Senhor!
Quero entender as palavras que tu escreves, mas não consigo...Fico a pensar nelas, durmo com elas, mas elas continuam a ser uma incógnita para mim como se de estranhos se tratassem... Elas não são iguais? Não falamos a mesma língua? Sim, mas não falamos a mesma linguagem, não temos a mesma sensibilidade, o mesmo tacto com as palavras... Eu deparo-me com elas a desafiar-me e tu é que as desafias...
Talvez seja a grande diferença entre nós. Enquanto eu as tento conhecer, elas a ti ousam conhecer o desconhecido, fazendo de ti misterioso e ao mesmo tempo sábio! Recorro-me do meu vocabulário, que, por sinal, não é vasto, nem tão rico, para te poder descrever mas fica sempre algo, reticências pelo meio, pontos de interrogação que fazem parecer um labirinto que onde só se sabe a entrada e a saída é algo que não existe! Perdoa-me por não conseguir manejar, reformular as palavras... Porque sempre me sinto vazio quando tento que elas sejam minhas, só minhas. Já basta ter-te partilhado, não poder ter-te junto a mim nas noites frias que a minha cama chama por ti e tu não estás. Já basta ter que sofrer em silêncio, soluçar em cima de uma almofada molhada. Levantar-me dessa cama e ir ver a lua, esperando que ela me dê um sinal de ti, que por mais pequeno que fosse já seria melhor que esta angústia. Deparo-me a tentar alcançar nas palavras o que em ti não consigo, preciso de te ouvir chamar por mim, ter-te junto a mim pela última vez para te dizer as palavras certas...
Sinto que partiste, porque sinto que aqui já estiveste, em pleno sortido das máscaras escondidas em que rodeávamos o tempo para podermos viver um para o outro… e agora, de tão confuso, de tão debilitado estar, já nem sei se foi ilusão ou um passado desejado…
Questiono-me. Questiono o meu Universo na busca da solução para o meu sofrer, para que consiga amainar a dor da tua ausência. Sei que nunca virás!
Guardo os papéis que são bocados teus, decorei frases feitas que tanto usavas nessa vida prática que sorridentemente levavas… Sim! Sonho em ser igual a ti!
Em criança eras a minha referência, como os anos passaram encontrei, pelo labirinto da vida, outras pessoas e em outras escritas descrevi-me fascinado pela herança que recebi.
Sabes Pai, quando a noite cai sinto-me outra vez aquela criança com quem brincavas, a quem davas tantos mimos.
Nessas noites de solidão em que o sono me foge, agarro-me a ti e desejo-te de volta, recorro aos teus escritos, para te sentir, para te ver e para que consiga chegar a cada mensagem tua.
Quero entender as palavras que escreveste… mas não consigo!
Paulo Afonso & Le Tab