NECESSIDADE
Preciso arrancar do peito o poema
Que teima em fazer-se mudo.
Preciso fazer sangrar a alma
Até que a última gota se transforme em lágrima.
Nem só de risos vive o palhaço.
Preciso recriar a noite com seus mistérios
Para encontrar o amor das prostitutas
E a solidariedade dos embriagados.
Preciso... Ah! Como eu preciso ser
Muito mais do que um demônio
Para enfeitiçar o tempo.
Preciso encontrar um velho amigo
Mesmo que apoiado em muletas
Ele possa ouvir a minha solidão.
Preciso tatuar no vento a imagem do teu corpo
Para que as tempestades sejam perfumadas.
Preciso decifrar a esfinge
Que se esconde em tua alma
Para não ser devorado
Pelos germes da incompreensão.
Preciso brincar com as crianças
Que visitarão o meu túmulo
Em busca do último verso:
A elas pertencem o reino das palavras.
Preciso ouvir o canto das sereias
Para que a minha canção seja imortalizada.
Preciso inverter o percurso do sol
Para reinventar a humanidade.
Preciso! Ah! Como eu preciso!