Ultimamente comecei a trumbicar: balanço pra frente e caio para trás. Hoje dei até uma giradinha na malemolência ; o distinto, sempre colado a mim, segurou-me pelo braço. Minha filha assistiu a cena e perguntou nervosa:
– O que foi? O que foi?
O distinto respondeu com desprezo:
– Ela deu pra isso, agora!
Resolveram que eu devia deitar (detesto!) e lá fiquei eu esticada em minha cama, pensando na vida. Minha filha, carinhosamente, sentou-se ao meu lado e perguntou
– O que está sentindo, mãinha? Está triste?
Daí eu, compungidamente, suspirei e afirmei:
– Estou pensando nas coisas que eu não tenho mais...
– Credo, mamãe!
– É sim! Depois que vim para Aracajú, não tenho mais (e comecei a contar nos dedos) – não tenho mais enxaqueca, não tenho mais falta de ar, não tenho mais dores reumáticas e não tenho mais que pintar os cabelos porque o distinto jura que eu estou linda de cabecinha branca e eu acredito nele – meu amor jamais mentiu e não há de ser agora que comecemos a nos enganar.
Tudo isto melhorou a vida. É uma delícia quando dançamos juntinhos ou, lembrando o velho swing, damos uns passinhos maneirosos.
– Mamãe! – disse minha filha, rubra, quase apoplética – quando você quiser dar um show completo, reúna a família toda, ouviu? Tremelique, bambeie pra todo mundo, porque, pra mim – CHEGA! – e saiu, batendo a porta.