Beijo cessado no separar dos lábios
faz-me abrir os olhos lentamente,
Não preciso ser o maior dos sábios
para descortinar este ambiente,
Nele, eu mal oiço a minha pulsação
abafada em baixas frequências,
Chegam sussurros na minha audição
e me deixam a mente em sequências,
Cá em baixo não contam aparências
pois tenho um filtro azul na visão,
Deixo cristalinas as indulgências
como ecos provocados pela ondulação,
Ela leva-me e eu deixo-me levar
como um homem morto sem futuro,
Sentindo que morrer e ressuscitar
será a única forma de chegar seguro,
Impotente, vejo o meu inútil gritar
ser abafado pelo silêncio do escuro,
Então fecho os olhos e tento escutar
o pulsação que tanto eu procuro,
Não existe muro muito menos porta
por isso eu entro em todo o lado,
Só com uma pista que me transporta
a um tesouro nunca antes encontrado,
Eu senti uma concha que me rasgou
a coxa como uma esgrima rectilínea,
E ao misturar com o azul do mar deixou
roxa a minha coagulação sanguínea,
E o mar levou as lágrimas que caíram
desamparadas dos meus olhos vermelhos,
E logo os meus medos sobressaíram
como se estivesse cercado de espelhos,
Esquecia o quanto doía pois não era
maior do que a dor de não te achar,
Eu já te via sem energia à espera
do meu oxigénio antes do teu acabar,
Seria a introdução para a sedução
do 'Beijo Francês' que já partilhei,
Julguei teres jogado o teu coração
para o fundo do mar e eu mergulhei,
Mas nele não te tenho e não te vejo
o que deixa disforme a minha planície,
E percebo que volto a ter o teu beijo
quando encontrares o meu à superfície.