As mãos apenas se roçam. O ensaio de um aperto de mãos. O suor viscoso, do calor de janeiro.
Os pés de castanhola imóveis, o mormaço invadia os prédios e as pessoas.
Dia de feira, mas as cercanias da praça já rareavam às onze horas. Muito calor e pouco dinheiro.
Os dois homens entreolham-se e sentam num banco da praça. O homem alto, de olhos claros,cabelos lisos tingidos de preto, trajando calça jeans e camisa branca ,acendeu um cigarro e rompeu o silêncio.
— Vim da parte do doutor Altino. Um serviço pra você. Falaram que estavas aposentado, mas quem vive nesse pelejar não se aposenta, só descansa de vez em quando, não é?
Um sorriso do outro, nascido e findado nos cantos da boca. Tinha olhos verdes, pele curtida pelo sol e estatura mediana. Vestia calças de brim azul, botas de cano alto, camisa verde e um chapéu de couro .
—Doutor Altino tem cada uma. Como vai ele ? Muita criação ?
— Aquilo de sempre. Muito gado. Dinheiro que não acaba mais. Velho, sem filhos, cheio de inimigos . Cismado que só ele . Agora, está aperriado com um doutor advogado lá do Recife. Coisa de terra. O sujeito comia na mão dele, lá em Vila Bela. Voltou pro Recife, mas antes de ir,fez o maior furdunço, por causa da peãozada.Dizem que quer entrar pra política e ser prefeito.
O outro homem ficou calado . Cruzou os dedos das mãos, olhou o solo. Viu uma fileira de formigas enguiçando uma castanhola podre . Afastou a fruta com o pé direito e olhou satisfeito para o seu trabalho.Contemplou a cruz da igreja matriz,coçou a nuca . Puxou o chapéu sobre a testa.
Nenhuma palavra.
— Quer saber se você faz o serviço e por quanto.
— Dez mil. Cinco adiantados. Ele me conhece . Se quiser, manda junto com o retrato e o endereço do cabra .
— Está certo.
Levantaram – se. Outro tímido roçar de mãos. O homem alto entrou no Mercado Público.
Zé Nenéu voltou a sentar-se. Descansou o queixo nas mãos e voltou a contemplar as formigas.
Uma delas, carregava um grande pedaço de folha de castanhola.
Suspendeu a formiga com a folha .Adiantou – a quase meio metro á frente das outras .
— Como trabalhavam aquelas formigas, pensou.
andrealbuquerque