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OMBRO AMIGO

 
OMBRO AMIGO

Aceita a minha solidariedade,
Que ouso manifestar-te, finalmente,
Após tão prolongada hesitação!
Nestas palavras, sem qualquer vaidade,
Tento expressar, com gosto e lealmente
O que me despertou compreensão.

Comparo um pouco a minha à tua sorte,
Numa luta sem tréguas, dia a dia:
És ser humano, às vezes desfaleces!
Em pranto desabafas a dor forte!
E, se acaso eu te faço companhia,
Sofro, sem to dizer, quando padeces!

Não consigo, em silencio, demonstrar
Quanto desejo ver uma mudança,
Virando o teu inferno em paraíso!
Impotente, limito-me a sonhar…
Respires optimismo e confiança;
Seja realidade o teu sorriso…

Jovem, tiveste o sonho de mulher:
Viraste esposa e mãe, bem dedicada;
Na vida activa, foste professora.
Quantas frustrações tens de vencer!
Dentes cerrados, nunca acompanhada!
E, apesar dos queixumes, lutadora…

E, quando escuto as tuas confidencias,
Envolve-me a mais terna comoção,
E ao mesmo tempo, fico revoltado.
Sinto em tais narrações tantas carências!
Mas podes abrir sempre o coração:
Tarde, embora, estarei sempre ao teu lado!

Não quero interferir na tua vida;
Mas uma opinião permitirás,
A quem amaldiçoa os preconceitos:
Enfrenta a sociedade, fronte erguida,
Pois doutra forma, não triunfarás!
Todos temos virtudes e defeitos!

Não sufoquemos, nunca, os sentimentos,
Repelindo qualquer escravidão,
Até mesmo que seja conjugal!
Quando erramos, nos nossos casamentos,
Saibamos, lealmente, dizer “não”,
Recuperando, em pranto, o “menos mal”!...

Falo, sem a menor razão de queixa;
Mas imagino a dor de quem as tem,
Sem forças para arrepiar caminho!
Somos donos de nós; nunca se deixa
Fugir a independência, o maior bem!
Quem não deseja partilhar carinho!?...

Dá-lo, sem receber, é dor atroz,
Que depressa subjuga um ser humano
E, sem remédio, o lança num abismo!
Desalentado, perde a própria voz,
Vendo em tudo o que o cerca, desengano,
Vítima ingénua do maior egoísmo!

Foi assim que te achei, querida amiga:
Lançada em tão confuso labirinto,
Desconfiada, estás na defensiva.
Sincero, embora, nem sei que te diga!
Gostava adivinhasses o que sinto:
Não vivas, minha flor, sempre à deriva!...

Quem vai acreditar num pessimista,
Que aqui te deixa a nu o coração,
Cujo prazer, falar-te com franqueza.
Não me leves a mal, que tanto insista:
Vamos pensar que as coisas mudarão,
E não viverás mais tão indefesa!

Possas contar ainda muitos anos,
Numa doce atmosfera de alegria,
Que os teus amigos querem partilhar!
Ultrapassados tantos desenganos,
Vamos rir e folgar, dia após dia,
Porque eu adoro ver-te gargalhar…

Nossas velhices sejam juventude,
Tentando minorar a solidão,
Pois esta é osso, duro de roer!
E dos que andam por cá, quem não se ilude?
É mais fácil a vida, dando a mão:
Antecipa o conforto, no morrer…

É passo que ninguém evitará;
Nascemos todos com a mesma sina,
Eis o mais certo, em hora tão incerta!
Tal pensamento aqui não caberá.
Sorri à vida, pois, minha menina,
Para não ser inútil esta oferta…

Desculpa ser tão longo; é meu defeito.
Quis enviar-te um pouco de afeição;
Nunca o soube fazer pessoalmente!
Desnudei-me de todo o preconceito;
Sem reservas, abri-te o coração:
Soubeste o que eu sentia, estás contente?!...


 
Autor
FRANCISCO QUARTA
 
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