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Pão da batalha

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
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Havia sombras nos escombros
gente com fardos sobre os ombros
sacos de cimento de 50 quilos
e dorsos cinzentos e arqueados

De súbito, uma tontura
um operário cai da altura
fica pendurado na grua
por um fio, vida bela e crua

Acidente previsível?
Não, rotulado de erro humano
aquilo que é evitável
o operário é julgado culpado

O obreiro é invisível?
Sim, dorme muito pouco,
pra pegar o trem suburbano
acorda bem cedo, o café é ralo

Horas a fio, incansável?
Não bastasse o trabalho pesado
Ainda com horas extras é seduzido
Ou melhor, é assediado, obrigado

É na construção civil:
onde há maior rotatividade
da mão de obra farta, de pouca idade
com baixas instrução e escolaridade

E José, Severino e Raimundo
o corpo cansado, a coluna doendo
não reclamam, hoje tem jogo do Flamengo
mas já não conseguem pagar o ingresso

O jeito é voltar pro rádio de pilha
Ou pra televisão sem cabo,
E torcer pra melhora do Antônio,
E amanhã seguir na luta pelo pão da batalha.
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AjAraujo, o poeta humanista, escrito sobre os acidentes de trabalho na construção civil, em 31-3-2014, homenageando mais uma vítima das obras dos estádios da Copa, dessa vez no Itaquerão - SP.
 
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AjAraujo
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