Eu compartilho com você um brilho
de um olho, de um choro, de um trilho,
de um trem, de um bem, quase um filho,
parido na dor, do impossível amor, meu exílio,
não de própria vontade, pela necessidade, delírio.
Eu compartilho com você uma longa história
de muitas alegrias, de agonias, paixão e glória,
tantos percalços, velhos cadafalsos, palmatórias,
sofridas derrotas, da vida chacotas, algumas vitórias
sempre curativas, abençoadamente lenitivas, satisfatórias.
Eu compartilho com você um lugar nesse tempo
uma cumplicidade, uma doce brisa, um gelado vento,
que quase fala, que sempre estrala, incontáveis momentos
ambíguas torturas, enfermidade e cura, saúde e padecimento,
chagas expostas, chibatas nas costas, um ardor e um unguento.
Eu compartilho com você emoções sentidas,
mágicos lugares, cinemas, trens, Paulista, avenida,
a descoberta do amor, do primeiro calor, da despedida,
a minha implosão, meus restos no chão, a morte em vida
a sua implosão, seus restos no chão, e a eternidade prometida.
Do livro de poemas: "O trem dos meus dezoito anos" - editora Perse.