No vai e vem do porto
famílias carregadas de bagagens
crianças de todas as idades
choram assustadas, nesse frenesi
desvairado, de gente, carregadores
suados, num vai e vem,
de gente com criança e animais engaiolados
Sobem a bordo apressados
é preciso escolher os melhores lugares
para amontoarem as bagagens
e deixarem espaços para as redes, atarem
conseguirem um minimo para ficarem
bem acomodados para a viagem
A travessia da Baia
Cada rede estendida
a fronteira de cada família
é apenas alguns centímetros
das varandas das redes
É como uma trama de fios muito grossos
que vão enchendo o lugar
como se fosse uma grande teia
tecida por uma aranha enorme imaginária
que trança com fios coloridos
e as pessoas que circulam ao redor
são como crias e que em breve irão tecer em outro lugar
No balanço do mar, agitado
por uma mão que não se vê
e ao apito estridente que avisa:
Hora de partir!
Há um burburinho no ar
pessoas que se buscam
que procuram as famílias reunir em torno de si
No canto ritmado do motor
o cais fica pra trás
e abre caminho nas águas
e provocando ondulações e ondas
e o rastro são espumas brancas
que são produzidas pelo sal
Há bancos nas laterais do barco
onde alguns se assentam e ficam
a olhar o que ficou pra trás
a cidade se distanciando
e o peito cheio de saudades
e um alento na esperança de um novo amanhã
Há incertezas, com certeza em muitos corações
Há esperança após muitos dias da travessia
que acalma a ansiedade da nova vida na cidade
um futuro promissor, onde sol a sol
há de ser lutado, e com certeza alcançado
Pois a vida é assim
Uma travessias sem fim
em uma busca inconstante
sejam no mar, sejam nos rios, ou em
estradas de chão
sempre terão pessoas buscando
novos horizontes, e novos sonhos realizar
Fadinha de Luz
Maria de Fatima Melo (Fadinha de Luz)