Sim, certos olhos me guardam
silenciosamente dos erros
armados pelos meus passos.
São os olhos misteriosos que varam
as capas dos livros que li e ruminei —
curam-me a ânsia de opinar os olhos sábios do Grande Sertão: Veredas;
ataca a minha arrogância o olhar que vem das Meditações de Marcus Aurelius, de Epicuro, de Platão;
vigia-me as vontades pérfidas a egípcia sabedoria dos Provérbios, do Eclesiastes;
avisam-me do caráter real dos homens O Príncipe, de Maquiavel e o Leviathan, de Thomas Hobbes;
cura-me da falsa desculpa do inconsciente e coloca-me diante de mim mesmo como responsável por criar sentidos, O Ser e o Nada, de Sartre...
... E não posso cortar esta lista sem mencionar a pedra,
sim, No meio do Caminho, tinha uma pedra,
tinha, tem, e terá sempre uma pedra de tropeço,
Mas o finado João Rosa lembra-me
que tropeçar também ajuda a caminhar;
e Sartre me mostra que, se for uma pedra muito grande,
eu posso subir lá no topo dela, e descobrir oportunidades novas!
Ah... depois, se me der vontade,
corrijo as injustiças que cometi
contra outros olhos que me olham
desde a prateleira dos meus livros...
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[Ilhabela, 21 de abril de 2014]