Resenhas : 

O Idealismo Alemão - Parte IV

 
A Crítica da Razão Pura

Antes de tudo é importante assinalar que o termo “Crítica” não tem o significado que vulgarmente lhe é dado; ou seja, não se trata de um sinônimo de “censura”. Kant não ataca a Razão Pura*, ao contrário, enaltece-a por julgar que se trata de uma forma de conhecimento que está isento de qualquer contaminação proveniente das imperfeitas captações feitas pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

Assim sendo, deve-se entender que este é o título dado ao estudo crítico, minucioso e detalhado dos limites e capacidades desse tipo de saber.

Se existe alguma censura por parte de Kant, esta acontece apenas no fim do trabalho quando ele questiona as suas limitações.

Outro ponto importante a ser esclarecido é a própria “Razão Pura”. O que é exatamente esse elemento?

Razão é um termo que no contexto filosófico equivale a raciocínio, juízo, análise etc. É a capacidade ou a faculdade de se conhecer, analisar, conceituar, definir etc. qualquer coisa, baseando-se nas evidências sensoriais (no que foi captado pelos Sentidos) e no ordenado segundo as regras da lógica. Quanto ao adjetivo: “Pura”, o sentido comum se mantém e ele indica a não contaminação por dados falsos, incorretos, incompleto etc. que são próprios do saber adquirido empiricamente.

Unindo-se, portanto, os dois nomes tem-se: “o Saber livre dos conhecimentos deformados pelas captações sensoriais”. Conhecimento que nos pertence graças à inata estrutura e natureza da mente. Saberes que já residem, pelo menos potencialmente, em nossa alma desde o nascimento.

Segundo Will Durant:

“Porque a Razão Pura deve indicar o conhecimento que não vem através dos nossos sentidos, mas é independente de toda experiência sensorial”.

Feitas essas preleções inicias, veremos que por acreditar na existência desses “saberes inatos”, Kant iniciou o livro opondo-se à concepção do filósofo Locke e dos outros membros da chamada “Escola Inglesa”, cuja tese principal afirmava que todo conhecimento seria proveniente das experiências sensoriais; ou seja, do que fora captado pelos cinco sentidos humanos. Hume, outro expoente dessa tendência, afirmava ainda que não existia a Alma, já que a Mente seria apenas uma espécie de marcha ou de procissão de nossas ideias e que as nossas certezas não passavam de meras probabilidades, de simples expectativas de que um resultado verificado fosse se repetir eternamente.

Em sua oposição, Kant argumentou que essas conclusões dos ingleses não se sustentavam pelo simples fato de que se originavam de falsas premissas, pois segundo ele:

“Se você presume que todo conhecimento vem das sensações separadas e distintas; naturalmente, estas não lhe podem dar a necessidade ou as invariáveis consequências das quais você possa ter certeza sempre”.

Em seguida, ele propôs a seguinte reflexão:

“Admitamos que seja impossível qualquer certeza absoluta acerca do conhecimento proveniente da experiência, do mundo externo; mas, e se possuirmos o conhecimento que independe da experiência? O conhecimento cuja veracidade seja certa a priori? Nesse caso, a verdade daquele saber fá-lo-á ser um ‘saber absoluto’. Mas existirá tal saber? Haverá esse conhecimento absoluto?”.

É, portanto, a resposta a esse questionamento o motivo e o objetivo da Crítica da Razão Pura. A investigação sobre o quê se pode obter com a Razão, ou Racionalidade, se lhe forem tirados os elementos da experiência. Verificar qual será a sua real capacidade e qual o seu limite.

E para responder a essas dúvidas, a obra examina detalhadamente a origem e a evolução dos conceitos ou definições que damos às coisas e faz uma análise profunda da estrutura que a mente herda geneticamente. Para Kant, nesse conjunto de dados estará a solução, ou no mínimo as suas chaves, dos problemas metafísicos.

Em suas palavras:

“Neste livro visei, principalmente, a completude; e me arrisco a afirmar que não deve existir um só problema metafísico que tenha sido resolvido aqui, ou para cuja solução não se tenha fornecido, aqui, a chave”.

Na sequência ele assume o discurso direto e afirma que:

“A experiência não é, em absoluto, o único campo ao qual a nossa compreensão pode ficar confinada. A experiência nos diz o que algo é, mas ela não nos diz se aquilo é necessariamente o que é e não o contrário. Ela não nos fornece nunca qualquer verdade efetiva. Ela provoca a nossa Razão, mas não a satisfaz, pois o Raciocínio naturalmente almeja chegar à essência de qualquer saber apreendido. E isto acontece porque pela sua própria natureza as Verdades Gerais não pertencem ao domínio da experiência sensorial e justamente por esse distanciamento das imperfeições ocasionadas pelas limitações dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato) é que tais Verdades são claras e certas por si mesmas”

Para ilustrar a sua tese, Kant cita a Matemática como um exemplo dessas “Verdades a priori”, já que se pode imaginar que em certo dia o Sol não nasça no Oriente ou que num mundo de amianto o fogo não queime a madeira, mas não se pode sequer supor que em algum dia 2+2 deixe de ser quatro. Essa certeza não depende de qualquer experiência passada, presente ou futura. E certezas como esta são absolutas e necessárias.

Mas como esse tipo de Saber nos ocorre? Como sabemos que é absoluto e necessário?

Temos a certeza de que ele não provém da experiência, pois essa só nos oferece Sensações e eventos separados que poderão ser alterados no futuro.

Assim, por redução de alternativas, conclui-se que a origem do mesmo está na própria estrutura da mente humana (não confundir mente e cérebro físico) porque ela não é uma espécie de “cera” onde a experiência e a sensação dela resultante escrevem ao seu bel prazer. Tampouco é uma abstração para a série de estados mentais que naturalmente residem na alma humana.

Na verdade, a mente é um “órgão” atuante que molda e coordena as Sensações transformando-as em Percepções ou ideias. Um órgão que transforma a confusa multiplicidade proveniente das experiências em uma ordenada série de pensamentos.

Na sequência, Kant se propõe a explicar como tais transformações acontecem e para tanto investiga a “Estética”.

Continua...

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, lettres, l ´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Relações Públicas, Rio de Janeiro, Brasil.


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FabioVillela
 
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Enviado por Tópico
Srimilton
Publicado: 17/05/2014 16:49  Atualizado: 17/05/2014 16:49
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 Re: O Idealismo Alemão - Parte IV
Gostei muito deste texto. Lúcido, fluente e esclarecedor.
Poste mais, estarei de prontidão para lê-los, ok?

Um abraço!