Segue os passos indolentes de um vassalo que rasteja arduamente em seu legado, praguejando algo em sigilo.
— Pérfido destino!
Enquanto sua própria dor atina, segue em direção à rua calçada com pedras retangulares cheias de musgos e ipês floridos à sua beirada, se recordando das palmas estendidas, da face levemente ruborizada e dos beijos inacabáveis.
À espreita estava ela (a Lua), decorando a noite sombria. Era confidente e guardiã nas demasiadas horas da primavera. Sua única testemunha incumbida. Acima das nuvens ensanguentadas de escarlate, observava.
Repentinamente, algo o acomete, como uma epifania. Estava aprisionado, novamente, em um de seus próprios aforismos. Divagando entre os fatos coagidos e seu mundinho extraordinariamente ilusório. Era como se a utopia fosse realidade e a realidade, utopia. E, sob o efeito do clarão de uma ideia, retomou a consciência por autocompaixão e senso de coesão instantâneo. Meramente, haveria tido sorte. Após recuperar a visão, vagava a centímetros de distância de um veículo célere e descontrolado (percebera).
— Azarão! — fora o que, de fato, pensara.
— Quanto tempo se leva para ir até a Lua e voltar? — refletiu. Por dias, voltou-se para dentro de si, encerrou as coisas pela metade e recusou-se a dormir.
— Jah! Passo horas despertado, arruinando as fortalezas de minha própria destreza com abuso de paixões, devaneios, cigarro e as mentiras de sempre. — percebeu com certo horror espasmódico. — E ainda assim, é mais comovente do que aquela velha clinomania estagnada... — Antes que pudesse concluir os pensamentos, sua língua se movera lentamente enquanto a boca se abria, absorvendo ar suficiente para dar impulso às cordas vocais que, vibrando, se tornaram verborragicamente lacônicas. Apavorado, o vassalo sibilava a resposta por entre os dentes:
— Segundos.
Joe.