Eu sou a fonte
que em riacho límpido se transforma,
águas corredias que se vão
matando a sede da terra.
Tu és como a corça tímida,
que gentil se aproxima
e molha os lábios nas águas
para aplacar tua sede de carinhos.
Eu sou o tronco vetusto
da árvore teimoso ainda em riste
aguardando mais um outono
resistir aos vendavais
para poder apoiar teu corpo
se um dia precisares de arrimo.
És a flor,
juventude que canta nas campinas
extasiando meu olhar,
És o colibri
que esvoaçando dança e vai,
encantando as manhãs
das primaveras da tua vida tão bela.
Tua sina é seguir pela vida,
apartada de todos os labéus,
desfrutando dos triunfos
que o destino haverá de te dar.
E eu estarei aqui,
riacho a correr pela colina,
sempre fresca água cristalina
para aplacar a tua sede,
hei de resistir às procelas,
sempre ser um tronco ereto e firme
para te dar apoio,
mas por dentro chorando
por não poder seguir teus passos.
Por que, um dia,
irás para longe de meus braços,
um dia vais partir
e eu vou ficar pelo caminho,
como um tronco seco ainda em pé.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.