Prenderam meu coelhinho numa gaiola escura,
Sem luz e sem portas, sem escola, sem liberdade,
Sem comida, sem água e sem voz, sem memória.
Prenderam meu coelhinho num quarto maior,
Tinha lá outros coelhos, adultos, formados,
Também sem água, sem voz, ambiente úmido.
Falaram de conspiração, de coelhos sem direitos, continuariam sem direitos.
O Tio me disse: deixa esse coelho preso, só pra controle das massas,
Se soltar irá destruir suas cenouras, sua horta, comer seu milho.
E os homens fardados de garis, vigiavam o pobre coelhinho,
Penduraram o rapazinho de cabeça para baixo, arrancaram suas unhas.
Ele só queria luz, ver o sol, pisar na sua terra, comer sua cenoura.
O chefe dos coelhos fazia discursos, falava de esperança,
Falava do perigo que os coelhos mais novos traziam para o campo,
E foram tantas vidas não vividas, na busca da felicidade, da liberdade.
Mataram meu coelhinho, não sei como ele morreu, nem seu corpo vi,
Mais tarde, veio o sol, brilhou e iluminou a estrada do meu coelho,
Que mesmo sem vida, devolveram a ele a voz e uma casa iluminada.
José Veríssimo