Eu deveria ter mais cuidado comigo. Olhar por onde ando.
Eu preciso esquecer da minha idade e passar a viver apenas por viver. Mas não é fácil. A vida cobra muito de mim, bem mais do que das outras pessoas. Quando o dia amanhece e vejo a claridade tomar minha parede, como o crescimento da angustia de não ter descansado o suficiente, eu tenho medo. Eu tenho medo de viver.
Sempre fui muito triste, me escondo atrás da superficialidade das coisas. Eu tenho medo de me machucar. Sou covarde, o primeiro a correr. Eu roubo descaradamente facilidades, brechas, sou um boa-vida.
Pessoas assim, como eu, não devem se relacionar. Porque aparentamos uma força externa, que interiormente não passa de uma pequena sala vazia. Somos bem menos daquilo que você deseja e almeja. Eu sou humanamente pequeno, por isso me cubro com as vestes de outros. Invejo, assim espelho desejos meus. Minto, assim iludo-me de olhos abertos, mas encontro-me em sono pesado.
Quando encontrares pessoas assim, assim como eu. Ou talvez acabas de se lembrar de uma. Não tenhas raiva, somos de uma especie solitária, e lembre-se, vivemos por viver. Encare sem desprezo, pois somos pequenos, tão pequenos que cabemos na palma de sua mão.