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35ª foto - Cenas de arraial

 
Um tipo passou-se da marmita e deu, de chofre, uma traulitada na cachimónia do outro. Foi gesto enraivado e de potência marcada. Tudo por causa da flausina de decote até ao umbigo e minissaia até às nádegas, que se bamboleava, redonda, à frente da chusma. O raio da sirigaita era provocadora, não que fosse uma figura limpa mas porque se insinuava e explicitava.
A coisa tinha que azedar algum dia. Foi hoje.
Quando o Licas, qual patego preso pelo beicinho e para mais com muitas minis emborcadas, se apercebeu que o outro (que não era flor que se cheirasse) se armou em alarve, chegando as mãos ao bolo, foi o que se viu. Arranjou-se logo ali um trinta e um capaz de derrubar paredes.
O Licas ainda espumava que nem perdido e já o outro dava por si estatelado ao comprido na calçada.
O bailarico parou por momentos e os atónitos foliões tentaram perceber o imbróglio.
Foi coisa de pouca dura. Num instante começaram a voar copos, garrafas, punhos e cadeiras. Deu-se um arranca rabos digno do melhor arraial.
Elas arrancavam os cabelos umas às outras e praguejavam em agudos estridentes.
Eles esmurravam e pontapeavam, numa algazarra que ninguém entendia.
A autoridade fugia para os carros de serviço e as ambulâncias ficaram quietinhas à espera de clientela.
Aquilo durou para lá de três quartos de hora.
No fim, depois de já ninguém se aguentar em pé, por entre as dentaduras destruídas e as vestimentas estraçalhadas, todos engoliram mais umas minis e ficaram com dizeres para a volta das tascas no dia seguinte.
O Licas, esse herói, recebeu uns carinhos da magana amagou-se refastelado no seu colo.


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
Autor
Valdevinoxis
 
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