne, poderá receber um dos “sopros oratórios” e permitir que ele avive a faísca latente, assim acontecendo, poderá ocorrer um lampejo da sua luz interior pela ação externa da oratória benigna que lhe chegar ao sopro em coligação com os impulsos do seu espírito prisioneiro dele próprio, esse clarear repentino da sua faísca tem a capacidade de afastar do seu íntimo ás incongruências sugestionadas pela matéria, isso ocorrendo, acontecerão o enfraquecimento da “carne” e o renascimento ou reaparecimento do espírito que, ainda prisioneiro, terá o poder inconteste de definir as atitudes a serem seguidas, eliminando às arestas pusilânimes e perpetradas para o lado mau das coisas.
Se, pelo contrario, ouvir, receber e aceitar o “sopro” do lado “Mau” estará, a cada dia, colocando o seu espírito na “solitária” e falseando os seus pés a caminho do abismo sem o retorno à luz da legalidade e da placidez da felicidade.
— A minha “faísca” foi ativada por você?
Meu amigo Cosme! Você sabe que sim! E ela só o foi por sua própria iniciativa e vontade ao convocar um “Idoso” para conversar num dos seus momentos de desatino existencial.
—Isso quer dizer que todos os homens maus poderão se regenerar ou serem perdoados por sua própria iniciativa e vontade?
—Em parte!
—Como assim?
Se fosse possível o perdão a todos, não haveria razão de ser da existência do “Abismo, Inferno, ou Céus” ou uma punição pelas “culpas humanas”, todavia, todos os homens em erro tiveram, por diversas vezes, oportunidades e sugestões dos seus espíritos (ou almas) bem como, manifestações externas, no entanto, não as interpretando ou acatando, acabaram (ou acabarão) falseando os pés (ou o coração) e se projetando, por impulsão própria conseqüente dos seus atos maus, no Abismo onde só ouvirão choros e rangeres de dentes!
—Pode dar-me alguns exemplos desses “infelizes das margens”?
—Eles estiveram e estão ao nosso redor ou no âmbito do nosso conhecimento global ou interplanetário, e são... Incalculáveis! Dentre eles, vou citar apenas alguns:
“Cain”, “Herodes ““ Nero”, “Gengis-Kan”, “’Atila”, “Hitler”, “Osana Bim Laden” e alguns mais recentes governantes de um grande país ao norte que se auto-intitulam de “Falcões!”(para mim urubus!).
O seu proeminente, para mim apelidado de “Arbusto”, que destruiu dois países, o primeiro, para tentar (sem conseguir) prender e matar apenas um homem e, o segundo país, para roubar o seu “ouro negro” do qual estava em falta.
Tanto esse dirigente quanto o seu inimigo (que ele perseguiu, sem lograr êxito), destruiu um pais e matou muitos seres humanos inocentes) ainda estão vivos com os seus espíritos na “solitária” das suas carnes quase putrefatas, todavia, como o poder de Deus é imensurável, inenarrável e não pode ser medido por nós, Ele poderá colher onde não plantou e perdoar a quem queira e quando quiser, com isso, pode ocorrer desses personagens em erros crassos vierem a receber a visita de uma “criança” ou de um “Idoso”, Deus é quem escolhe os seus mensageiros, e, acatando ou aceitando os conselhos propelidos a eles, naturalmente receberem o perdão e se corrigirem antes de caírem no abismo que eles próprios cavaram.
O TAMANHO DA CULPA É, E SEMPRE SERÁ! MENOR DO QUE O PERDÃO DIVINO.
—Estou numa dúvida incessante a me consumir a razão.
—Qual é ou quais são elas?
—Como pode haver um perdão meritório para pessoa ou pessoas que ceifaram muitas vidas humanas e destruíram várias propriedades alheias além de contaminarem a natureza e os seus habitantes com gazes mortíferos e até urânio dito “empobrecido”?
—Acontece que o perdão, apesar de ser abrangente, não isenta a reparação dos danos aos bens materiais, nem alivia a penúria pelas vidas eliminadas pelo beneficiado dele.
O perdão vai direto ao coração e a alma ou espírito e, estes, aliviados, atuam diretamente contra a matéria e a inteligência do “carcereiro” forçando-o a ressarcir “Tim por Tim” tudo o que destruiu desnecessário ou injustamente.
De “carcereiro”, a matéria do anistiado passará a ser conivente consigo mesma por não lhe restar mais nenhum resquício do “mal” anteriormente praticado e por ele abandonado de forma voluntária e apenas sugestionado pelo emissário, ao qual ouviu e acatou.
Livre das “tentações das margens agnósticas” o ser novo e perdoado, só terá a felicidade plena da “alforria” conquistada quando puder, em comunhão com ele próprio, olhar para todos os lados, inclusive o interno, e não ver ou pressentir quaisquer reclames de pessoa ou pessoas que, anteriormente, nas “sombras do mal”, causara prejuízo de qualquer espécie. Quando, então, estará sempre disponível a ressarcir os seus erros praticados e a distribuir às suas posses, inclusive as espirituais.
Se não conseguir quitar a dívida na atual fase, na certa, o fará na próxima vida e de forma abundante com sobras aproveitáveis.
Perdoado, o humano viverá a verdadeira vida para a qual aqui fora colocado pelo “Criador de tudo”, mesmo ainda estando em débito pelo mal anteriormente praticado.
O seu futuro destinar-se-á ao pagamento voluntário dos seus erros anteriores ao perdão recebido. O que lhe abrirá às portas da felicidade pela comunhão do seu corpo físico com a sua alma/espírito sem embates internos que só o dividia em si mesmo sem nenhum reflexo externo a não ser a volúpia anterior da conquista para ele próprio, porém, de forma antagônica ao bem comum dos seus semelhantes.
Resumindo...
Será um Homem verdadeiro e individual, portanto, Uno para o bem estar seu e dos outros!
— Eu tenho a certeza de que você é Uno! Explique-me por qual razão se apresentou a mim como se estivesse em “duplicidade”?
—É muito simples! Quando um professor vai ministrar aulas aos iniciantes ou aos analfabetos, ele deverá saber apenas “um pouco mais” do que os seus alunos para se interagir com eles. Caso contrário, sendo um “PHD”, cientista em letras, na cibernética, matemática quântica etc. acabará por confundir os que estão começando o saber das “primeiras letras”, tendo, tal professor um conhecimento profundo e, portanto, emitindo os “sopros oratórios sapientes”, fruto do seu aprendizado superior, todas às suas aulas acabarão sendo ineficazes ao extremo, ou seja:
Não conseguirá fazer os neófitos se interessarem ou apreenderem pelo “atropelo das novidades desconhecidas” para eles, será como cimentar o lodaçal de maior volume em relação ao cimento utilizado ou... Pregar no deserto das mentes ainda incapazes da assimilação das aulas simples em argamassa com o saber adiantado do professor!
Para se instruir a alguém, principalmente aos renitentes, dever-se-á “ir a eles com a intenção de trazê-los para nós”. Assim agindo, me dividi em matéria e espírito, ficando na duplicidade a maior parte do tempo da minha oratória feita a você, que, no nosso primeiro encontro, era um neófito quase que total dos conhecimentos espirituais mais profundos. Entretanto, como a sua “faísca” ainda tinha uma luz bruxelante “atolada” na sua matéria, com isso, e por isso, consegui avivar à sua chama e, hoje e agora, posso dizer-lhe que estou aqui me apresentando como “UNO” até uma próxima missão à procura, ou procurado, por outro “Dono de Montanha ou de qualquer outra coisa!”.
—Estou satisfeito, ou melhor, eufórico! Com tudo o que me fez enxergar, no entanto, me vejo preocupado com duas coisas, a primeira, é se fui perdoado e, a segunda, qual é a forma com que pagarei pelos meus erros praticados no atropelo quando da minha subida e estadia ao cimo da montanha?
Você mesmo achará a fórmula e às respostas para essas dúvidas, no entanto, vou lhe dar mais algumas noções:
Consultando o seu coração, unindo-o à sua mente ou inteligência e ao seu espírito, sentirá e saberá se foi perdoado integralmente, isso será um instinto de foro intimo em comunhão com a divindade ou o “Criador de todos nós, inclusive dos maus”.
Para ressarcir os seus erros anteriores, primeiro, deverá reatar as ligações fraternais com os seus filhos e demais parentes, não de forma material, que é secundária, mas, com o coração, ora moldado pelo seu espírito e entendimento lúcido da clarividência do bem.
Depois dessa reunião harmônica e homogênea com os seus familiares, você deverá retornar ao rés-do-chão dos seus domínios e recomeçar a nova “subida”, desta feita, fazendo exatamente o contrário do que fizera no início da sua escalada possessória.
A forma e o modo de ”como, por onde, quando e para onde fazer” você deverá deixar a cargo dos seus novos sentimentos que eles saberão orientá-lo corretamente.
Se, na subida, encontrar resistência dos demais, sejam eles quem for em número e sugestões diversas, pare, analise e...atue! Lembrando-se, todavia, que deverá estar “unificado” para tal decisão e que, às vezes, um breve recuo poderá nos dar o impulso necessário a conseguir o mister pretendido. Eliminando o interesse monetário ou capitalista monetário ou o do poder terreno, você deverá deixar “escorrer no seu descaso completo” essas mazelas, isso será uma arma potente de convencimento aos que você prejudicou anteriormente.
Se, no trajeto da “nova subida”, se encontrar com alguém que esteja tentando seguir os seus anteriores passos, não fuja dele, contudo, também não se coligue a ele.
Deixe-o pensar que a escalada está sendo facilitado pela sua desistência, com isso, talvez mais adiante no tempo, ele virá a vencer ou cair no abismo ou você mesmo poderá vir a ser um “mensageiro” tentando ensiná-lo na retrocedência ao sopé como estará acontecendo consigo.
O importante é sentir-se feliz na sua nova jornada inversa e, se não conseguir chegar ao topo da montanha corrigindo todos os seus erros, pelo menos, estará feliz com o que conseguir e terá de volta o aconchego da sua família e de amigos novos que não serão seus bajuladores ou interesseiros e, sim... Admiradores!
—Deverei abrir o meu “cofre” no belvedere para esta minha nova missão refazendo os meus erros do passado?
Jamais! Quando você arrecadou àqueles bens materiais eles foram frutos dos seus erros e estão maculados pelos desatinos que praticou.
Você deverá encetar a caminhada regeneradora e saneadora exatamente como a começou, ou seja: sem nada!
Se conseguir chegar novamente ao Belvedere saberá o que fazer com o dinheiro e, garanto que não o esbanjará!
*
Dois dias depois, demonstrando uma alegria imensa e incontida, Cosme se despediu de Clemente no meio de uma multidão de vauenses e não perdia nenhuma oportunidade de dar o seu nome à todos, mesmo que não fosse perguntado, sempre dizia:
O meu nome é Cosme Alves, um seu criado!
Ao sair em direção da “sua” montanha no Itambé, Cosme disse a Clemente que iria até ao mirante com a mesma roupa com a qual descera e que, no dia seguinte, desceria em direção inversa ostensivamente. E, a cada passo dado, iria se despedir dos seus auxiliares os dispensando sem agradecer a ninguém, isso só correria quando retornasse na nova escalada, se o conseguisse.
Dizendo, também, que, às escondidas, vira o “pesqueiro”, ao que Clemente o informou:
Escondido dos outros, porque eu me encontrava detrás de uma moita próxima a vê-lo, e observei que você se portara igual a mim em relação à pescaria e os predicados advindos dela.
*
Ao final daquele dia, Cosme chegou ao belvedere depois de passar despercebido por todos, inclusive pela sua guarda pessoal, que fora avisado por ele, através de um bilhete, de que se ausentaria por uns dias para “local incerto e ignorado”.
Tão logo retirou o vestido de sua falecida mãe e se vestiu normalmente, a primeira coisa que fez foi raspar cuidadosamente a aureola ao redor da figura de são Cosme, deixando-a idêntica a de são Damião.
Chegando a grande janela que descortinava o amplo horizonte, viu que uma grande tempestade estava se formando pros lados do Vau com nuvens públeas e nimbóticas “pesadas” e alguns relâmpagos, dos quais só via os clarões dado à distância do que estava observando em relação ao seu mirante.
De repente, teve um sono repentino e imaginou que fosse ocasionado pelo cansaço da viagem e a subida da montanha, com isso, deitou-se cedo, contudo, pelas frestas da cortina do seu quarto, via o brilho seqüente dos raios distante... Acabou dormindo a “sono solto”.
“EU ESTOU INDO PARA AS ESTRELAS! CUIDE-SE E CUMPRA O QUE O SEU “NOVO” E REGENERADO CORAÇÃO O DETERMINAR!”.
Acordou sobressaltado! Era a voz inconfundível do Idoso Clemente em sua cabeça e consciência, disso não teve a menor dúvida!
Levantou-se e foi até a grande janela, vendo que toda a tempestade estava concentrada exatamente no rumo da ilha do Pagão no Vau, no entanto, ela já estava desvanecendo e os raios diminuindo.
Retornou para a cama e dormiu placidamente e sem sonhos.
Quando acordou pela manhã, estava cheio de vigor e tendo a convicção de que nunca antes conseguira dormir com tanta tranqüilidade.
Iniciou os preparativos do “desmanche” das suas coisas e se organizando para a descida até ao sopé para, então, retomar a subida do “desmonte” de todas às más ações praticadas no passado. Com isso, demorou cerca de quatro horas, ocasião em que um seu ajudante bateu na porta e foi introduzido no mirante, se comportando de forma respeitosa e perguntando a Cosme quando lhe seria servido o almoço.
Maquinalmente, Cosme lhe disse que almoçaria dentro de uma hora e o ajudante iniciou a retirada, contudo, parando no vão da porta, perguntou:
—O senhor já soube do que aconteceu com o Idoso, no qual demos um banho e o senhor o recebeu por algumas horas?
—Não! O que houve? Interrogou Cosme quase perdendo a voz e o controle emocional.
—Um motoqueiro que percorre a região recolhendo e fazendo loterias, indo e vindo à cabeceira do Jequitinhonha, trabalhando na zona comercial desta montanha, chegou hoje de manhã contando a todos os presentes o seguinte:
“Transcorreu no início da noite de ontem, no Vau, uma forte tempestade com muitos raios e chuva forte, entretanto, somente caíram três raios numa casinha conhecida como a “Casa do Idoso Clemente”! Na Ilha do Pagão.
Passada a tempestade, descobriram que a casa do Idoso simplesmente volatilizara ao receber os raios e, o mais estranho disso tudo, foi o fato de todas as paredes, madeirame e telhas terem se transformado em pó, todavia, a cama com os lençóis, cobertores e colchão permaneceram ilesos no meio da destruição, não tendo sido encontrado o habitante da casa em nenhum local. Um vizinho dissera que estivera com o Idoso uns minutos antes da tempestade e, ao despedirem-se, ouviu Clemente dizer:
“Vou dormir como sempre o faço quando chegam os raios!”.
Cosme agradeceu a informação dada pelo auxiliar e o dispensou.
Apesar de um pouco triste, Cosme sabia, por premunição, de que o seu Idoso amigo tinha ido para as estrelas como fora por ele avisado, agora, a ele, só caberia seguir os ensinamentos recebidos do seu “Anjo Clemente” e, assim o faria, sem titubear de forma alguma.
*
Lazhmair vitgrh veezr !
—Não entendi!
Bzilrth ilyhz is thebtir!
—Lusmar! Quantas vezes já lhe disse para usar o tradutor no seu relógio de pulso, essa sua “língua” de Luz-Alfa eu quase não entendo a não ser alguns vocábulos.
—Desculpe-me! Disse Lusmar, acionando um ínfimo botão no seu relógio.
Acontece, meu marido Lasmar, que você buscou-me em Lux há apenas um ciclo, após o nosso casamento lá, onde você era um cônsul dos Veneráveis Sabrina e Daniel e, estando nervosa, usei, sem querer, o dialeto do meu povoado naquele planeta “pulmão” da constelação Voyage.
—O que colocou você tão nervosa? Tal atitude não é comum em seu planeta de origem, onde os habitantes são hipercontrolados em razão da abundância de oxigênio puro no ar.
—Venha até a nossa cama suspensa e olhe onde eu me encontrava deitada, com medo da tempestade magnética que ainda está ocorrendo nesta parte ocidental de “Primus”, seu planeta, e agora, meu por adoção.
Lasmar acompanhou a jovem esposa e parou estarrecido ante a grande cama suspensa do piso por um metro.
Encostado entre os travesseiros do casal estava uma linda criança do sexo masculino completamente nu e sorrindo...
BEM!... ESSA É OUTRA “ISTÓRIA” QUE SERÁ COMPLETADA POR MIM, CASO OCORRA À ACEITAÇÃO DA IMEDIATAMENTE ANTERIOR, DENOMINADA DE O “IDOSO E A MONTANHA!”
Coronel Fabriciano-MG.
S.A. BARACHO
Fone 0 (xx) 31-3846 6567.
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