Numa folha de parreira ácaros de chumbo
perguntam o preço da dúzia de laranjas.
Como garota trêmula do primeiro beijo,
névoas densas caem sobre as colinas,
lacerações surgem no por do sol.
O fogo rasteja sobre o terreno,
atravessando o riacho transparente,
fervendo em óleo de rícino
ante olhares cínicos dos ausentes.
Sombras circundantes quebram o ar,
a casa das sombras despenca das encostas
deslizando envoltas em ar pegajoso,
disparam alarmes que perfuram apitos
levando nacos e farrapos das nuvens
para dentro do teto de zinco.
Sempre será mais simples,
e também será sempre mais fácil
olhar o por do sol
com óculos escuros,
mesmo por que o cuco do relógio
nunca sabe dizer a hora certa,
apesar de cantar horas todo o dia.