Poemas : 

Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos

 
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Um dia recordar-me-ei de outras cousas Até de mim.

Algumas ainda embrulhadas pelos nevoeiros
Resistindo aos loucos ventos e Clarões das noites
Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos.

Apenas sei do brilho das praias nuas onde
Juntávamos pegadas às velas das gaivotas adormecidas
E quando uma onda invadia o Espaço
Saltavas imaginando-te a transpor algum precipício.

Um dia mesmo que seja escondido pelas águas em Sobressalto
Os abismos revelarão os Segredos murmurados
Sem nexo pelos infinitos e estranhos ritmos da maresia.

Talvez me embale pelos rochedos banhados por marés Adormecidas alongando Margens.

(I)

Dos turbilhões contínuos Tropéis descontrolados de
Cavalos loucos no cume mais alto
Rebentam aloés refreando homens e mulheres que se espalham
Neste tártaro repleto de titãs pelas entranhas que apodrecem

Quão longe sobrevivas e silenciadas

Pelo grito dos náufragos em alto mar
Pelos sonhos longínquos que cegam.
Palavras como carpideiras sucedem-se em gritos suspensos num talvegue
Sem ecos apenas anunciando o suicídio do poema. Repentinos

Caminhos
Sós.

Pergunto-te
Afinal onde jazem os teus pesadelos?



(Ricardo Pocinho)


Nota:

Talvegue 1. Linha mais ou menos sinuosa, ao fundo de um vale, por onde correm as águas.
2. Linha de .interseção dos planos de duas encostas.


"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno:veio o vento desfolha las..."
(Camilo Pessanha)

http://ricardopocinho.blogspot.com/
ricardopocinho@hotmail.com

 
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Transversal
 
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Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 17/04/2014 10:44  Atualizado: 17/04/2014 10:44
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10799
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
Os teus poemas vertem em nós o entusiasmo pela leitura, fazem-nos imaginar regiões longuínquas e deixam-nos a sonhar por lá.
É tal a tua arte que as tuas palavras nos palpitam nos lábios.
És poeta pelo coração e não um qualquer versejador.
e eu adoro ler-te.

Abraço amigo
óptimo dia


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/04/2014 11:26  Atualizado: 17/04/2014 11:26
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
Poeta,

És um grande artista, um soberbo versejador!

Tuas palavras carregam a mais pura arte, a mais encantadora magia!

Obrigada por mais este presente!

Beijos,

Anggela


Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 17/04/2014 12:28  Atualizado: 17/04/2014 12:29
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5848
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
"Pelo grito dos náufragos em alto mar
Pelos sonhos longínquos que cegam.
Palavras como carpideiras sucedem-se em gritos suspensos num talvegue
Sem ecos apenas anunciando o suicídio do poema. Repentinos"


o poema suicida-se, neste mar de histórias, de labutas de sonhos e pesadelos,mas sempre surgirá um navegante com habilidades na arte de resgate, de ressurreição sobre a bela superfície da poesia.

afogo-me quando te leio, não há como evitar. parabéns!
obrigada.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/04/2014 13:40  Atualizado: 17/04/2014 14:54
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
Belo como sempre!


Enviado por Tópico
RaipoetaLonato2010
Publicado: 17/04/2014 18:53  Atualizado: 17/04/2014 18:53
Colaborador
Usuário desde: 13/03/2010
Localidade: Paulínia-SP
Mensagens: 2788
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
Faz bem a alma a leitura dos bons poetas.

"Um dia mesmo que seja escondido pelas águas em Sobressalto
Os abismos revelarão os Segredos murmurados
Sem nexo pelos infinitos e estranhos ritmos da maresia".

O poema in
teiro é rico em imagens e sonoridades, mas destaco esses versos.


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 18/04/2014 14:18  Atualizado: 18/04/2014 14:18
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11099
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
Ricardo,
Uma viagem pela linha que nos conduz até ao mais recôndito do teu talento.
Beijo e Boa Páscoa!
Nanda


Enviado por Tópico
RayNascimento
Publicado: 21/04/2014 04:02  Atualizado: 21/04/2014 12:48
Membro de honra
Usuário desde: 13/03/2012
Localidade: Monte Roraima - tríade fronteira Brasil/Guyana Inglesa/Venezuela - - Amazônia - Brasil
Mensagens: 6573
 Re: Regozijar-me-ei quiçá se pelos tempos esquecidos
Dias que cobrem-se
Com o manto-secreto
Das palavras perdidas
Nos poemas esquecidos...

Pelo tempo estendido
No corrimão do espaço
Embutido na lapela
Do vão do pensamento
Onde a mente se faz sã...

vagueando no papel
D'onde a nau navega
No lençol do mar
Os recifes que arrepiam
O dorso dum beijo deitado
No assoalho da pele...

Escrita com a semente
Regada no olhar penetrando
A enseada poética
Molhando a raiz da flor
Seivada de amor matriz...

Escrevendo mais um poema
No nexo que não há
No grafar dos lábios
Que beijam o cio da terra...

E num lenço de pele
Dorme aconchegado
Na concha da espera
Da constância-esperança
Iluminada pelo querer...

Simbolizando a mulher vestida
De caracóis dourados
A fada do tempo...
Que alimenta a voz da emoção
Perfumando nobres sentimentos
Que fazem ecos n'alma
Nos caminhos do coração
Percorrendo...

O vão do pensamento
Num amplexo de prazer e agonia...
D'um plexo solar
Devastado pela dor
Tentando juntar os pedaços
Que dele restou...
Que não seja somente
Tristeza e dor...

Ray Nascimento

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