CONTATOS
PARTE V
EPÍLOGO
Os trigêmeos eram sucesso absoluto. Caio, ator, tinha como responsável por si, sua irmã Norma. Era ela quem cuidava dos seus interesses profissionais. Kléber, o jogador, tinha em seu irmão Wagner seu empresário e procurador, enquanto Danilo, o cantor, era empresariado por Sílvio e Geraldo, irmãos. Estavam distantes um do outro, mas sempre buscavam se comunicar-se entre si, pois, eram ligadíssimos, não só entre eles mesmos, porém à mãe, Emília. Danilo morava com a genitora, era o único que Emília havia por perto, já que os outros dois residiam fora. Nas férias de fim de ano estavam todos juntos, a família inteira se reunia na antiga residência. O momento era de festejos natalinos e todos já haviam chegado. Neste dia, à noite, Danilo faria um “show” num grande clube da cidade e todos foram prestigiá-lo.
Na hora do espetáculo, Danilo chamara ao palco os dois irmãos e eles se misturavam e como estavam vestidos igualmente, ficava impossível até para os familiares dizerem quem é quem. O público vibrava, ovacionava, gritava e muitos iam aos prantos, porque queriam porque queriam chegar próximo aos ídolos. No meio do “show” a segurança deu um vacilo e um garoto de 14 anos invadiu o palco. Agarrou-se a Danilo, beijava-o sem cessar e deu o maior trabalho para que o afastassem. Quando todos pensavam que tudo houvesse se resolvido, eis que o mesmo garoto outra vez invadiu o palco e novamente se agarra ao ídolo. Danilo o abraçou, pediu à segurança que o deixassem e colocou o invasor num lugar especial, teria uma conversa com ele nos camarins. Quando o espetáculo terminou, Danilo o levou até os camarins e se iniciou um diálogo.
- Como é seu nome? – Perguntou.
- Chamo-me George – respondeu o intruso fã.
- Por que você invadiu o palco desta forma, até atrapalhando a apresentação? – Novamente Danilo interrogou.
- Ah... cara! Você é meu maior ídolo, sou louco por você, adoro suas canções...- respondeu George.
- Qual sua idade? – Outra vez Danilo questionou.
- Amanhã completo 15 anos – disse – um ano menos que você.
- Está sempre presente em meus “shows”?
- Claro, nunca perdi um, é sério!
- Eu acredito – disse Danilo – como presente de aniversário, levá-lo-ei comigo hoje para minha casa. Passará o dia amanhã em minha companhia e na dos meus irmãos. Quer?
- Nossa! – espantou-se o garoto – Este é o melhor presente que eu poderia ganhar. Quero sim, posso sim... – concluiu, chorando de alegria.
- Como comunicar aos seus pais? – Indagou Danilo.
- Se você permitir, quando chegarmos à sua casa eu ligo para eles avisando.
- Eu permito – confirmou Danilo – Venha, acompanhe-me.
George o seguiu com o braço sobre o ombro do ídolo. Certamente, naquele instante, não se lembrava do resto do mundo. Durante a viagem até a residência, Danilo conversou com George e pediu a ele.
- Por favor, veja o que estou a fazer por você, só peço que nunca diga aos outros onde fica minha casa, caso contrário nunca mais o receberei, entendido?
- Entendido. Pode ficar certo de que guardarei este segredo. – Prometeu George.
George foi apresentado aos outros irmãos de Danilo: Caio e Kléber. Estavam todos juntos no terraço da residência.
- Nossa! Como vocês são lindos! – Elogiou George – mas eu sou homem, viu?
Todos riram.
- Posso telefonar para minha casa e comunicar aos meus pais? – George pediu.
- Tome, disse Danilo, ligue aqui do meu celular.
George fez a ligação e seus pais ficaram contentes porque o filho estava a realizar um sonho.
- Amanhã, minha mãe, ele manda o motorista deixar-me em casa. Pode ficar tranquila. Até!
- E a? – perguntou Danilo – eles se aborreceram?
- Que nada! Compreenderam que é um presente de aniversário. – Justificou George.
Danilo e os irmãos levaram George até a cozinha e, lá, apresentaram ele à Emília.
- George – disse Danilo – esta é nossa mãe.
- Olá, senhora! Boa noite!
- Oi, tudo bem? Quem é este garoto tão lindo, Danilo?
- É um fã, mainha. Aquele que invadiu o palco por duas vezes. Amanhã é o aniversário de 15 anos dele, então resolvi presenteá-lo, deixando-o passar esta noite conosco até a tarde do dia seguinte. – Relatou Danilo.
- Fez muito bem, mais um amigo que você ganhou, não é...?
- George, senhora...
- Emília, sua amiga!
Apertaram as mãos e deram um forte abraço.
- Está com fome, George? – Perguntou Kléber.
- Para falar a verdade, estou. O que vamos comer?
Foi Caio quem respondeu.
- Macarronada com atum. Gosta?
- Adoro. E para beber?
Novamente Caio respondeu.
- Qualquer refrigerante que você escolha, ou se preferir, um delicioso suco de abacaxi.
- Prefiro o suco de abacaxi – colocou George – refrigerante engorda.
E comeram até fartarem-se. Emília despediu-se da garotada, estava cansada e com sono.
- Até amanhã, garotos, durmam bem.
Todos se dirigiram até Emília e a beijaram. A meninada ficou a sós, então Kléber teve uma ideia.
- Você gosta de piscina, George? Sabe nadar?
- Sim, gosto de piscina e sei nadar muito bem, só não posso tomar banho..
- Por que? – Indagou Caio.
- Porque não trouxe comigo roupa adequada. – Respondeu George.
- Não está de cueca? – Interrogou Caio, novamente.
- Estou...
- Então pronto, resolvido o problema.
Saíram da cozinha e se foram para o quarto onde os garotos dormiam. Lá todos se despiram e ficaram de cuecas e, assim vestidos, se dirigiram à piscina.
- Minha cueca é branca – disse George – nem me lembrei disso, deve estar aparecendo tudo...
- Para ser sincero, está – confirmou Kléber – porém não prestamos atenção a isso, pode tomar seu banho de piscina tranquilo.
Positivamente fora uma noite feliz no calendário de George. Além de conseguir encontrar-se ao lado de seus ídolos, ainda os tinha ali perto de si e na maior intimidade. Estava no mundo da lua e realmente ficaram todos totalmente desnudos quando deram por encerrado o banho e foram para o banheiro tomar banho e tirar o cloro do cabelo. George ficou meio constrangido, mas como os três estavam sem nada, logo ficou também. E o banho foi uma grande anarquia, um jogando água no outro. Depois deram a ele uma toalha e um caução emprestado para dormir. A cueca molhada, ele a deixou estendida no banheiro para secar.
Eram duas e meia da manhã quando se deitaram, contudo o sono estava longe de chegar e ficaram a papear. Dialogaram sobre alguns assuntos até que Caio e Kléber finalmente dormiram e George e Danilo ficaram ainda acordados. Danilo pediu.
- Vem para cá, fica aqui na mesma cama, assim podemos conversar e não acordamos quem está a dormir.
George não cabia em si de contentamento.
- Está feliz com o presente que recebeu de nós? - Danilo perguntou.
- Então... – Respondeu George.
- Você usa relógio? – De novo Danilo interrogou.
- Uso, mas o meu roubaram e ainda não pude comprar outro.
- Amanhã vai ganhar um novinho em folha- afirmou Danilo – tenho aí guardado um ainda na caixa, nem usei ainda. Darei de presente pelo seu aniversário.
- Sério? – Emocionou-se George, sem acreditar direito no que ouvia.
- Sim. Logo cedo o darei a você – Danilo confirmou – Diga-me uma coisa: por que gosta tanto de mim assim?
- Difícil de responder – explicou George – Para o amor não há explicação e eu o amo muito como meu ídolo que é... amor de fã!
- Eu sei, agora vamos dormir que já estou com sono.
E adormeceram. Acordaram-se por volta das 9 horas. Arrumaram-se e foram tomar o café da manhã. Foi um dia inesquecível para George. No final da tarde, Danilo pediu ao motorista que o deixasse em casa.
- Obrigado por tudo, Danilo. Agora somos amigos. Adorei o relógio.
Beijou Danilo no rosto e foi embora, até parecia que havia ganho um prêmio da loteria.
- Até – disse Danilo – Feliz Natal para você e seus familiares.
Após os festejos de final de ano, os trigêmeos voltariam a separar-se, cada qual seguiria seu destino, só que nos primeiros dias janeiro, antes de Caio e Kléber viajarem, Emília sentiu-se mal e nem houve tempo para socorrê-la. Um colapso fulminante a levou para os céus, onde certamente encontrar-se-ia com Vinícius, o grande amor de sua vida.
Os trigêmeos ficaram tristes, assim como todos os membros daquela família. Suas vidas seguiriam adiante e todos necessitavam viver.
Cada vez mais Caio, Kléber e Danilo faziam sucesso, cada vez mais ficavam mais ricos e, assim,
seguiam os dias futuros de suas existências: ora casando, ora separando, ora casando outra vez...
Por ironia do destino, nunca poderiam ser pais, pois, coincidentemente, os três eram estéreis.
FIM