Perambulando por veredas melancólicas,
não consigo descansar,
não tenho paz: o espírito definha.
Minha cabeça está girando,
mesmo depois de percorrer
meandros insondáveis da noite,
ninguém aguarda o meu retorno.
Então uivo um apelo veemente,
lamento triste e profundo:
quero desafiar a sensibilidade da lua
diante desse sentido sofrer.
Recordando-me com alguma amargura
pergunto sem obter resposta:
“- onde está a voz, nunca vacilante,
onde está a boca que tanto adorei,
observando na sua alcova
entre os lençóis em desalinho,
mal cobrindo seu corpo sensual
enquanto brilhava aqui fora,
invadindo a janela na noite escura o luar? “
“ - Onde estão os olhos, as mãos,
os ombros nus provocantes,
quando na cadeira jogado era o vestido,
depois de uma noite de beijos,
depois de uma noite cheia de carícias? “
Os olhos ainda estavam sorrindo
embora ainda não sabiam,
ser aquela noite a última para nós.
Hoje, sou aquele que vive da noite,
noite fechada, escuridão completa,
apenas guiado pelas réstias do luar .
Abatido e permeado de desespero
impotente diante desse desamor,
resta agora em longo plangido
fazer apelo cáusticos à lua bela,
despertando nela um pouco de piedade
convidando-a então a refletir.
E num suspiro, olho a lua
num longo uivo melancólico e sentido
perguntado, desesperado e dolorido:
“Diga-me, lua, se não sofre,
quando ouve distante o uivo de um lobo,
saudando lascivo seu círculo brilhante?”
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."