A ZECA AFONSO
os que comem tudo andam por aqui
zeca voam nas noites e nos dias
do poema concreto que é a vida
no poema em que o belo se reduz
ao horário a cumprir pelos que não
têm nada por vezes penso o como
se esquecem do poema da cantiga
que não dizem nem cantam têm medo
que a migalha de pão que o seu suor
amassou se enamore pelo bico
dos que voam nas noites e nos dias
e não habite a mesa que os aguarda
por vezes zeca sinto que perderam
a semente que espártaco deixou
sentindo-se felizes no sofá
vendo o que só aos outros acontece
sequer sentem que os próximos são eles
e como riem riem zeca escuto
os que andam por aqui e tudo comem
Xavier Zarco