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Zeco, o órfão - cap. III

 
ZECO, O ÓRFÃO
Capítulo III
Revelações
Alguns meses se passaram. Zeco dava sequência à sua vida de estudante e de dono de casa. Continuava sozinho, não pensava em companhia. À sua casa apenas frequentava a faxineira que trabalhava há anos e, mesmo com a morte do pai, Zeco a manteve. Doralice ia três vezes por semana. Em duas delas fazia a faxina completa da mansão, sempre acompanhada de duas filhas: Rita e Carmem. Na terceira vez ia para lavar e engomar. De quinze em quinze dias Zeco abastecia a geladeira e seguia almoçando e jantando fora. As pessoas se perguntavam como ele conseguia manter-se, Zeco dizia que Alfredo Flores deixara em sua poupança o suficiente para que vivesse bem durante alguns anos, tempo exato para que crescesse e passasse a ganhar o próprio sustento. Como ele não demonstrasse preocupação em relação a isso, as pessoas se convenciam e não atiravam mais perguntas. Foi num dia de sábado à tarde que Zeco teve uma surpresa, grande surpresa, aliás. Neste dia ele quebrou seu próprio jejum de estar só e convidara Rodrigo a passar consigo o final de semana. Os dois se tornaram grandes amigos: jogavam bola, assistiam a filmes, nadavam na piscina e conversavam à vontade, sem ninguém para incomodá-los. Eram 4 horas da tarde, ambos estavam na sala a jogar dominó. O telefone tocou várias vezes, até que Zeco atendeu.
- É da residência de Oscar Flores?
- Sim, é o próprio Oscar quem fala. Quem é? O que quer?
- Oscar, meu nome é Zélia. Preciso muito falar com você. Quando poderíamos nos encontrar?
- Desculpe-me, Srta. Zéila, mas não a conheço e nada tenho para conversar com sua pessoa.
- Tem sim. É do seu interesse, Oscar. Sei que seu pai morreu e que vive sozinho...
- Isso só é da minha conta, Srta. Zélia, da conta de mais ninguém.
- Engano seu, Oscar. Tenho revelações que podem mudar sua vida. É importante.
- Revelações sobre a vida de meu pai não me interessam. Desculpe-me, passe bem...
- Espere! Não é apenas sobre seu pai, é sobre você também...
- Não quero saber, Srta. Zélia. Deixe-me em paz, por favor...
- Você não gostaria de conhecer sua mãe, Oscar?
Zeco ficou sem fôlego... Depois respondeu.
- Minha mãe morreu durante o meu parto, Srta. Zélia. Por favor, encerre esta conversa...
- Não posso. Seu pai sempre o enganou em relação à sua mãe. Sei quem é ela e onde ela mora...
- Mentira! – gritava Zeco. – Está querendo tirar dinheiro de mim!
- Juro que não! Deixe-me falar com você pessoalmente, contar-lhe-ei toda a verdade.
Zeco, de repente, ficou curioso com aquela história.
- Está bem. Sabe onde moro? – Indagou.
- Sei. – Respondeu Zélia.
- Então venha à minha casa agora. Estou à sua espera.
E desligou. Suava frio. Rodrigo espantou-se.
- Está acontecendo alguma coisa, Zeco?
- Parece que sim. Vai chegar aí uma mulher chamada Zélia. Ela vem me revelar coisas sobre meu pai e sobre mim. Não vou pedir para você retirar-se, por isso você tudo vai escutar, mas me prometa guardar segredo sobre o que ouvir...
- Eu prometo. Você é meu melhor amigo. Saberei guardar suas conveniências.
- Obrigado! Sei que posso confiar em sua discrição.
- Poderá sempre, Zeco.
Ansiosamente aguardavam a chegada de Zélia. Esta chegou e tocou a campainha do portão.
- Atende, Rodrigo, por favor. Faça-a entrar e a traga até aqui.
- Claro, amigo, é pra já!
Rodrigo abriu o portão e trouxe Zélia até a sala. Zeco , apesar de desconfiado, recebeu bem sua visita.
- Olá, sou Oscar, pode chamar-me Zeco, é como todos me conhecem e desculpe por estarmos assim bem à vontade, só de cuecas...
- Oi, boa tarde. Está bem, Zeco, não tem importância, você está em sua casa. Tenho sede, consiga-me com copo com água.
Rodrigo foi à cozinha e trouxe água bastante gelada. Zélia agradeceu.
- Obrigada! Agora ganho forças para revelar a você sua verdadeira origem.
- Quê origem? – Questionou Zeco. – Já lhe disse que minha mãe morreu em consequência do meu parto.
- Isso foi o que Alfredo Flores contou-lhe. Mas a verdade é que...
E tudo contou a Zeco que bebia as palavras e os olhos desabaram em lágrimas.
- Desculpe-me, Zeco, sofro muito em minha consciência com esse meu pecado. Arrependo-me do que fiz, mas minha situação era desesperadora por causa de meu pai como lhe disse. Agora quero consertar meu erro.
Zeco abraçou-se a Rodrigo e chorou copiosamente no ombro do amigo. Rodrigo também ficara deveras emocionado.
Zélia esperou que Zeco se acalmasse um pouco, depois seguiu...
- Não gostaria de conhecer Mercedes, sua mãe? Não gostaria de conhecer Maurício, seu pai biológico? Não gostaria de conhecer seus irmãos?
- Chega! – Gritou Zeco, exasperado. – Você não tem o direito de importunar minha vida. Eu só tive um pai: Alfredo Flores, nunca tive mãe, nem irmãos... Não quero saber de ninguém! Não
quero conhecer ninguém! Por favor, vá embora!
- Está bem, Zeco. É um direito seu desejar conhecê-los ou não. Mas caso decida querer conhecê-los, basta ligar para este número, é do meu celular. Eu o atenderei e o levarei até eles.
E deixou um cartão sobre a mesa da sala. Saiu e foi embora. Rodrigo a acompanhou até o portão.
- É tudo verdade o que a senhora disse? Indagou Rodrigo.
- É. Convença ele a conhecer a família, é um favor que me faz. – Respondeu Zélia.
- Não sei se devo me meter nisto... Por que a senhora não traz todo este povo aqui?- Propôs Rodrigo.
- Seria pior. Quero que as coisas se resolvam da melhor maneira para ambos os lados.
- Esta bem. Até logo, Dona Zélia.
- Até, menino. Até...
Rodrigo logo estava na sala novamente. Zeco outra vez o abraçou chorando. Soluçava e Rodrigo sentou-se no tapete e permitiu que Zeco colocasse a cabeça sobre sua coxa. Rodrigo igualmente continuou a chorar, porém precisava ser forte e apoiar o melhor amigo nesta situação tão complicada. Zeco cessou as lágrimas e adormeceu profundamente. Rodrigo afagava-lhe os cabelos carinhosamente e, com a cabeça recostada ao sofá, também caiu num profundo sono. Quando despertaram, já era noite. Zeco levantou-se, acordou o amigo e o convidou para nadarem na piscina. Apesar de sorrirem e brincarem, o clima estava pesado e Rodrigo não quis tocar no assunto. Foi Zeco quem quebrou o gelo.
- Fico a matutar, Rodrigo, por que meu pai fez isso comigo... Tenho certeza de que a tal Zélia não mentiu...
- Sua vida de repente virou uma rebelião... Também acho que essa Zélia falou a verdade...
- Rodrigo, o que você faria se estivesse em meu lugar?
- Não sei, amigo... É tão difícil e complicado opinar... Não gosto de palpitar a vida dos outros.
Respondeu Rodrigo.
- Eu estou pedindo! Palpite! É importante para mim sua opinião. Por favor!
- Eu deixaria a poeira baixar... Depois eu iria conhecer minha família que a vida me extraviou.
- Sério? Faria isso mesmo?
- Com certeza, Zeco. Lembre-se de que você está só, vive só, não tem ninguém...
- Isto é verdade. Mas como será que eles são? Serão mesmo pobres como afirmou Zélia?
-Zélia não disse que eles eram pobres, somente frisou que pertenciam a uma classe média, que vivem razoavelmente bem, mas que não são ricos...
- Não sei, Rodrigo, estou confuso... Necessito de pensar bastante sobre esse assunto. Vamos subir, trocar de roupa e sair para comermos alguma coisa diferente. Depois penso melhor, com mais calma. Deixaram a piscina e foram para o quarto de Zeco. Tomaram banho e se vestiram para sair. Foram a uma pizzaria. Ambos adoravam pizza e as que comeram estavam deliciosas...
FIM DO CAPÍTULO III

 
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imelo10
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