será que consegues entender que algo em mim passou a bater fora do seu ritmo, que por onde passo já não tenho pressa, que as noites deixaram de ser uma procura feroz, que as estrelas, agora conheço-as pelo nome, que naquilo que
vejo surgiram prioridades? será que percebes que mesmo acordado o meu mundo se enovela em sonhos e que a trama
da realidade coaduna com eles tornando mais leve o tempo? será que escutas a música que eu ouço quando o nosso olhar
se encontra no meio de uma conversa e de repente entre nós se faz o silêncio? ansioso por tocar nos teus cabelos os meus gestos denunciam as minhas intenções quando estou ao teu lado. será que desconfias que chegar a ti foi o mais difícil dos caminhos, o mais improvável dos acontecimentos, um lance
de dados que não aboliu o acaso? será que imaginas a extensão da minha fome quando te devoro com os olhos, a ânsia de tocar as tuas pétalas e nelas colher o perfume que fabricas? será que entendes, nas pistas que deixo, na
cadência da minha respiração, a inquietude a que me entrego, até nos menores actos, nos momentos mais
fugazes? mesmo que não vejas o óbvio, sigo assim, sem ruído, aprendendo-me um pouco mais a cada instante, surpreendendo-me, reciclando-me, recriando-me, reinventando-me, sem querer apressar as horas, sem precisar de nada além de que existas.