Uma das características do conhecimento humano e que faz o homem se sobressair entre os demais animais é a linguagem. Com o advento desse instrumento foi possível criar noções, categorias, estabelecer leis científicas e penetrar na essência dos problemas. Sem a linguagem o pensamento humano sequer existiria.
A divisão social e a estratificação das classes criam determinados “grupelhos” que desfrutam de regalias. Por deter um dito “saber social” determinado, historicamente tem um lugar privilegiado entre as classes, levando a uma óbvia exclusão da maioria em relação ao conhecimento humano - ciências e artes. Esse saber expressado pelo escrever correto e pelo falar escorreito, estabelece verdadeiras ilhas do conhecimento, tornando-se cada vez mais limitado à determinada área, diminuindo a visão no plano geral.
Dificilmente um individuo do grupelho erudito domina todos os jargões que proliferam, em decorrência do próprio desenvolvimento humano - os atuais economês, informatiquês, mediquês, juridiquês e por aí afora, sem contar o "saber jurídico" que é o que usa mais palavras inacessíveis. E tomem ilhas...
Existe uma ilha da medicina, situação não muito diferente na qual pacientes não entendem nada do que o médico disse. A par disso é flagrante o empobrecimento do conhecimento — se manifesta pelo encolhimento do universo vocabular utilizado pela população, não só os de menos conhecimento. Basta olhar em volta: , São Paulo Fashion Week, Discontinued models, Finale sale, Up to 40-80% off, Home delivery, Summer sale, Rent a car, Laundry, Aluga-se bachelor flat, For information please call, e por aí afora. E tome deletar, delivery, fast food, look, fashion e outros. E têm mais, Termos como "globalização", "flexibilidade", "governabilidade", "empregabilidade", "exclusão", "nova economia", "tolerância zero" estão em todas as bocas.
A poesia do luso não está numa ilha. E vem a pergunta: novos leitores advindos das redes sociais, com suas características de escrever vão se interessar pela linguagem vista? Ou seriam novos leitores dispensáveis por não terem o conhecimento na língua? Não digo que a linguagem ortodoxa deveria ser flexibilizada, até mesmo vulgarizada para ser mais ampla. Mas o mundo atual está exigindo novas formas de comunicação.