Desde os tempos em que eu contemplava os enterros quando passavam pela Rua Jaime Gomes, eu sempre me imaginei de partida. E eu engolia em seco, e partia um pouco mais com aquele que ora partia rua afora... Eu via os homens reunidos no Armazém Estrela, e me admirava das suas faces medrosas: por que o medo? Cagões!
Estou de partida, e nada, nenhum traço de mim está ficando para trás. Sei-me tal e qual a pedra caída num poço fundo: no máximo, agitou a água brevemente, depois, sumiu, para sempre.
Estritamente por essa razão, isto é, por estar [sempre] de partida, eu não pergunto por ninguém que não mais fala comigo; não desejo saber se ofendi [ora, que se explodam os melindres todos!], e também, se fui ofendido, já esqueci. Ofensa é vômito de urubu: seca e fede... não vale remexer, 'xa p'ra lá, uai!
________________________
[Ilhabela, 02 de maio de 2014]
[Em tempo: a minha geografia de vida é a de Araguari-MG, ou a de Itumbiara-GO; o resto é desterro].