Naquele dia chovia, você se lembra?
Choviam desejos e eu quase tive um troço,
eu engoli a vida,
ela estava toda dentro de mim,
tudo que era nervo pulsava e eu tremia,
era como se ventasse uma maré repentina
e eu sentia concomitantemente enjoos e desejos
aspectos ambíguos da ansiedade,
enquanto eu lhe despia
meus joelhos batiam um no outro
se apoiavam mutuamente,
verticalidade sinuosa da vertigem da hora,
então você me beijou,
mordeu avidamente a minha espera
murmurou palavras desconexas nos meus ouvidos
e eu aspirei todo o ar que nos cercava
e lhe peguei no colo, me embrenhei no seu corpo
à caça dos anos passados à sua procura,
ao penetrar sem pressa a sua entrega
sorri novamente pra vida
e aquela minúscula cabine
pareceu-me imensa,
de repente era como se o horizonte
tivesse se afunilado no buraco da fechadura
e estivesse ali, por testemunha,
pois agora eu via esse horizonte
e me sentia grande, grato e homem.