Emoldurada por gerânios floridos, pequenina é minha janela,
Mas dela, quase sempre só, ouço e vejo um grande mar,
O que sempre insiste nas coisas dela que me vêm contar.
- dela minha quase namorada –
Ela arisca vagueia de lá pra cá em vida doída e descalçada,
Por ora vivendo assustada, cultivando daninhas raízes em taça,
Amargando, inconformada, sua delicada e generosa graça
E queda chicoteada por palavras de ódio e boca na mordaça.
Fui muito tarde encontrá-la pelos tais caprichos do acaso,
Não muito tarde para um amansado coração de esteio,
Empenhado em rachar seu delgado coração ao meio,
Quebrar a sua taça de amarguras, lhe oferecendo liberdade em vaso.
Do mar apreendo estar ela sendo da lamentação um muro,
Estar sendo, das penas alheias frágil e fiel depositária,
Cobrada e reconvocada para incertos mergulhos no escuro,
Mergulhados nas tristezas causadas por um algoz, um pária.
Como maquis resiste guerreira na luta por sua decisão indecisa,
Reagindo ao debater-se nas mágoas de sua culpa imprecisa,
Mas sorri apenas nos intervalos das lágrimas que por atenção noto,
Quando também me ponho triste ao vê-la presa por controle remoto,
Como obedecida presa de seu passado tornado obscuro,
Enquanto eu me atrevo em querer entrar no seu futuro.
Hoje viver meu presente é estar vivendo o dela.
Por ora cultivo apenas aqueles novos gerânios da janela.
Maio/06