"Snobs" ou, talvez, “snobes”... inglesismo para narizes empinados que, também se pode dizer, é gíria para que quem trata os outros com desdém.
Conheci, no outro dia, um indivíduo que se imaginava superior. Vá-se lá saber porquê! Um borra-botas sem eira nem beira e, veja-se só, armado em senhor.
Vestia o único fato que tinha, com um corte já muito fora de moda, muito "assetentalhado"... calças à boca de sino, cinto preto com uma fivela americana, camisa branca de colarinhos ponteagudos bem puxados e um casaco com duas rachas atrás e abas arredondadas. O típico bimbo de patilhas suíças a colar, quase, ao farfalhudo bigode. Mas, apesar da figura, o tratante, tinha-se em conta elevada e fazia questão de se fazer notar ao mundo, ornando com ares de nobre, a sua figura plebeu aburguesado.
Em certo dia, travou-se de razões com o empregado do café... um tipo brejeiro e fresco que tinha o cérebro na ponta de uma proverbial língua afiada.
A conversa foi além dos impropérios desregrados e, no desalinho, às duas por três, o serviçal farto de ser enxovalhado por aquele estalar de dedos desdenhoso e cínico do pretenso Dom, abeirou-se da personagem e chamou-o à razão. Sem grandes delongas assentou-lhe um soco directo na boca do estômago.
O indivíduo enrubesceu e, inflando as bochechas, sentou-se pesadamente escorregando pela cadeira da esplanada num jeito quase derretido. Acocorou-se sobre os joelhos. Enrolou-se, agarrado aos tornozelos enquanto cerrava os dentes e criava relevos na testa, já mais do que roxa. Que soco!
Se o olhar matasse, o dele, naquele momento, seria letal. Um misto de sofrimento com uma raiva descabida, raiava-lhe de vermelho o branco dos olhos e, num jeito enviesado, cuspia desejos de morte em todas as direcções.
Riam-se os mortais, os animais, a ralé. Já não há respeito pelos eleitos deste mundo está perdido.
Nunca se tinha visto, em toda a história, um soco tão efectivo e com um resultado tão marcado.
O empregado do café, deitou-lhe um olhar triunfante, levantando o queixo e inspirando com tanta força, que mais parecia querer sugar todo ar do mundo. Numa meia volta de costas direitas, à laia de “olé”, virou-se e seguiu para dentro, onde toda a gente o olhava com um misto de incredulidade e admiração... passou triunfante entre a mol que o chegou a vitoriar com umas palmadinhas nas costas e alguns, muitos sorrisos velados.
Ferido de morte no orgulho, o indivíduo, a custo, lá se foi pondo de joelhos e, apoiado numa das mãos, tentou levantar-se.
Que dor! A da dignidade achincalhada era a maior. Ai que dor!
Alguns dias depois, voltou a acontecer tudo de novo. A pose estava-lhe na massa e, pior que um vício, não a evitava.
Enfim...!
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.