Poemas : 

Canteiro

 
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Quando eu morrer,
não me cubram de flores nobres,
nem exuberâncias de versos,
nem frialdade de mármores...
Quando eu morrer,
aconcheguem-me de terra boa,
replantada de uma vinha qualquer
do meu Douro abençoado...
Demarquem-me a campa rasa
com pedrinhas soltas de xisto
e deixem as chuvas afundar as estrelas
que o vento há-de trazer nas asas
e as sementes que os passarinhos
hão-de trazer no bico
até ao meu palmo de céu,
feito de terra boa,
com memória de vinhas e olivais,
de papoilas e madressilvas,
de malvas e margaridas,
de prímulas e frésias...

Quando eu morrer,
tragam nas mãos flores silvestres,
miúdas e frágeis,
não temam vê-las morrer-vos nas mãos,
porque, como elas,
a vida não dura mais que um momento...

e deixem-nas ficar comigo,
pálidas e sem viço,
porque o milagre das sementes
fica com elas...
e os seus perfumes
na memória que levarem de mim...

Quando eu morrer,
que seja inverno,
para que o meu palmo de terra
tenha tempo de se cobrir de flores,
em nascendo a primavera...




Teresa Teixeira


 
Autor
Sterea
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1739
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/05/2014 22:20  Atualizado: 19/05/2014 22:20
 Re: Canteiro
Eu gosto tanto! tão belo, tão m(eu) parabéns, lindo!

Enviado por Tópico
RaipoetaLonato2010
Publicado: 20/05/2014 00:46  Atualizado: 20/05/2014 00:46
Colaborador
Usuário desde: 13/03/2010
Localidade: Paulínia-SP
Mensagens: 2788
 Re: Canteiro
Se pensas solenemente na hora de tua morte,tens a vida torna-se maravilhosa, cheia de sons e cantares e murmúrios de poemas escritos à madrugada.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2014 21:51  Atualizado: 20/05/2014 21:51
 Re: Canteiro
O poema encanta.
Muito bom!
Abraços, Sterea

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 14/01/2015 00:32  Atualizado: 14/01/2015 00:32
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8112
 Re: Canteiro
que perfeição de poema!!! até apetece morrer com essas flores e ser acariciado por elas e(terna)mente...

(esse/a aí que não gosta só pode ser mesmo um pobre diabo, um coitado, um frustrado que não sabe ler e nunca saberá escrever)

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 14/01/2015 16:18  Atualizado: 14/01/2015 16:18
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: Canteiro
Adorei, vindo de ti tudo de soberbo se espera,

beijo

CB

Enviado por Tópico
Manu_C.
Publicado: 30/08/2015 15:56  Atualizado: 30/08/2015 15:56
Membro de honra
Usuário desde: 22/12/2011
Localidade: Itália, Milano
Mensagens: 568
 Re: Canteiro
Cara Teresa,
adorei este seu belíssimo poema.
Quis traduzi-lo para a minha língua, o italiano.
Uma pequena homenagem à sua poesia.

Abraço, Manuela


Aiuola

Quando morirò,
non copritemi di fiori ricercati,
né di versi ridondanti,
né di marmi algidi...

Quando morirò,
ricopritemi di terra buona,
prelevata da qualche vigna
del mio Douro benedetto...
Circondate la mia umile tomba
con pietruzze sciolte di ghiaia
e lasciate che le piogge vi affondino le stelle
che il vento porterà sulle sue ali
e le sementi che gli uccellini
porteranno nel becco
fino al mio palmo di cielo,
fatto di terra buona,
con memoria di vigne e uliveti,
di papaveri e caprifoglio,
di malva e margherite,
di primule e fresie...

Quando morirò,
portate nelle mani fiori silvestri,
piccoli e fragili,
non temete di vederveli morire in mano,
perché, come loro,
la vita non dura che un momento...

e lasciateli stare lì con me,
pallidi e appassiti,
perché il miracolo delle sementi
resta con loro...
e i loro profumi
nella memoria che serberanno di me...

Quando morirò,
che sia d’inverno,
perché il mio palmo di terra
abbia il tempo di coprirsi di fiori,
che nasceranno in primavera...