Poemas : 

Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam apenas os passos, o que é que eu faço por aqui? (25 de Abril sempre!)

 
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Ou um mar por perto ou desenganos afins
Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam apenas os passos, o que é que eu faço por aqui?

E o olhar?

Poder-te-ia sempre reconhecer País mesmo pelas pausas da visão turvada
Quando andorinhas são colhidas no meio da escuridão
Que se clama e grita vida.

Sei do caos desta terra que não é Minha
Que não será Nossa o mundo e
Perco-me contra os nadas que me desabrigam deste
(Ou de outro) Abril onde cravos vermelhos apodreceram
Tanta a prece pelo regresso do nevoeiro dos sonhos.
Daqueles que um dia chamaram de heróis
Jazem pelas poeiras dos caminhos veredas promontórios
De sítio nenhum sós e abandonados

Os homens já não falam do amar (que cansa)
Da esperança das lutas
Nem das Tágides correndo descalças rodeando os barcos
Apenas adamastores engrossam exércitos silenciosos Devastadores.

Sempre um mar por perto que se espraia pelo areal
Das mulheres vestidas de negro sem lágrimas
Símiles ao triste fado repetido tão perpétuo
Pelas rochas alisadas ou a poesia enterrada nas entranhas do
Clamor incapaz
Estéril.

E ouço os teus gemidos revolta calada dos Rostos
Inexpressivos a que se juntam palavras outrora
Deslumbradas como as paredes caiadas das casas.

(I)

Hoje o meu País está em ruínas.
O homem do leme já nem olha à popa
Mirando o vermelho e verde resta a cinza

A gesta a Utopia a Alma ainda resistem



(Ricardo Pocinho)


(25 de Abril sempre!
Afinal há mais uma batalha a vencer, e eu julgava que não...)






"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno:veio o vento desfolha las..."
(Camilo Pessanha)

http://ricardopocinho.blogspot.com/
ricardopocinho@hotmail.com

 
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Transversal
 
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Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 23/04/2014 17:22  Atualizado: 23/04/2014 17:22
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam ape...
"Pátria"

"Por um país de pedra e vento duro
por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tão amadas
palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Eu minha vida daria
E vivo neste tormento"

(“Pátria” in “Livro Sexto”, 1962, Sophia de Mello Breyner)

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 23/04/2014 19:06  Atualizado: 23/04/2014 19:06
Usuário desde: 03/09/2012
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 Re: Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam ape...
Parabéns Transversal
Belo texto e um convite à reflexão(ação)!

Afinal há mais uma batalha a vencer

Beijos!
Janna


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/04/2014 19:30  Atualizado: 23/04/2014 19:30
 Re: Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam ape...
essa nobre data merece um poema à altura, exactamente como este, para que a liberdade, a justiça, a fraternidade, nuncam sejam esquecidas. parabéns, Ricardo.


Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 23/04/2014 21:53  Atualizado: 23/04/2014 21:53
Colaborador
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Mensagens: 10200
 Re: Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam ape...
Boa noite Ricardo,enquanto os mandatários estão destruindo apenas o patrimônio público do estado(população)as coisas ficam nebulosas, mas a gente vai levando, mas quando estes inescrupulosos destroem o nosso encanto pela pátria, então estamos fadados ao inexorável fracasso. parabéns pelo contundente enredo poético, um forte abraço, MJ.


Enviado por Tópico
Robertojun
Publicado: 23/04/2014 23:09  Atualizado: 23/04/2014 23:09
Membro de honra
Usuário desde: 31/01/2014
Localidade: São Paulo
Mensagens: 2315
 Re: Desassossegos perdidos pelos nevoeiros que cercam ape...
Olá,Transversal!
Belo poema.

Abraço,
Roberto Jun