O homem tece a rede.
A aranha suga a presa: arranca dela a substância. Uma bola na rede arranca delírios, não a substância.
O atleta faz dela a substância. Uma bala faz a morte: a bala não é a morte.
A mulher tece a vida no útero tumescente.
O feto comprime-se num mundo só seu, aguardando a vida-mundo. Amniótico, sereno, involucrado num universo único. O mundo-fora há que ser tecido com linha de amianto, numa tessitura intransponível.
O homem vê a rede, vê o mundo em sua rede. Um tecido alvo, vazio e sonha com uma rede cheia. Abarrotada de peixe, cheia de vida. A vida sorri todos os dias com dentes pontiagudos. A substância foge da rede e o homem agarra pelo chifres. Segue tecendo a rede da substância, a rede da vida.
JOEL DE SÁ