Poemas : 

Solução de continuidade sem solução dos pontos e linhas

 
Outra vez deslizar sobre véu de nuvens,
flutuar sobre o verde daquela paisagem.
Fluir através de intenso éter emaranhado,
pairar sobre um arco-íris de escamas.
Ver pinheiros japoneses com gráficos da árvore,
sentir misteriosa conspiração, em curso
acima e para baixo, movimentos de convergência
mansamente consoantes com vogais em consonância.

Então, ao mesmo tempo sorrir durante o sono,
sinos tilintando na torre íngreme congelada,
subir para os céus, braços estendidos, tenso
levar todos sonhos até o topo da montanha,
fechando um círculo completo no pescoço,
no fluxo de luz, influxos de dor, solapamento do sono.
Fervendo na memória, girar como um dervixe
até desvanecimento de oitavas em uníssono tom.

Depois, empalidecer no espaço, ecos de luz e sombra,
interruptas subidas intermináveis ao firmamento,
desde o céu sombrio, desde a praça sem quadros famosos.
Trancar-se com dúvidas sobre a origem da luz,
com dinamites gordinhas minutos antes da detonação,
e o brilho do sol na parede chiando geometricamente;
talvez ouvir sem assustar os soluções do vento,
eternidade de verdes ramas, confusão, farfalhar das asas.

E no final de tudo, sentir-se satisfeito mirando lírio branco,
e uma rosa translúcida como a memória de uma mulher idosa;
na solução de continuidade sem solução dos pontos e linhas,
tremer de frio na noite azul, mergulhar em escuro abismo.

 
Autor
FilamposKanoziro
 
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