Dia de vento frio,
a luz da manhã tem calafrio,
tiritando numa caixa de fósforos.
O céu está em esplendor,
tremendo com a brisa,
arruma-se numa mantilha rendada,
de cor indefinida.
Toda cena observada
pelo olhar perspicaz
do casal de pombas
arrulhando despreocupadas
na entrada do sótão.
Dia de vento no caminho
estrada que conduz ao rio,
escoltando paralelepípedos
água abaixo rumo ao mar,
despencando do penhasco
até a baia segura
que abriga fragatas e corvetas.
Paralelepípedos confundem-se à lágrimas
vertidas pela velas tingidas
no tom das cochonilhas
estalando madeira dos mastros altaneiros,
e onde rebocadores e barcos
lançam âncoras para o jantar.
Deste meu mundo,
do ponto em que me encontro,
apenas usando uma luneta
posso ver o rio,
as lágrimas vertidas,
as gaivotas e fragatas
pairando no céu azul.
O vento que sobra do mar aberto,
a fumaça do óleo diesel de motores,
velas vermelhas envelhecidas
como seculares toneis de carvalho,
meu olhar embevecido
em direção aos barcos, neblina e vento.
Tudo o que vi poderia ser visto
também por um marinheiro,
depois da ração de rum
deitada na caneca de estanho,
depois do estalo da língua
sorvendo o líquido dourado.