Adensam-se em mim as memórias de séculos passados. Pedaços, retalhos de vidas vividas na constante espera do regresso de teu corpo ao meu. Escrevo cada dia uma nova página, uma carta, um hino ao futuro da nossa vida. Hoje, abraçado por estas nuvens que em vagas se precipitam sobre mim, naufrágo na praia do passado, sufocado pela ausência de ti.
Embalam o corpo, ondas perdidas que morrem em meu peito. Vagueio, sem rumo no céu escuro, na Noite fria, pálido desejo de ser teu, fome, vontade de me deixar ficar para sempre em ti. A alma lateja em agonia crónica, o coração pulsa em ritmos altos, rasgando as veias que não comportam o fluxo das emoções.
Hoje sou escuridão, como a noite da minha essência, sou nuvem de tempestade que chora sobre o próprio corpo, lágrima salgada que adoça o oceano revolto. Sei-te, de diversas maneiras, em corpos diferentes, criança pura, mulher adulta, ou simplesmente pomba branca que rasga em duas a alma dum homem que te quer abraçar, num voar distante dos sonhos de sempre.
Deixo de estar, de ser, ou dizer, não escrevo, apenas fico, espero e escuto, sinto e aprendo que não posso ainda fazer-te minha, porque simplesmente não és de ninguém.