A tarde já caminhava para a noite quando subi para fechar as janelas
do quarto das crianças. Então, lembrei-me de você.
Depois, fui fechar as janelas do quarto de hospedes e novamente você
veio a minha lembrança. Desci, Segui em direção à cozinha, porém, ao ver a escada que leva a nossa suíte, outra vez me lembrei de você.
Fui subindo degrau por degrau até que entrei em nosso dormitório, ao ver a cama vazia, os pensamentos que dormiam dentro de mim acordaram.
Sentei-me à beira da cama e deixei que os meus olhos percorressem ,
todo aquele ambiente e lentamente fui fazendo uma viagem ao redor
de tudo.
Lá estava o toucador modelo Luiz XV, e sobre ele o porta retratos com a nossa fotografia. Aquela que nós tiramos lá no parque do Ibirapuera
naquela manhã do mês de abril.
Aliás, nem fomos nós que a tiramos, na verdade, nós pedimos para alguém que passava por ali naquele instante que a tirasse para nós,
pois queríamos que saíssemos abraçadinhos e sorrindo de felicidade
por estarmos juntos.
"Ah, que dia inesquecível foi aquele!”
A esquerda do porta retratos, estava o porta jóias dourado em formato de baú, o que compramos numa feira de artesanatos quando estivemos
a passeio em Salvador. Peguei o porta jóias, acariciei-o em minhas mãos e delicadamente ergui a tampa que o fechava.e constatei que haviam
brincos, colares, pulseiras e anéis. Mais ao fundo, sob umas pétalas de rosas já ressequidas pelo tempo, havia um pequeno envelope verde e
dentro dele, o primeiro poema de amor que compus para você.
Ali estava ele, bem guardado como se também fosse uma joia preciosa. E para você, certamente, aquele não era apenas um poema de amor. E, sim, uma joia de inestimável valor. Do lado oposto, estava a caixa de música, a qual eu havia lhe presenteado no seu aniversário.
Eis que, ao abri-la, num passe de mágica a bailarina se pôs a dançar,
quando eu ouvi o som que vinha da caixa, pareceu-me que as antigas cenas se repetiram e eram tão reais.
Cheguei a sentir o calor de sua mão entrelaçada a minha e também o sabor de seu beijo doce.
Ah, quantas vezes nos beijamos, foram tantas..., tantas... Mas,meus devaneios duraram tão pouco, apenas alguns segundos, porque logo voltei a realidade.
Eu estava ali, em nosso ninho completamente só, todavia, os meus
olhos continuavam a percorrer e a buscar por você. Entretanto, era em vão, pois você não se encontrava em parte alguma daquele espaço e mesmo assim meus olhos persistiam em procurar por você ainda que sabendo que era inútil.
Foi aí que eu não consegui mais me conter e comecei a chorar.
Ah, e como eu chorei!
Roberto Jun