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O lápis caiu
na fresta do tablado.
É a água abaixo
que me pede prendas,
oferendas
às musas aquáticas.
Quantas coisas em vão!
Quantas coisas vão
pelo vão
dos dedos descuidados
e deixam de ser
nesta dimensão.
Ah, mecânica quântica
dos meus arrependimentos,
dos meus tropeços,
dos meus pecados.
A música é tocada
nas cordas possíveis
dos universos paralelos
nos quais não estou.
Sinto saudades
do eu que seria
com o sim
ao invés do não.
O eu que acordou
com o outro pé.
O eu que perdeu o horário
ao invés de chegar.
O eu sem relógio
nas entrelinhas do tempo.
Tenho saudades do poema
que seria
se o lápis não tivera
caído,
quimera roliça
no vão.
No tablado,
pescadores de poemas
caídos
ou mesmo paridos
na água.
Poemas freáticos
desenfreados,
subaquáticos,
peixes do aquário
de outro mundo
imaginário.
O motor do barco ronca.
É o tempo.
Mesmo sem relógio
à cada instante-já
fui,
não fui
e sou
em outros espaços,
tantos eus
que sinto cansaço
e saudades.
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