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O Testemunho do Papagaio

 
O Testemunho do Papagaio
(Ficção. Com excepção de alguns topónimos, todos os componentes são fictícios.)


Por mais água que corra num rio,
nunca será suficiente
para lavar as mãos sujas
com o sangue de um único crime!
————— Ésquilo —————


O detective AlfaZero preparava-se para sair e estava já a fechar a porta do seu apartamento-escritório, quando ouviu o seu telefone fixo tocar. Empurrou a porta, voltou a entrar e levantou o auscultador. Aos seus ouvidos chegou uma voz masculina:
— É o senhor detective AlfaZero?
— O próprio.
— Senhor detective AlfaZero, acabo de ter uma infelicidade. Queria pedir-lhe quie se deslocasse até aqui à minha casa com a máxima urgência.
— Qual é o endereço?
— Bairro da Sagrada Família, Rua das Mangueiras, casa nº 34 AB. Chamo-me Vasco Davinga.
— Okay, estou a caminho. — Disse AlfaZero, poisando o auscultador.

Alfazero desceu duas a duas as escadas do prédio onde se situava o seu apartamento-escritório, na Avenida Marginal, em Luanda, e entrou na sua viatura. Olhou para o relógio. 10h30m. Dez horas e trinta minutos de um sábado de Março, calorento e húmido, com nuvens a amontoarem-se no céu como prenúncio de chuva. A sua viatura rolava, agora, devagar, pela Avenida Marginal, em direcção à Mutamba. Enquanto conduzia, AlfaZero pensava num telefonema que recebera na noite anterior em que o informavam da morte da esposa de um amigo seu que vivia no bairro S. Paulo. E era para aí, efectivamente, que tencionava ir na altura em que recebeu o telefonema de Vasco Davinga. A esposa do seu amigo, agora falecida, era mais uma vítima, a 74ª, de uma doença desconhecida, que passou a ser denominada por “A Doença Feminina dos Seis Meses”.

Com efeito, há cerca de dois anos surgira, em Luanda, uma doença não identificada que só atacava mulheres. A princípio, as autoridades da Saúde supuseram que se tratava de “SIDA” (AIDS), já que alguns dos sintomas que as vítimas apresentavam (fortes dores de cabeça, náuseas, febres) se assemelhavam aos daquela doença. Depois, as vítimas começavam a definhar… a definhar… até que, passados seis meses, acabavam por falecer. Foi, contudo, provado por meio de testes adequados que não se tratava de “SIDA”. Não se tratava igualmente de tuberculose ou de, efectivamente, qualquer doença conhecida. Autópsias foram efectuadas às vítimas sem que se descobrisse qualquer causa das mortes. A referida doença só atacava mulheres e o tempo de vida desde o aparecimento dos sintomas, era de seis meses (daí o nome “A Doença Feminina dos Seis Meses). As autoridades sanitárias continuavam, desesperadamente, a tentar encontrar as causas de tão estranha doença sem que, no entanto, vislumbrassem a mais ténue luz no fundo do túnel. As mulheres, essas, viviam em pânico, sempre na incerteza de quem seria a próxima vítima.
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AlfaZero virou à esquerda na Mutamba, subiu pela Rua da Missão, passou pelo Kinaxixe e seguiu para a Sagrada Família. Aqui, entrou na Rua das Mangueiras e parou em frente à casa nº 34 AB. Tocou à campainha e logo foi recebido pelo Sr. Vasco Davinga.
— É o Senhor detective AlfaZero, suponho — disse, ao abrir a porta, Vasco Davinga.
— O próprio. — Respondeu AlfaZero, apertando a mão que o dono da casa lhe estendia.
— Entre, por favor e sente-se.
— Então o que é que se passa, Senhor Vasco? -- perguntou AlfaZero ao sentar-se num dos sofás da sala de visitas. — O Senhor parece bastante transtornado.
— O caso não é para menos, Sr. detective AlfaZero. Neste momento tenho um cadáver em casa.
— Um cadáver?! Você quer dizer que está uma pessoa morta aqui dentro de sua casa?
— Exactamente, Sr. detective AlfaZero. Deixe-me explicar-lhe. Hoje de manhã, por volta das 08 horas, saí de casa para ir comprar umas batatas e um pouco de peixe na praça. A minha esposa não se encontrava em casa pois tinha ido ao salão de beleza “Penteados Modernos”, na Vila Alice, (como, aliás, vai todos os sábados) onde ela está a tirar um curso de cabeleireira de senhoras. Quando voltei, por volta das 10h00 horas, qual não foi o meu espanto ao ver a minha mulher estendida no chão, morta. Suponho que tenha sido estrangulada pois tem umas manchas vermelhas em volta do pescoço.
— Oh, lamento o que lhe aconteceu, Sr. Vasco. Os meus pêsames. Onde é que a encontrou morta? Em que local da casa?
— Ela foi morta na varanda que dá para o quintal Sr. AlfaZero. Já lhe vou mostrar. Mas antes quero dizer-lhe uma coisa interessante. Nós temos um papagaio na varanda e, quando entrei na varanda onde está o corpo da falecida, o papagaio disse uma frase que, suponho, deve ter sido dita por ela antes de morrer.
— Ah, sim?! — exclamou, surpreso e curioso, AlfaZero. — E o que foi que o papagaio disse?
— Vamos até à varanda, Senhor detective. Pode ser que ele repita a mesma frase.
Vasco Davinga e AlfaZero levantaram-se das suas cadeiras e dirigiram-se para a varanda. Ali estava o corpo de Laura Davinga, estendido no soalho, sem vida. Vasco Davinga olhou para o poleiro onde se encontrava o papagaio num dos cantos da varanda. Lá estava ele, sereno e silencioso. Vasco Davinga fez então um gesto com as duas mãos como se estivesse a apertar o pescoço da falecida e logo o papagaio repetiu a frase que Vasco Davinga ouvira:
“Por favor, Sr. Afonso, não me mate. Eu guardarei segredo.”
Ao ouvir estas palavras, AlfaZero levantou a cabeça para um dos cantos da varanda de onde havia partido a “voz” e, verdadeiramente fascinado, observou o papagaio. Vasco Davinga olhou para AlfaZero e disse:
— Foi precisamente isso que ele disse quando eu entrei na varanda e encontrei a minha mulher morta.
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— Vamos repetir — disse AlfaZero olhando para o papagaio completamente maravilhado. — Quero ouvi-lo mais uma vez.
Vasco Davinga repetiu o gesto de apertar o pescoço da falecida com as mãos e logo a “voz” do papagaio se fez ouvir, clara, inteligível e sonora:
“Por favor, Sr. Afonso, não me mate. Eu guardarei segredo.”
Alfazero olhava, deslumbrado, para o papagaio. Ali estava, em carne e osso, a testemunha ocular de um crime. Ali estava, a “gravação” inequívoca das últimas palavras de Laura Davinga.

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AlfaZero e Vasco Davinga regressaram para a sala de estar.
— Senhor detective AlfaZero, eu quero pedir-lhe que tome conta deste caso. Quero pedir-lhe que descubra quem assassinou a minha esposa e porquê — disse Vasco Davinga, logo depois de se sentar.
— Aceito a sua incumbência, Sr, Vasco Davinga. Terei muito gosto em tentar esclarecer este caso. Para já e antes que lhe faça algumas perguntas em relação à sua esposa, convém tomar algumas providências em relação ao papagaio. Tire-o de onde está e coloque-o noutra parte da casa onde não seja visto. Não convém que alguém saiba que o papagaio presenciou o crime e que “gravou” as últimas palavras da vítima pois tal poderia pôr em risco não só a vida do próprio papagaio mas também o andamento das investigações, pois poder-se-á dar o caso de necessitarmos de levar o papagaio ao tribunal como testemunha.
— Ah, pois, vou tratar disso — aquiesceu Vasco Davinga.
— Esclareça-me agora as seguintes questões, Sr. Vasco. Quem vive nesta casa para além de si e da sua falecida esposa?
— Ninguém, Sr. detective AlfaZero. Nós não temos filhos. Vivia connosco uma sobrinha minha, mas o ano passado ela arranjou marido e deixou-nos.
— E há quanto tempo tem o papagaio?
— Já temos este papagaio há dois anos. Comprei-o a uma pessoa que o trouxe de Cabinda.
— O papagaio deixou-nos uma pista, Sr. Vasco e essa pista chama-se “Afonso”. Se levarmos em consideração aquilo que o papagaio diz, a pessoa que assassinou a sua esposa chama-se “Afonso” e matou-a por ela ter descoberto algum segredo. Sabe de alguém com esse nome que, directa ou indirectamente, mantinha qualquer tipo de relacionamento com a sua esposa?
— Tanto quanto sei, — respondeu Vasco Davinga com um ar pensativo — a única pessoa que se chama Afonso e com quem ela se relacionava profissionalmente era o cabeleireiro, o Afonso Cabral, aquele que tem um salão de cabeleireiro de senhoras na Vila Alice, não sei se conhece!
— Ah, será o dono do salão “Penteados Modernos”?
— Exactamente, esse mesmo. Pois a minha falecida ia a esse salão de beleza três vezes por semana para aprender a profissão de cabeleireira de senhoras. O sonho dela era, depois de aprender bem a profissão, abrir um salão de cabeleireira de senhoras aqui no bairro da Sagrada Família.
— Há quanto tempo andava ela nessa aprendizagem?
— Estava agora já no 5º mês e acho que o curso completo levaria oito meses.
— Não se recorda de absolutamente mais ninguém com esse nome que, de uma forma ou de outra, possa ter tido um relacionamento qualquer com a sua falecida esposa? É que, sabe Sr. Vasco Davinga, eu não estou muito inclinado a acreditar que o cabeleireiro, o Sr. Afonso Cabral, tenha sido o assassino da sua esposa. O Sr. Afonso Cabral é uma pessoa que já trabalha ali naquele salão há bastantes anos, é tido como uma pessoa honesta e como um profissional competente, é respeitado e admirado por centenas de senhoras suas clientes, que motivos teria ele para assassinar a sua esposa? Por isso é que lhe estou a pedir que tente recordar-se de qualquer outra pessoa que se chame “Afonso” e que possa ter tido um relacionamento qualquer com a sua esposa.
— Por mais que dê voltas à cabeça, não vejo ninguém com esse nome — disse Vasco Davinga franzindo a testa e rolando os olhos nas órbitas como a tentar recordar-se.
— Sr. Vasco, desculpe trespassar a sua privacidade. Não sabe se a sua esposa, antes de se casar consigo, teve algum namorado chamado “Afonso”?
— Não, Sr. detective AlfaZero, que eu saiba, não e nem ela nunca me falou nisso.
— Aqui entre os seus vizinhos, não há ninguém que se chame “Afonso”?
— Não, não há Sr. detective AlfaZero.
— Ah, Sr. Vasco — disse AlfaZero com um suspiro de desalento — há tantos “Afonsos” nesta nossa Luanda que isto vai ser como procurar agulha em palheiro.
— Pois é, Sr. detective AlfaZero, vai ser mesmo difícil chegar ao Afonso que procuramos. Mas eu confio na sua experiência e sagacidade e estou certo que o “Afonso” assassino vai ser identificado.
— Obrigado pela confiança que deposita em mim, Sr. Vasco Davinga. Faço votos para que ela não a atraiçoe.
E, levantando-se, AlfaZero prosseguiu: — Bem, Sr. Vasco, eu vou andando. Tenho de ir agora ao S. Paulo dar os pêsames a um amigo meu cuja esposa também faleceu esta noite.
— Assassinada?! — Perguntou Vasco Davinga, deveras surpreso.
— Não, não foi assassinada. Foi mais uma vítima da terrível “Doença Feminina dos Seis Meses”. A 74ª (septuagésima quarta) vítima.
— Ah, eu nem escutei o noticiário. Essa doença é uma tragédia, Sr. detective AlfaZero. Até quando suportaremos isto? Quando virá a cura? Quantas mais das nossas compatriotas sucumbirão?
— Tudo são perguntas sem resposta, Sr, Vasco. Já foram enviadas amostras de sangue para os laboratórios mais sofisticados do mundo e nada foi detectado. Grandes especialistas de todo o mundo (incluindo médicos de medicina tradicional) já se deslocaram a Luanda para observarem os cadáveres das mulheres falecidas e os resultados foram negativos. Ninguém consegue identificar de que doença se trata e, consequentemente, nenhum, dos tratamentos que têm sido ministrados digamos, ao acaso, tem tido qualquer efeito. ´
— Mas. ó Sr. detective AlfaZero, isso não será mesmo um tipo qualquer de “SIDA”? Os sintomas parecem ser os mesmos da “SIDA”…
— Não, Sr. Vasco, não se trata de “SIDA”. Com efeito, os sintomas são um tanto ou quanto semelhantes aos dessa doença mas os testes efectuados provaram por A mais B que não se trata de “SIDA”. Depois, esta doença só ataca mulheres, o que é mais uma prova de que não se trata de “SIDA”. Não há dúvida que alguns dos sintomas são semelhantes aos da “SIDA”. As vítimas começam por sentir fortes dores de cabeça, náuseas, febre, como a que é causada pela gripe, e paralelamente começam a emagrecer… a emagrecer… até que seis meses depois, acabam por morrer. E morrem magrinhas que dá dó vê-las.
— Ah, que coisa horrível! — exclamou, mortificado, o Sr. Vasco Davinga. — Será alguma praga?
— Tudo, neste mundo, tem uma explicação científica, Sr. Vasco. E estou certo que esta doença, mais cedo ou mais tarde, será identificada.
— Deus lhe oiça, Sr. detective AlfaZero, Deus lhe oiça. — Murmurou Vasco Davinga, deveras pesaroso.
— Bem, Sr. Vasco, dou-lhe os meus pêsames uma vez mais. Faço votos para que o óbito e o funeral da sua falecida esposa corram bem. Quanto a mim, vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para descobrir qual foi a pessoa que o privou do carinho e da companhia da sua bem amada. Seja forte e até uma outra oportunidade. Ah, ia-me esquecendo. Olhe, vou informar o Inspector Juvenal, da AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes), do sucedido e, naturalmente, ele virá conversar consigo. Explique-lhe como se passaram as coisas e fale-lhe do papagaio. Faça com que o papagaio repita a “frase gravada” para que ele a oiça. Pronto, fique bem e, se houver necessidade, telefone-me.

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Depois de deixar a Sagrada Família, AlfaZero passou pelo S. Paulo, apresentou as condolências ao seu amigo pela morte da esposa e, em seguida, foi para o seu apartamento-escritório na Marginal. Aqui, passou em revista a morte de Laura Davinga, esposa de Vasco Davinga. Caso fosse levado em consideração aquilo que disse o papagaio, (e tudo indicava que, efectivamente, se deveria levar a sério o seu testemunho), a pessoa que a assassinou terá sido alguém chamado “Afonso” e esse tal “Afonso” seria alguém que ela conhecia. E terá sido morta por ter descoberto algum segredo.
— Mas quem será esse tal “Afonso”? — interrogava-se AlfaZero. — E que segredo terá a Laura Davinga descoberto? Seria esse “Afonso”, o Afonso Cabral cabeleireiro de senhoras, o dono do salão “Penteados Modernos”? O tal salão onde ela estava a aprender a profissão de cabeleireira? Ou seria um outro “Afonso” qualquer perdido no grande emaranhado que é a cidade de Luanda?

Depois de pensar e repensar, AlfaZero chegou à conclusão que a pista proporcionada pelo nome “Afonso” se revelava demasiado vaga e imprecisa pelo que não seria por aí que ele chegaria ao assassino de Laura Davinga. Em todo o caso, pensou ele, não seria perda de tempo conversar um pouco com Afonso Cabral, o cabeleireiro proprietário do salão “Penteados Modernos”. Eram já quinze horas, pelo que AlfaZero decidiu deixar a visita a Afonso Cabral para o dia seguinte. O resto da tarde, passou-a a ler um conto policial de Agatha Christie, uma autora britânica de contos de detectives que ele muito apreciava. Às 19h30m jantou e às 20h30m sentou-se em frente ao televisor para as notícias da noite. E logo a primeira notícia deixou-o perturbado como, aliás, deverão ter ficado todos os luandenses e todos os angolanos que, naquela noite escutavam o telejornal. Com efeito, a voz da apresentadora soou, lúgubre e chorosa, ao anunciar:
“É com pesar que anunciamos que faleceu, esta tarde, a 75ª vítima do caso ”A Doença Feminina dos Seis Meses”. Trata-se da Senhora Etelvina Constantino, de 38 anos de idade, trabalhadora da empresa “Marco Azul”. Em nome de toda a população, os trabalhadores desta estação de televisão apresentam à família enlutada as mais sentidas condolências e reiteram a sua solidariedade e encorajamento a todas as mulheres angolanas, ao mesmo tempo que renovam a sua esperança numa cura, o mais cedo possível, para esta trágica doença.”
Com os olhos pregados no televisor, AlfaZero murmurou:
— Até quando esta calamidade, até quando?

E, completamente transtornado, desligou o televisor e foi-se deitar.

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No dia seguinte de manhã, AlfaZero rodou para a Vila Alice e estacionou a sua viatura em frente ao Salão de Beleza “Penteados Modernos”. Entrou e dirigiu-se ao Sr. Afonso Cabral, que se encontrava sentado a folhear uma revista de penteados femininos pois, na altura, não tinha qualquer cliente entre mãos. O salão situava-se numa vivenda de rés-do-chão e era de pequenas dimensões. Afonso Cabral trabalhava sozinho, sem ajudantes, pois, costumava ele dizer, não gostava de colocar as cabeças e os cabelos das suas estimadas clientes, entre outras mãos. Todas as paredes interiores do salão estavam guarnecidas de espelhos e de prateleiras em vidro. No centro, dois vasos grandes com bonitas flores e no soalho uma linda carpete cor de alface. Uma porta dava para um outro compartimento que deveria servir de escritório e/ou de pequeno armazém. Dois aparelhos de ar condicionado tinham a missão de refrescar o ambiente.
— Desculpe, mas aqui só atendemos senhoras! — Disse Afonso Cabral à guisa de cumprimento e com um sorriso afável ao ver entrar AlfaZero.
— E olhe que talvez faça mal — disse AlfaZero igualmente com um sorriso nos lábios — pois com a terrível calamidade que nos está a assolar, poderá ficar sem clientes.
— Refere-se à “Doença Feminina dos Seis Meses”?
— Sim, ainda ontem, deve ter ouvido as notícias, foi-se mais uma. A 75ª — disse AlfaZero dando ênfase ao numeral ordinal.
— Sim, ouvi a notícia. Esta doença não é, efectivamente, para brincadeiras. Oxalá se encontre uma cura o mais rápido possível. Mas, mudando de conversa. O Senhor é o detective AlfaZero, não é?
— O próprio.
— Ah, eu sou Afonso Cabral. Recordo-me de o ter visto uma vez na televisão mas já não estava a fazer uma ideia clara da sua fisionomia — disse Afonso Cabral olhando fixamente para AlfaZero. Passou por aqui apenas para conversar, ou em serviço?
— Digamos que… as duas coisas. Eu fui incumbido pelo marido da Dona Laura Davinga para investigar a sua morte.
— Ah, a Dona Laura! — Suspirou Afonso Cabral. — Era minha “aluna”. Ela vinha cá três vezes por semana aprender a fazer cortes femininos pois ela pretendia abrir um Salão de Beleza na Sagrada Família. Então o marido pediu-lhe para descobrir quem a matou?
— Exactamente. — Respondeu AlfaZero, endireitando-se na cadeira onde se havia sentado. — E precisamente porque ela frequentava o seu Salão é que resolvi passar por cá para conversar um pouco consigo sobre ela.
— Ah, às suas ordens.
— Diga-me, Sr. Afonso Cabral, notou alguma perturbação nela, quando ela cá veio pela última vez antes da sua morte?
— Não, não notei absolutamente nada Sr. detective AlfaZero. A dona Laura era uma pessoa muito calma, gostava de conversar e sobretudo de aprender. Ela já dominava quase todos os penteados e só lhe faltavam mais três meses para concluir a aprendizagem. Eu gostava muito dela como profissional. Foi uma pena o que lhe aconteceu.
— Ela era a única sua “aluna” ou tinha outras?
— Não, ela não era a única. Tenho mais algumas, mas em dias e horários diferentes.
— Compreendo — disse AlfaZero, ao mesmo tempo que pensava em mais algum dado que poderia obter do seu interlocutor. — Ah, diga-me só mais uma coisa. Alguma vez ela lhe falou de alguém com quem andasse relacionada, quer directamente, quer por intermédio de outras pessoas, enfim…
— Não, nunca me falou absolutamente de nada. As nossas conversas centravam-se mais em penteados, modas, num ou noutro aspecto ligado à vida da cidade e, por aí ficava.
— Pronto, Sr. Afonso Cabral, agradeço-lhe pelo tempo que me dispensou e desejo-lhe bom trabalho. Até à próxima.

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Assim que transpôs a porta do Salão, AlfaZero recebeu uma chamada no seu telemóvel. Era de Vasco Davinga a dizer que precisava de falar urgentemente com ele e que, para o efeito, se havia deslocado ao seu apartamento-escritório, na Marginal, encontrando-se ali à sua espera. Assim, AlfaZero dirigiu-se, de imediato, para ali, ao encontro de Vasco Davinga. Enquanto se deslocava da Vila Alice para a Marginal, AlfaZero pensava em Afonso Cabral. Era um homem que devia rondar os cinquenta anos, de estatura média e um pouco forte para a altura que tinha. Os seus gestos eram seguros, a voz firme, o olhar vivo e perscrutador. Estava calmo e falava com segurança. Nada nele transpareceu que o ligasse ao assassinato de Laura Davinga.

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Ao chegar ao seu apartamento-escritório, encontrou Vasco Davinga junto à porta, acompanhado de uma senhora que trajava de negro.
— Ah, como está, Sr. Vasco? Bom-dia minha Senhora. — Cumprimentou-os AlfaZero e, ao mesmo tempo que abria a porta, acrescentou: — Vamos entrar.
Entraram e sentaram-se os três na sala de visitas. Vasco Davinga começou por apresentar a senhora que o acompanhava.
— Senhor detective AlfaZero, esta é a minha sobrinha de que lhe falei. A tal que vivia connosco em casa.
— Ah, muito prazer em conhecê-la — disse AlfaZero apertando a mão à sobrinha de Vasco Davinga.
— Igualmente. Marta Davinga — disse esta, apresentando-se.
— Pois, Sr. detective AlfaZero — prosseguiu Vasco Davinga — o que me traz cá é o seguinte: hoje de manhã pus-me a revolver as papeladas da minha falecida e no meio delas encontrei este cartãozinho aqui. Não teria qualquer importância se o nome do médico não fosse “Afonso”. — Concluiu Vasco Davinga mostrando o cartãozinho a AlfaZero. Este pegou
nele e leu-o. No mesmo estava escrito o seguinte:

Dr. Afonso Mariano
Médico ginecologista
Bairro Prenda, Rua dos Comerciantes, Nº 18D
Consultas às terças e quintas-feiras.

— Conhece-o? — Perguntou AlfaZero a Vasco Davinga.
— Não, não o conheço. Mas aqui a minha sobrinha tem uma coisa interessante para lhe dizer. Aliás, foi por isso mesmo que a trouxe comigo.
AlfaZero poisou os olhos em Marta Davinga como que a convidá-la a falar. E, com efeito, esta não se fez esperar.
— Pois, Sr. detective AlfaZero — começou ela — na passada sexta-feira, isto é, um dia antes da morte da tia Laura, eu fui visitá-la. E então em conversa, ela disse-me que estava a tentar mais uma vez uma cura para a sua infertilidade pois que ainda não tinha perdido a esperança de vir a ter um bebé, coisa que ela tanto desejava. Disse-me ela que o Dr. Afonso Mariano, segundo o que ouvira de algumas outras senhoras, era muito experiente nessa área e já havia conseguido alguns êxitos, pelo que estava a seguir um tratamento orientado por ele. Pediu-me para não dizer nada ao tio Vasco pois queria fazer-lhe uma surpresa. Mas a parte mais intrigante, Sr. detective AlfaZero, foi que ela me disse, com um certo ar de mistério e um tanto ou quanto triunfante:
— E descobri um segredo, Marta! — disse-me ela batendo-me na testa com o seu dedo indicador. — “TORF”! “TORF”, minha querida!
Eu fixei os olhos nela a pedir-lhe que ela me explicasse o que significava aquele “TORF” mas, precisamente nessa altura, aqui o tio Vasco apareceu na cozinha, onde estávamos, e disse:
— Laura, pediste-me para te levar ao mercado, então será melhor irmos já porque eu depois vou precisar de sair.
E, assim, eu despedi-me e fui para casa sem que a tia Laura me tivesse explicado o significado daquelas quatro iniciais.
— “TORF!” — repetiu AlfaZero quase num murmúrio. E, virando-se para Vasco Davinga:
— Não sabia que a sua falecida esposa era infértil, Sr. Vasco!?
— Era, Sr. detective AlfaZero e tão grande desgosto era isso para ela pois tanto ela desejava ter um bebé e, coitadinha, não podia. Já havia tentado alguns tratamentos antes mas sem resultado. E depois o que a magoava mais era saber que eu tinha filhos com outras mulheres.
— Ah, o Sr Vasco tem filhos fora deste casamento?
— Tenho, tenho três. Dois rapazes e uma menina. Um dos rapazes, o Artur, nasceu antes de me casar com a Laura. O Gabriel, que é o outro rapaz, e a rapariga, a Joana, nasceram já eu me tinha casado com a falecida. Estão todos fora. A rapariga casou-se e foi viver para o Brasil com o marido. Os dois rapazes, um radicou-se em Portugal e o outro em França. Já lá vivem há alguns anos.
—”TORF”! — Repetiu AlfaZero como se não tivesse prestado atenção ao que Vasco Davinga acabara de dizer. Será que nestas quatro iniciais estará o segredo do assassinato de Laura Davinga? Bom, vou ter descobrir o que poderão significar estas quatro iniciais nem que tenha de passar algumas noites em claro.
— Sr. detective AlfaZero nós, eu e a Marta, também vamos pensar nisso. Mas acho que não vamos descobrir nada. As nossas memórias não estão talhadas para isso. Em todo o caso, vamos tentar, não é Marta?
— Sim, tio. — Respondeu esta. E acrescentou:
— Mas olhe que eu tenho estado a pensar nisso desde o dia em que a tia Laura me falou nelas e não consigo decifrar nada.
— Deixem isso comigo. Eu vou decifrar alguma coisa, boa ou má. — Disse AlfaZero, olhando para o cartão do Dr. Afonso Mariano.
— Bem, detective AlfaZero, nós vamos andando. Estamos atarefados nos preparativos para o funeral amanhã às nove horas, de modo que temos de estar lá a orientar as coisas.
— Pois, compreendo. A vossa visita foi muito útil pois trouxe mais um dado para as investigações. Então até à próxima. Se houver novidades, telefonem-me.

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Depois de Vasco Davinga e a sobrinha terem saído, AlfaZero deixou-se cair num sofá, fechou os olhos e encheu o cérebro com as iniciais “TORF”. Pensou… pensou… associou-as a um médico especializado em doenças femininas e…zás! Seleccionou a primeira inicial: “F” de feminino. Sim, “F” em “TORF” poderia, efectivamente, significar “Feminino”, já que o Dr. Afonso Mariano era especialista em doenças do sexo feminino. Continuou a magicar nas outras três iniciais: “TOR”. E, repentinamente, uma palavra lhe veio à mente para o “O”. Órgãos. Sim, órgãos para o “O” e femininos para o “F”. Poderia ser isso. Agora, precisava de decifrar as duas letras que faltavam, ou seja, o “T” e o “R”. Alfazero estava tão entretido e submerso neste exercício que nem deu pelo tempo a passar. Olhou para o relógio e exclamou:
— Já 14h30?! Hoje nem ouvi o noticiário e nem almocei. Mas pelo menos duas letras já estão decifradas. Espero que a decifração esteja correcta.
Alfazero levantou-se com o intuito de preparar qualquer coisa para comer. Estava ele a tirar uns ovos do frigorífico para fritar quando o seu telemóvel tocou. Accionou o botão de recepção de chamadas e levou o telefone ao ouvido. A chamada era da sua amiga Briana.
— Detective AlfaZero – disse ela – então mais uma na lista?
— Mais uma o quê, Briana?
— Então não ouviu o noticiário? Mais uma vítima da “Doença Feminina dos Seis Meses”.
— Oh, Briana, não me digas isso!! Que tragédia, que desgraça, Briana! De quem se trata?
— É uma senhora chamada Silvana Marques, professora do Ensino Secundário, residente na Praia do Bispo.
— Ah, que notícias tão tristes, Briana. Esta é a 76ª vítima.
— Estou tão assustada, detective AlfaZero, disse a Briana com voz trémula.
— O caso não é para menos, Briana. Façamos votos para que as autoridades sanitárias, em cooperação com organismos e especialistas internacionais encontrem, tão breve quanto possível, uma cura para esta terrível doença.
— Ah, se eu pudesse fugir daqui, desabafou a Briana, e ir para bem longe. A vida aqui, enquanto essa doença desconhecida existir, será uma angústia constante, uma incerteza mortificante para qualquer mulher. Nunca se sabe qual será a próxima vítima a cair nas suas malhas.
— Briana, tenta distrair-te o máximo que puderes e mantém-te sempre ocupada. Não te deixes sucumbir por pensamentos negativos.
— Está bem, detective AlfaZero, obrigado pelo seu conselho. Vou tentar fazer o que me disse, embora seja difícil.
— Tenta, Briana, tenta que vale a pena. Pronto, obrigado por teres telefonado, apesar de a notícia ter sido tão triste.
Alfazero desligou o telefone e foi então fritar os ovos para o seu almoço.

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Logo que acabou de almoçar, AlfaZero voltou ao exercício da decifração das misteriosas iniciais deixadas por Laura Davinga.
— “TORF” – murmurou AlfaZero, e acrescentou: -- órgãos para o “O” e femininos para o “F”. Vou agora aquecer a cabeça com o “T” e com o “R”.
AlfaZero recostou-se na cadeira, fechou os olhos e fez passar pelo seu cérebro dezenas e dezenas de palavras começadas por “T”. E uma delas sobressaiu, perfeita e ajustada. AlfaZero abriu os olhos e pronunciou com uma voz pusada e triunfante:
-- Tráfico. Sim, “Tráfico de Órgãos Femininos”.
Foi este o grande segredo que, provavelmente, Laura Davinga havia descoberto e que levou ao seu assassinato – pensava AlfaZero.
Mas ainda faltava o “R”. O que significaria o “R”?

AlfaZero passou o resto da tarde às voltas com o “R”. Nenhuma das palavras começadas por “R” que ele seleccionava parecia ajustar-se ao conjunto “TORF”. Finalmente, já ao cair da noite, caiu-lhe no cérebro a palavra que se ajustou ao que ele procurava: ”Reprodutores”. AlfaZero delirava. Estava, assim, desvendado o enigma: “TORF”: “Tráfico de Órgãos Reprodutores Femininos”.
AlfaZero não podia garantir que este fosse o significado que Laura Davinga tinha para as ininiciais “TORF”. Mas, dadas as circunstâncias, tudo indicava que sim. Laura Davinga havia dito à sobrinha que havia descoberto um segredo e que esse segredo residia nas iniciais “TORF”. Ora, estando esse segredo conectado com o Dr. Afonso Mariano, que é médico de doenças femininas, tudo levava a crer que a decifração feita estava correcta. Laura Davinga deveria ter descoberto que o Dr. Afonso Mariano estava envolvido em tráfico de órgãos reprodutores femininos o que terá levado o médico a assassiná-la para evitar que ela divulgasse o segredo.

AlfaZero estava entusiasmado. Mas uma tarefa ainda mais difícil se apresentava agora. Como provar? Como provar que o Dr. Afonso Mariano era a pessoa que havia assassinado Laura Davinga?

Depois de ter ouvido o noticiário, AlfaZero foi-se deitar a pensar numa forma de averiguar se o Dr. Afonso Mariano estava, efectivamente, envolvido em tráfico de órgãos reprodutores femininos e se era ele a pessoa que havia assassinado Laura Davinga. E foi com este pensamento que adormeceu.

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No dia seguinte, estava AlfaZero a preparar o seu matabicho quando o seu telefone fixo tocou. Levantou o auscultador e ouviu a voz do Inspector Juvenal da AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes).
-- Alô detective AlfaZero, daqui é o Inspector Juvenal. Então como tem passado?
-- Menos mal, Inspector. E o senhor?
-- Cá vamos indo. Ando um pouco preocupado com a minha mulher. Por causa da malvada “Doença Feminina dos Seis Meses”, ela anda deprimida, quase que não come, dorme sobressaltada, enfim. Não sei o que fazer. Estou a pensar em mandá-la para o Lubango para passar uns tempos em casa de uma irmã que ela tem lá. Pode ser que lhe faça bem.
-- Inspector Juvenal, eu já nem sei o que dizer desta terrível doença. Foi a pior que vi desde que nasci.
-- Tem razão, detective AlfaZero. É a pior coisa que nos poderia ter acontecido. É que nem sequer se sabe como evitá-la. É horrível. Mudando de assunto detective AlfaZero, como vai a sua investigação do assassinato de Laura Davinga?
-- Até agora, nada de concreto. Apenas suposições.
-- Eu ouvi o “testemunho do papagaio”. E olhe, detective AlfaZero, que eu estou plenamente convencido que o papagaio repete exactamente as últimas palavras de Laura Davinga. Estou plenamente convencido que quem matou Laura Davinga se chama Afonso.
-- Também eu, Inspector Juvenal, também eu. Também eu estou absolutamente convencido que o assassino de Laura Davinga se chama Afonso. O grande problema agora será encontrar esse Afonso. Onde, quando e como, Inspector Juvenal?
-- Sim, tem razão detective AlfaZero. Mas não desanimemos. Estou certo que esse Afonso há-de cair nas nossas malhas. E espero que seja mais cedo do que tarde. Pronto, detective AlfaZero, não lhe quero fazer perder mais tempo, desejo-lhe êxitos nas suas investigações e até à próxima.

Ainda com o auscultador na mão, AlfaZero marcou o número da sua amiga Briana, tendo dito assim que ouviu a voz dela responder à chamada:
-- Briana, fala AlfaZero. Olha, preciso de falar contigo. Vem ao meu escritório assim que puderes.

Passados cerca de 45 minutos, a Briana estava já a tocar à campainha do apartamento-escritório de AlfaZero, na Marginal.
-- Ainda bem que vieste depressa, Briana -- disse AlfaZero ao abrir-lhe a porta. Entra e senta-te, convidou ele.
-- Do que é que se trata, detective AlfaZero? – perguntou Briana, impaciente.

-- Briana -- começou AlfaZero a dizer, olhando-a nos olhos -- nos próximos dias vais trabalhar por minha conta. Quero que finjas que tens uma doença qualquer e que faças uma consulta com o Dr. Afonso Mariano, o especialista de doenças de senhoras, que tem o consultório no Prenda, Rua dos Comerciantes. Quero que andes por lá, pelo consultório dele, durante alguns dias para tentares descobrir se ele anda metido em negócios de tráfico de órgãos reprodutores femininos. Quero que sigas todos os seus passos, que anotes com quem ele se relaciona, como é que ele ministra os tratamentos, enfim, tudo o que puderes observar.
-- Mas, detective Alfa Zero, eu não tenho muito jeito para fingir. Que doença é que eu hei-de inventar? E se ele descobre que é uma burla?
-- Oh, Briana, por amor de Deus! Vocês, as mulheres, têm um jeito próprio para fingir as coisas. Eu tenho a certeza que ele não vai descobrir absolutamente nada. Preciso dessa informação, Briana. Qualquer coisa suspeita que notares, informa-me logo. Preciso de saber se é ele o assassino de Laura Davinga.
-- Ah, está bem, detective AlfaZero. Vou consultar um livro de doenças femininas que tenho em casa, vou escolher uma que não necessite de muita medicação e vou então consultar o Dr. Afonso Mariano. Vou andar por lá pelo consultório dele, nas horas em que ele estiver e nas horas em que não estiver. De dia e de noite. E, se ele anda efectivamente metido em negócios escuros de venda de órgãos humanos, pode ter a certeza que eu vou descobrir.
-- Obrigado, Briana. Eu sabia que, também desta vez, poderia contar contigo.

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Entretanto, um grande acontecimento de impacto mundial quebrou a monotonia do dia seguinte e encheu os noticiários das emissoras de rádio e de televisão e as páginas dos jornais, de todo o mundo. Não se falava noutra coisa. Um grande avanço científico havia revolucionado todo o sistema de análises médicas existente até então. A comunidade científica e, especialmente, a comunidade médico-sanitária rejubilavam e o mundo olhava, agora, com mais esperança, para o seu futuro.

Mas do que é que, concretamente, se tratava? Tratava-se de um pequeno aparelho electrónico, inventado por cientistas japonenes, denominado “HHWD” iniciais das palavras inglesas “Hidden Human Waves Detector” e que, em português, significa “Detector de Ondas Humanas Ocultas”.

E qual era a função desse pequeno aparelho do tamanho de um telemóvel? Pois esse pequeno aparelho, a que alguns já apelidavam de “a maior invenção do século XXI”, tinha a capacidade de detectar qualquer substância estranha (fosse ela qual fosse) em qualquer parte ou órgão do corpo ou do organismo humano e de assinalar o mês e o ano em que tal substância estranha tenha entrado em contacto com o corpo ou organismo humano. E o mais espantoso ainda, é que o “HHWD” diagnosticava com 99,99% de exactidão, a doença exacta de que alguém padecesse ou a doença que tenha sido a causa da morte de alguém. Toda a informação era apresentada no visor do aparelho. Tinha ainda o “HHWD” a capacidade de diagnosticar com exactidão qual a doença de que padecia alguém quando os sintomas que o doente apresentasse fossem semelhantes aos de outras patologias. O aparelho levava apenas 4 ou 5 minutos a efectuar cada teste e os testes poderiam ser efectuados a pessoas já falecidas há vários anos.

Tratava-se, com efeito, de um grande invento revolucionário, um avanço tecnológico de grande envergadura. As autoridades angolanas, os angolanos em geral e, em especial, a camada feminina, mostrava-se entusiasmada e delirante pois via agora a possibilidade de ser detectada a causa da terrível “Doença Feminina dos Seis Meses”. Com efeito, as autoridades angolanas decidiram mesmo enviar, sem demora, uma delegação ministerial ao Japão a fim de obterem assistência daquele país na detecção das causas da terrível doença.

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Quando a notícia ecoou no seu televisor, AlfaZero saltou do sofá, deu duas voltas na sala sem saber o que fazia, tornou a sentar-se, tornou a levantar-se, desceu as escadas em direcção à sua viatura mas notou, entretanto, que se havia esquecido das chaves do carro, voltou, fechou o televisor, pegou na chave, desceu as escadas a correr, entrou na sua viatura e partiu… partiu sem saber para onde ir…

AlfaZero estava excitadíssimo. Ele tinha a certeza que agora se saberiam as causas da “Doença Feminina dos Seis Meses” e que, por conseguinte, a cura seria um facto.

Quando AlfaZero despertou do seu “delírio”, deu conta que estava numa rua do Cassenda (um bairro de Luanda) sem saber como havia ido ali parar.
”As nossas companheiras, as nossas esposas, as nossas mães, as nossas irmãs, as nossas amigas terão, a partir de agora, uma vida mais feliz. Sim, terão porque o “HHWD” detectará o que está a matá-las e, depois disso, a cura será possível”, disse AlfaZero em voz alta ao mesmo tempo que virava a sua viatura em direcção ao Prenda (bairro de Luanda). Já no Prenda, na Rua dos Comerciantes, ao passar em frente ao consultório do Dr. Afonso Mariano, viu a Briana. Chamou-a. Esta, ao aproximar-se da viatura de AlfaZero, dosse:
-- Ah, o detective AlfaZero?! Não esperava vê-lo por aqui.
-- Briana, descobriste alguma coisa?
-- Nada, detective AlfaZero. O homem parece ser de uma integridade irrepreensível. Profissional, honesto, amigo das suas clientes, muito atencioso, enfim. Não detectei absolutamente nada que o possa reprovar.
-- Briana, vê se descobres o que querem dizer as iniciais “TORF”.
-- “TORF”?! O que quererá isso dizer?! Perguntou a Briana, incrédula.
-- Para mim, disse AlfaZero, significa “Tráfico de Órgãos Reprodutores Femininos”, Briana. Mas, por aquilo que me acabas de dizer, parece que o seu real significado é outro.
-- Está bem detective AlfaZero. Vou ver se consigo descobrir o que significa isso.
-- Mas, Briana, ou é impressão minha ou hoje estás com um aspecto muito alegre. O que é que se passa?
--Então não ouviu a notícia que veio do Japão?
-- Ah, sim, Briana. Ouvi, ouvi! Depois vamos festejar. Agora, por favor, decifra-me, ainda, esse “TORF”. Descobre o que é que isso quer dizer, está bem? Nem que tenhas de vasculhar pastas e abrir gavetas e armários. Está em causa a descoberta do autor de um crime. E sem provas, nada poderá ser feito!
Por isso, Briana, põe todo o teu esforço nisso, está bem?
AlfaZero despediu-se de Briana e dirigiu-se para o seu apartamento-escritório na Marginal.

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Entretanto, mais uma vítima da “Doença Feminina dos Seis Meses” acabava de sucumbir. A notícia foi divulgada no noticiário das 20h30m pela televisão. A voz do apresentador soou, pesada e lúgubre: “Estimados telespectadores, é com pesar que anunciamos a morte da 77ª (Septuagésima sétima) vítima da “Doença Feminina dos Seis Meses”. Trata-se da senhora que em vida se chamou Antonieta Miranda, de 42 anos de idade, proprietária da pastelaria “Bolinhos do Céu” e residente no Mirarmar.

Ao ouvir a notícia no seu apartamento-escritório, AlfaZero fechou o televisor com ímpeto ao mesmo tempo que fez voar o seu pensamento para o Japão, para o pequeno detector electrónico, o “HHWD”, que era já considerado como sendo a grande maravilha do século XXI.

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Entretanto, a delegação ministerial angolana que se havia deslocado ao Japão para pedir às autoridades japonesas a sua assistência na detecção das causas da terrível “Doença Feminina dos Seis Meses”, que estava a dizimar as mulheres angolanas, particularmente de Luanda, a capital, regressou acompanhada de dois cientistas japoneses que traziam na bagagem um “HHWD”, preparado para, de imediato, dar início aos testes que conduziriam às causas da terrível doença. E, com efeito, os testes não se fizeram esperar, tal era a gravidade da situação. E, depois de alguns testes terem sido efectuados aos corpos de várias das mulheres falecidas, o “HHWD” apresentou o resultado:

“A causa da terrível doença desconhecida “Doença Feminina dos Seis Meses” era um produto altamente venenoso, mas de acção lenta, denominado “OXIKILATO” (uma combinação de cianogénio e kilatogénio) e que se infiltrava no organismo das vítimas através do cabelo.

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Ao ouvir o resultado dos testes, o pensamento de AlfaZero voou imediatamente para o cabeleireiro Afonso Cabral, o tal que tinha um salão de cabeleireira na Vila Alice, denominado “Penteados Modernos” e que a Laura Davinga frequentava para tirar o curso de cabeleireiro de senhoras.
-- Seria possível?! – interrogou-se AlfaZero. Seria possível que o Afonso Cabral tivesse assassinado a Laura Davinga para… para que ela não revelasse um segredo relacionado… relacionado com os cabelos… os cabelos que ele penteava… os cabelos por onde se infiltrava o “oxikilato”, o causador da terrível “Doença Feminina dos Seis Meses”?
-- Oh, que eu dou em doido!” – exclamou AlfaZero apertando a cabeça entre as mãos. Será possível?! O Afonso Cabral? O Afonso Cabral, cujas mãos produziam os penteados femininos mais belos da cidade e que por isso era procurado por senhoras de todas as classes e modos de vida, jovens e idosas, ricas e pobres? – Não, não pode ser! – exclamou AlfaZero sem, contudo, acreditar muito no que dizia, pois já havia tido tantas surpresas na sua vida de detective…

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AlfaZero tinha agora dois “Afonsos” como seus suspeitos: O Dr Afonso Mariano e o Cabeleireiro Afonso Cabral. Um deles, poderia ter sido o assassino de Laura Davinga mas também nenhum deles poderia ter sido. AlfaZero pegou no seu telemóvel e ligou para a Briana.
-- Briana, disse ele ao ser respondida a chamada, preciso de ti com urgência. Deixa, por enquanto, a investigação “TORF” e vem ter comigo.
-- Okay, detective AlfaZero, estou a caminho.

Passados 20 minutos, Briana estava junto de AlfaZero. Este disse-lhe assim que a viu:
-- Briana, vais ter de ir ao Cabeleireiro Afonso Cabral arranjar o cabelo. Escolhe um daqueles penteados que levam mais tempo, para termos tempo de acompanhar e observar todos os seus movimentos. Eu vou estar escondido no tecto e vou observar tudo a partir de uma pequena janelinha envidraçada que está junto de um dos aparelhos de ar condicionado.
-- Mas o detective AlfaZero suspeita que o cabeleireiro Afonso Cabral é que assassinou Laura Davinga?
-- Desconfio, desconfio sim, Briana. Desconfio dele e desconfio do Dr. Afonso Mariano. Mas precisamos de provas, Briana. Sem provas, nada feito. Bem, vamos à acção. Avança para o Salão “Penteados Modernos”. Eu vou à tua traz e logo que entrares eu vou subir para o tecto sem que ninguém me veja. Vamos!

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Quando Briana chegou ao Salão “Penteados Modernos” de Afonso Cabral, este estava sozinho, precisamente à espera da primeira cliente do dia. Foi, pois, com entusiasmo, que Afonso Cabral recebeu a Briana.
-- A minha primeira cliente de hoje é a senhorita…
-- Briana – respondeu a Briana, com um sorriso.
-- Ah, muito prazer em conhecê-la. Tem um nome muito bonito. E, com um dos meus penteados, será a jovem senhorita mais bela de Luanda, pelo menos por hoje. Venha aqui folhear esta revista e escolher um penteado. Escolha à vontade. Tenho penteados para todos os gostos e para todos os “bolsos”.


Entretanto, AlfaZero já se tinha instalado no tecto e já observava tudo o que se passava dentro do salão através da pequena janelinha. Esta janelinha estava colocada precisamente a meia distância entre o salão e o outro compartimento pelo que AlfaZero tinha uma visão perfeita, não só do salão onde se efectuavam os penteados mas também do outro compartimento que servia de pequeno armazém ou de escritório.

-- Gosto deste penteado aqui – disse a Briana indicando um dos penteados da revista que estava a observar.
-- Ah, tem muito bom gosto, disse Afonso Cabral. Este penteado é muito lindo. Mas olhe que leva, pelo menos, duas horas e é um pouco caro.
-- Não faz diferença. É este mesmo que eu quero, disse a Briana, resoluta.
-- Ah, então sente-se aqui nesta cadeira por favor e vamos já começar o trabalho.

Briana sentou-se e Afonso Cabral deu início ao penteado. Nos noventa minutos que se seguiram, Afonso Cabral não saiu do salão e de junto de Briana. Foram noventa minutos de lavagens (com água tirada de uma torneira colocada mesmo dentro do salão), de penteadelas, de secagens, de cortes, de arranjos, de endireitadelas, etc., etc.
-- Está quase, disse Afonso Cabral com um suspiro, ao fim de hora e meia de trabalho. Só falta agora, acrescentou ele, um pouco de óleo fortificante para tornar o seu cabelo mais forte e brilhante. Só um momento.

Afonso Cabral saiu pela primeira vez do salão desde que iniciara o penteado de Briana e dirigiu-se para o outro compartimento.

AlfaZero, de cima do telhado e através da pequena janelinha acompanhava todos os seus passos e movimentos. Ao chegar ao outro compartimento, Afonso Cabral abriu uma porta de um armário e dali retirou uma garrafa branca, tendo em seguida deitado um pouco do líquido que se encontrava na referida garrafa, num pequeno frasco. Depois, tornou a colocar a garrafa no armário e fechou a gaveta. Avançou, então, para o salão, com o frasco. Nesse preciso momento, AlfaZero saltou do tecto e, numa corrida vertiginosa entrou no salão no preciso momento em que Afonso Cabral se preparava para espalhar aquele líquido pelo cabelo de Briana.
-- Alto! Não se mexa! – gritou AlfaZero, ao entrar no salão. Dê-me esse frasco!
--Mas… isto é óleo para fortalecer…-- balbuciou Afonso Cabral.
-- Não interessa o que seja. Eu estou em serviço, disse AlfaZero e acrescentou: -- Se for realmente óleo para fortalecer e dar brilho ao cabelo, o frasco ser-lhe-á devolvido intacto e nada lhe acontecerá. E dê-me igualmente a garrafa de onde tirou este seu óleo.

Afonso Cabral foi ao outro compartimento, acompanhado de AlfaZero, tirou a garrafa do armário e entregou-a a este. Em seguida, AlfaZero telefonou ao Inspector Juvenal da AngoCrime pedindo-lhe que enviasse alguns agentes para montarem guarda ao Salão “Penteados Modernos” enquanto se faziam os testes ao produto que Afonso Cabral dizia ser “óleo fortificante” para o cabelo.

Aquele produto, pensava AlfaZero, poderia ser o terrível “oxikilato” o causador da morte de 77 mulheres, até ao momento. O “HHWD” daria o resultado em poucos minutos. Assim que chegaram os agentes da AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes) para montarem guarda e assim prevenirem que Afonso Cabral tentasse, precipitadamente, abandonar o país, caso o produto fosse, efectivamente, o “oxikilato”, AlfaZero disse à Briana:
-- Vamos, Briana.
E, dirigindo-se a Afonso Cabral, despediu-se dizendo:
--Senhor Afonso Cabral, se o seu óleo for realmente óleo para fortalecer o cabelo, a sua garrafa e o seu frasco ser-lhe-ão devidamente devolvidos. Temos de proceder assim porque está em causa a salvaguarda das vidas das nossas compatriotas. Aguarde apenas uma ou duas horas, e logo saberá a resposta.
E, acabando de dizer estas palavras, AlfaZero saiu do Salão de Afonso Cabral, acompanhado da Briana. Dirigiram-se para a viatura de AlfaZero, que se encontrava estacionada num local afastado. Dali, partiram para o Ministério da Saúde onde se encontravam os cientistas japoneses com o “HHWD” (Detector de Ondas Ocultas Humanas), para que o produto de Afonso Cabral fosse imediatamente identificado.

E não tardou. Dois minutos, foi o tempo que o “HHWD” necessitou para que no seu pequeno visor aparecesse, claro e legível, o nome do produto, cuja amostra de apenas duas gotas fora colocada no seu recipiente para líquidos. O nome do produto e a sua descrição surgiram, em letras vermelhas e legíveis: “OXIKILATO: Terrível e poderoso veneno de acção lenta, composto de CIANOGÉNIO e KILATOGÉNIO.”

Os olhos de AlfaZero, de Briana e dos presentes na sala onde se realizaram os testes, presos ao pequeno ecrã do “HHWD”, quase não acreditavam no que viam. Estava, assim, desvendada a causa da terrível “Doença Feminina dos Seis Meses”. Estava, assim, identificado o assassino, o terrível assassino das 77 (setenta e sete) mulheres angolanas vítimas da terrível doença. Afonso Cabral! O respeitável e admirado cabeleireiro proprietário do Salão “Penteados Modernos” da Vila Alice. O Cabeleireiro que fazia maravilhas nas cabeças das suas clientes, que as tornava belas e jovens, elegantes e sedutoras, para depois definharem até à morte…

Pedida a assistência de um psicólogo para determinar as causas que estariam por detrás do comportamento de Afonso Cabral, o mesmo conseguiu saber que Afonso Cabral fora criado por uma madrasta muito má que o maltratava e humilhava sem dó nem piedade tendo, segundo o psicólogo, esse comportamento da madrasta gerado um ódio viperino por ela em Afonso Cabral, ódio esse que, por indução, fora transferido para todas as mulheres que se cruzassem na sua vida. Em todas as mulheres, disse o psicólogo, Afonso Cabral “via” a madrasta e só se sentia feliz depois de as matar.

Afonso Cabral confessou igualmente ter assassinado Laura Davinga. Quando interrogado sobre o motivo que o levou a ir à casa de Laura Davinga e assassiná-la, Afonso Cabral deu a seguinte explicação:

“Num determinado dia, mais precisamente no dia em que faleceu a 73ª vítima, estava ele sozinho no seu Salão de Cabeleireiro, sentado de costas para a porta, a ouvir o noticiário na rádio, quando o locutor anunciou a morte da sua 73ª vítima. Nessa altura, sem se ter apercebido que Laura Davinga já havia acabado de entrar no Salão para a sua aula de cabeleireiro, inadvertidamente, ele exclamou, em voz alta:
--“Mais uma que se foi! O meu “oxikilato” há-de dizimá-las todas, uma por uma. Todas as que vierem ao meu Salão, serão aniquiladas.”

Ao acabar de dizer estas palavras, voltou-se para a porta e, com grande espanto seu, viu que Laura Davinga se encontrava de pé no meio do salão e que, por conseguinte, havia ouvido claramente as suas palavras. Nesse momento ele fingiu que não se apercebera de nada mas um pensamento tenebroso lhe passou imediatamente pela mente: “matá-la, matá-la imediatamente, antes que ela revelasse o segredo.

Então, assim que a aula terminou e ela saiu do salão, ele seguiu-a até à sua casa. Escondeu-se, por alguns momentos, por trás de um carro velho abandonado, muito próximo da casa dela. Então, foi até à casa dela, entrou pela varanda de trás e ali mesmo, onde a encontrou, em poucos segundos levou a cabo a seu plano macabro e cruel.


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Afonso Cabral foi julgado e condenado pelos crimes horríveis que cometeu. Quanto à camada feminina luandense, essa poderia, agora, dormir tranquilamente, sem pesadelos, sem temores, até ao amanhecer.

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-- Briana, tens de ir ao consultório do Dr. Afonso Mariano perguntar-lhe o que significam as iniciais “TORF”. Ardo em curiosidade por saber, – disse AlfaZero à sua amiga, no final da leitura da sentença de Afonso Cabral, que o condenava a prisão perpétua.
-- Ah, já me estava a esquecer disso, disse a Briana. Sim, vou para lá agora mesmo. Estou também curiosa por saber o que querem dizer essas iniciais.
-- Vamos no meu carro, disse AlfaZero.

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O Dr. Afonso Mariano estava já a arrumar as coisas para sair do seu consultório, depois de mais um dia de trabalho, quando a Briana lá chegou.
-- Então já se sente melhor senhorita Briana? – perguntou ele ao vê-la.
-- Sim, já, doutor. Sinto-me mesmo bem. Gostei muito do seu tratamento.
-- Obrigado pelo elogio, disse o médico com um sorriso.
-- Doutor, passei por aqui para lhe perguntar o que significam as iniciais “TORF”. É que uma amiga minha me falou dessa receita mas não compreendi bem o que ela me disse.
-- Ah, a receita “TORF”. Olhe Briana, a receita “TORF” é para as mulheres inférteis, quer dizer, para mulheres que não engravidam e que, por conseguinte, não podem ter filhos. A ciência descobriu, recentemente, que o óleo de rinoceronte é eficaz contra a infertilidade pois 98 mulheres estéreis em cada 100, que tomaram o óleo, conseguiram engravidar e conceber. A minha receita “TORF” vai, precisamente, nesse sentido. Ela significa: “Tome Oleo de Rinoceronte Frequentemente”.
-- Oh, que interessante! Muito obrigada, doutor. Estou esclarecida, disse a Briana, despedindo-se do médico.

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Já no carro com AlfaZero, Briana disse pausadamente, olhando para ele:
--“TORF”: Tome Oleo de Rinoceronte Frequentemente.
AlfaZero olhou para Briana meio espantado, tendo ela, então, explicado a AlfaZero o que o médico lhe dissera sobre o óleo de rinoceronte.
-- Briana, a ciência faz descobertas úteis e importantes e com base nessas descobertas os cientistas fazem grandes invenções. E foi com base numa dessas invenções, foi com base na invenção do “HHWD” que nós encerramos os casos “A Doença Feminina dos Seis Meses” e “O Assassinato de Laura Davinga”.
-- Sim tem razão, Detective AlfaZero – disse a Briana, com um suspiro de alívio. Mas detective AlfaZero – prosseguiuu ela -- não se esqueça do papagaio. Olhe que foi ele que nos deu a pista.
-- Ah, sim, Briana. Sem o testemunho do papagaio, tudo teria sido muito mais difícil.


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Nota: AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes).
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Escrito por
Helder Oliveira
(Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)
(Do Livro (não publicado)
“Detective AlfaZero em Acção”

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-- Helder Oliveira --
(Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)


 
Autor
HelderOliveira
 
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