Talvez dancemos um dia ao som de tímpanos profanos,
acompanhadas pelo ritmo de citaras e sautérios insanos,
e o som único de inconfundível bandolim barroco
tangido por bardo trovador, insone e meio louco.
Ainda mil menestréis medievais com alegres alaúdes,
elevando a musica suave aos capitéis da nave central,
espalhando sorridentes sons por todo aquele salão real,
agora repleto de gentis damas a lançarem sorrisos amiúdes.
Então, serei Lancelot do Lago, garboso na armadura brilhante,
de remotas terras guerreiro conquistador e triunfante,
mas que se queda ledo a procura do olhar intenso e profundo,
de uma doce Guinevere de vestes vermelhas, esvoaçantes,
mostrando sua real figura iluminada à luz do luar ao fundo,
extasiando com sua presença todos seus cavaleiros galantes.
Num andar cuidadoso irrompe no grande salão brilhante,
passando pelos casais extasiados, dançando alucinantes,
todos assim sorridentes, exibindo vestes tão elegantes.
Cauteloso em seu andar, saudando os pares dançantes,
percorre com o olhar todo o átrio em procura tão incerta,
até deparar-se com a linda dama de vermelho coberta,
sentada em seu trono distraída, mas com olhar penetrante,
talvez se recordando de sua Lionese querida e tão distante.
Ferido pelo dardos lançados pelo olhar da dama tão instigante,
de imediato como hipnotizado por aquela imagem marcante,
convida-a para dançar com um galanteio ousado e insinuante:
- És a única que já vi de tão nobre porte e belo semblante.
Sublime e gentil, ela sorri, com a cabeça então agradece,
e os lindos olhos marcantes para o chão então desce,
mas já com um tremor no corpo o rubor mescla ao carmim
das meigas faces rosadas às vestes de esvoaçante cetim.
A resposta é um doce e longo sorriso, a gentil mão estendida,
quedando-se altiva, mas firme, esperando ser conduzida,
e tomando-a pela mão, num átimo estão no salão entre os casais,
dançando alegres, mais um belo par ao som daqueles madrigais.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.