Se ao longo de tua vivência
- que ora imputas desgraçada-
mais uma vez perderes um amor,
refugia-te no silêncio de angustias íntimas,
sem que queiras espargir a tua dor.
Sofrimentos, que os taxa tão ingentes,
para outros podem parecer coisas ínfimas,
padecimentos de sobejo insignificantes.
Não sejas um esmoler de carinhos,
postado nas vielas de abandonados da ventura
mendigando alguns óbolos de comiseração.
Por que, em verdade, se tens expiações,
não tens o direito de invadir outra vida
apenas para tentar mitigar teu sofrer.
Não podes iludir quem demonstra carinho,
atenção, desinteressada solidariedade,
apenas para pensar tuas feridas e transes.
Não envolvas debalde na tua, outra vida!
Se tuas chagas latejam, são somente tuas.
Guarda, não as espalhe com maledicência,
somente a colher migalhas de comiseração,
tão somente para anestesiar teu sofrimento.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.