Poema traduzido:
Tu flutuas no espaço,
filho da alma!
As ondas da revolta
noite batem
em meu peito nu,
apesar do alvorecer.
E as águas da noite
revolta te lançam
à espuma do dia,
turva e amarga.
Guardiãozinho magnífico,
guardas a porta aberta
de meu fundo
espírito amante;
E, se te escondes nas sombras,
minhas várias dores
procuram-me avaras
e invejosas de minha calma.
No umbral escuro
te levantas feroz
e tuas asas brancas
lhe impedem os passos!
A manhã traz
ondas de luz e de flores
E tu cavalgas
nas ondas luminosas.
Não, não é a luz do dia
quem me chama
mas, sim, tuas mãozinhas
em meu travesseiro.
Me falam que estás longe:
loucuras me falam!
Eles têm tua sombra,
E eu tenho tua alma!
Essas são coisas novas
e estranhas para mim.
Eu sei que teus dois olhos
relampejam lá nas
distantes terras,
E nas douradas
ondas de ar que batem
na minha testa pálida.
Pudesse colher, com minha mão,
como numa colheita
de estrelas, teus olhares:
tu flutuas no espaço,
filho da alma!
Poema original em espanhol:
Hijo del alma
Tú flotas sobre todo,
Hijo del alma!
De la revuelta noche
Las oleadas,
En mi seno desnudo
Déjante el alba;
Y del día la espuma
Turbia y amarga,
De la noche revueltas
Te echan las aguas.
Guardancillo magnánimo,
La no cerrada
Puerta de mi hondo espíritu
Amante guardas;
¡Y si en la sombra ocultas
Búscanme avaras,
De mi calma celosas,
Mis penas varias,
En el umbral oscuro
Fiero te alzas,
Y les cierran el paso
Tus alas blancas!
Ondas de luz y flores
Trae la mañana,
Y tú en las luminosas
Ondas cabalgas.
No es, no, la luz del día
La que me llama,
Sino tus manecitas
En mi almohada.
Me hablan de que estás lejos:
¡Locuras me hablan!
Ellos tienen tu sombra;
¡Yo tengo tu alma!
Ésas son cosas nuevas,
Mías y extrañas.
Yo sé que tus dos ojos
Allá en lejanas
Tierras relampaguean,?
Y en las doradas
Olas de aire que baten
Mi frente pálida,
Pudiera con mi mano,
Cual si haz segara
De estrellas, segar haces
De tus miradas!
¡Tú flotas sobre todo,
Hijo del alma!
JOSÉ MARTÍ (1853–1895) — Patriota cubano, pan-americanista. Como poeta, foi precursor do Modernismo, com grande influência nas letras hispano-americanas. Entendia a literatura como “expresión y forma de la vida de un pueblo”, defendendo uma poesia com “raíz en la tierra, y base de hecho real”.
Poema traduzido por Jefferson O. S. Santos e Luzimar G. Gouvea.