Para te amar piquei-me numa alcateia de cactos. Uivei como um lobo
Para te amar fiz das tripas coração, juntei cominhos à alfazema da tua boca
Para te amar colhi um segredo que não posso dizer, um confessionário triste
Um rasto de formigas, um pedaço do pão do teu ventre comido por pássaros
Na casa de chocolate, tu eras, na ombreira da porta, um beijo que parecia de mel
Um caçador que disparou sobre a avó da cegueira que não tinha idade nem arte
E depois encheu de pedras o ventre dos sonhos, Gratel cheia de garbo, porcos
Vou contar-te como me sinto: um silvo de bala, uma avó, um sonho não cumprido
E tu, capuchinho vermelho do azul dos olhos, és a lagoa mais bela da casa derrubada
A palha onde os ratos que roem o poema pelos olhos dos leitores, acasalam
E quem me dera, e quem me dera, que tu fosses destas histórias das coisas, Cinderela
Uma espécie da carochinha - quem quer casar, quem casar, com um verbo pequenino?
E eu, meu amor, minha vida, meu teatro de sonhos, fosse apenas o adjectivo mais curto:
- Só poema, só história, só personagem, só gente, só multidão, só tu, só eu
Só.